Ambiente pode trazer mais criatividade, energia e bem-estar; veja dez dicas
Colaboração para UOL VivaBem
12/11/2018 04h00
O ambiente em que você vive, estuda ou trabalha é capaz de interferir nas suas emoções, memória e comportamento? Sem dúvida. Além da funcionalidade e da estética, o conforto ambiental, que engloba o térmico, o visual e o acústico, entre outros, é determinante para a saúde e bem-estar das pessoas, tanto que há normas a serem cumpridas por arquitetos e engenheiros.
Mas a preocupação não para por aí. Hoje, arquitetos e psicólogos têm levado em conta temas como a humanização dos espaços. Ter privacidade e uma janela para descansar os olhos pode fazer toda a diferença para a recuperação de um paciente internado, por exemplo, o que também é benéfico para o hospital.
Estudos ainda têm mostrado que o dimensionamento dos espaços e o uso de luzes, cores, formas podem melhorar o desempenho de alunos e professores em escolas, bem como evitar o esgotamento mental em escritórios e estimular consumidores a comprar mais ou apreciar melhor determinado sabor. Será que esses truques podem te ajudar a ter mais concentração, criatividade ou disposição? Ô, se dá. Mas tem um problema: não existe receita de bolo. Para cada objetivo, existe uma estratégia.
“Algumas pessoas podem render mais em determinados ambientes do que outras, mas não temos como preparar um ambiente comum pensando no indivíduo”, observa Inês Cozzo, consultora e especialista em processos de neuroaprendizagem e neurobusiness. Tem sempre alguém que não tolera o ar condicionado, muito menos trabalhar com música, e há o oposto. Ainda que cada pessoa tenha características e funções diferentes, há alguns princípios fundamentais que todo mundo deve levar em conta:
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Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Priorize ao máximo a luz natural
"Sabemos que em países em que os dias ficam mais curtos no inverno as pessoas têm mais fome, sono e depressão sazonal", comenta o psiquiatra Pedro do Prado Lima, do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer). Além de melhorar o ânimo, a luz natural interfere na produtividade e até no relacionamento com os outros, ressalta a arquiteta Andréa de Paiva, professora de NeuroArquitetura (disciplina que estuda como o cérebro reage aos ambientes) e consultora na Fundação Getúlio Vargas (FGV). O pesquisador John Eberhard, fundador da Academia de Neurociência para Arquitetura, cita estudos sobre como a instalação de janelas amplas em escolas trouxe benefícios para o aprendizado e convivência social das crianças. Não existe razão para que adultos não tenham os mesmos benefícios.
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Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem É preciso ler sem esforço
Priscilla Bencke, especialista em projetos para ambientes de trabalho, também ressalta os benefícios da luz natural, mas lembra que, em ambientes com janelas grandes, é preciso tomar cuidado para que a claridade não prejudique a visibilidade dos monitores. Forçar a vista, tanto pela deficiência quanto pelo excesso de luz, só vai resultar em irritação e dor de cabeça.
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Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Cuidados com a luz artificial
Outra questão que deve ser levada em conta é que, para quem trabalha à noite, a luz artificial é essencial. Porém, é preciso tomar cuidado para que a exposição exagerada à luz azul emitida por computadores, tablets e smartphones não acabe com a qualidade do sono, o que não vai ser bom para a produtividade.
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Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Luz branca para ter atenção
A luz branca afasta o sono e estimula a atenção, por isso é muito utilizada em escritórios, salas de aula e de cirurgia. O problema é que passar o dia inteiro embaixo desse tipo de lâmpada gera um estado de tensão permanente, o que pode ter um saldo negativo no fim do dia. O acesso à luz natural, sempre que possível, evita essa overdose. Porém, se você é médico ou trabalha em um shopping center, por exemplo, deve aproveitar a hora do almoço ou as pausas no trabalho para dar uma volta ao ar livre. Bencke conta que existem até estudos para avaliar o uso de lâmpadas com tonalidades diferentes ao longo do dia, a fim de recriar um ambiente mais natural para quem trabalha em locais sem janelas.
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Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Nem frio, nem calor
A temperatura do ar condicionado costuma ser motivo de briga no trabalho, porque cada pessoa tem sua própria percepção do que é ideal. Paiva lembra que questões fisiológicas têm impacto direto nas regiões mais instintivas do cérebro: assim como você não consegue se concentrar direito se estiver com fome ou vontade de ir ao banheiro, é difícil trabalhar com frio ou calor. Em locais com muita gente, Andréa comenta que o importante é que exista uma estabilidade --se o ar é mais frio, as pessoas já sabem que devem levar um casaco. Se cada dia a temperatura estiver diferente, as pessoas ficarão irritadas. Evitar choques térmicos ao entrar e sair dos edifícios também é uma medida sensata, diz ela, mas por uma questão de saúde, mesmo.
