Como o cheiro do escritório pode melhorar (ou atrapalhar) seu desempenho
Do cheiro do ar condicionado ao produto de limpeza usado no piso, os odores que circulam pelo escritório podem influenciar o trabalho dos funcionários. "Cheiros remetem a memórias, que trazem emoções e que irão influenciar comportamentos", resume o pesquisador da área de neurociência e perfumaria, Orpheu Bittencourt Cairolli.
O motivo é que, entre os cinco sentidos, o olfato é o que se conecta mais diretamente às amigdalas, hipotálamo e hipocampo —estruturas cerebrais que constituem o sistema límbico. "Entre o nervo olfatório e o hipocampo há três sinapses (zonas de contato entre uma terminação nervosa e outro neurônio), o que é considerado pouco", exemplifica Mirella Gualtieri, neurocientista e professora do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo).
O hipocampo é a área do cérebro que funciona como um centro de memórias. "A memória de curto prazo chega lá e passa por um processo de consolidação. Se virar de longo prazo, caminha para o córtex cerebral. Ou seja, a transferência também é responsabilidade do hipocampo", descreve a especialista.
Tal proximidade do olfato com essa região cerebral é a razão pela qual o cheiro de um bolo de chocolate assando pode remeter, imediatamente, a sua infância. É o chamado Efeito Proust - referência ao livro "Em busca do tempo perdido", do escritor francês. Lá, o narrador confessa se lembrar da sua tia ao se deparar com uma madalena molhada no chá.
"Basicamente, algo aconteceu uma vez na vida e décadas se passam. Porém, ao sentir esse determinado aroma novamente, a lembrança volta inteira", ilustra Gualtieri.
Bom ou repulsivo?
Em uma aula na universidade, Cairolli apresentou para seus alunos um aroma que continha lírio. A maioria dos estudantes aprovou a fragrância, mas uma aluna começou a chorar. "Ela justificou que era o cheiro do enterro da mãe dela", conta. A passagem exemplifica uma questão importante: gostar ou desgostar de um odor vai depender da história de vida - ou da memória - de cada um.
"Ainda que as estatísticas mostrem que a tendência é a grande maioria reagir de uma determinada forma a um aroma, nunca será unanimidade", adverte Cairolli. Em artigo de 2002 para a Scientific American, a neurocientista e referência na área, Rachel Sarah Herz, explicou que os odores afetam uma pessoa pelo chamado "aprendizado associativo".
"Os odores afetam o humor, o desempenho e o comportamento das pessoas de várias maneiras. Mas, para que provoquem qualquer tipo de resposta, deve-se primeiro aprender