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Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Ruído em ambientes coletivos
A ideia de que trabalhar em espaços abertos estimula a troca de ideias e integração entre as equipes fez tanto sucesso, que hoje é difícil encontrar um local de trabalho que não seja assim. Mas incontáveis estudos comprovam que o ruído nesses locais e a constante interrupção dos colegas acaba com a concentração e interfere até na capacidade de fazer contas simples. Um estudo feito pelos psicólogos Gary Evans e Dana Johnson, da Universidade de Cornell, e publicado no Journal of Applied Psychology, comprovou que apenas três horas num espaço como esse faz as pessoas se mexerem mais na cadeira, terem menos motivação e criatividade e ainda liberarem mais adrenalina, o que, a longo prazo, traz prejuízos à saúde física e mental. As arquitetas dizem que fones ou protetores de ouvido podem ser úteis. Ou disponibilizar salas pequenas para situações que exigem silêncio e atenção.
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Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Use as cores com sabedoria
A escolha de uma cor na hora de decorar um ambiente tem muito a ver com preferências pessoais, culturais, ou, no caso das empresas, de identidade visual. Por isso, de novo, é difícil ditar regras. Mas estudos têm mostrado que, em geral, cores quentes tendem a ser mais excitantes, enquanto as frias, mais relaxantes. O vermelho, uma cor quente, desperta a atenção e até aumenta os batimentos cardíacos, mas em exagero vai tornar o ambiente insuportável. ?Pode ser interessante ter alguns detalhes nessa cor numa sala de reuniões, por exemplo, para que as pessoas fiquem menos tempo?, sugere Andréa. Em geral, verde e azul claro são cores que geram conforto e podem estimular a criatividade, mas relaxamento demais pode não ser o que você precisa. Saiba, ainda, que branco em excesso pode deixar um local com ausência de estímulos e desumanizado, tanto que hospitais têm mudado esse padrão. O cinza também é neutro demais, por isso deve ser usado com moderação.
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Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Milagre da natureza
Cidades grandes são algo muito recente na história do ser humano, e nosso cérebro ainda não se adaptou à vida na selva de pedra. Por isso, a biofilia, ou seja, amor à natureza, é algo instintivo em nós. "Um estudo feito pela Human Spaces, uma instituição inglesa, comprovou que quem trabalha na presença de elementos naturais tem 15% mais bem-estar e criatividade, e 6% mais produtividade", afirma Bencke. Quando fez seu mestrado em neuroarquitetura na Europa, Paiva conta que conheceu uma indústria automobilística que chegou a instalar um oásis no meio da linha de produção, com base nesse conceito. A professora acrescenta que as partes mais primitivas do cérebro, que reagem de forma positiva à natureza, são facilmente enganáveis, por isso até vasos de plantas, pisos de madeira ou carpetes que imitam grama podem aliviar o estresse.
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Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Até a altura do teto importa
Ninguém gosta de ficar em espaços confinados --também não fomos programados para isso. Quem trabalha em salas muito pequenas vai sempre querer sair para tomar um café, o que não é muito produtivo. Resolvido esse aspecto, o chamado pé direito (altura do teto) pode ser ajustado de acordo com o objetivo do ambiente. Um estudo realizado feito nas universidades de Minnesota, nos EUA, e de British Columbia, no Canadá, sugere que espaços altos e amplos evocam uma sensação de liberdade, o que pode ser benéfico para a criatividade. Mas se a ideia é fazer as pessoas darem mais atenção a detalhes, é melhor que o teto seja um pouco mais baixo. Você já viu como é fácil se distrair num hipermercado?
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Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Arrumar a bagunça ajuda
De acordo com a neuroarquitetura, excesso de informação num ambiente de trabalho pode atrapalhar a performance. "É importante que o espaço tenha identidade, mas não bagunça", opina Andréa. Ou seja: porta-retratos e enfeites favorecem a conexão com o espaço, mas é importante que tudo esteja em ordem. "Quando você chega num lugar e vê harmonia e limpeza, isso gera clareza mental. Até um desktop cheio de arquivos pode ter um impacto negativo", acredita Priscilla. A consultora Inês Cozzo observa que uma mesa desorganizada nada mais é que o reflexo de uma mente que também está bagunçada, e não consegue concluir o que se propôs a fazer.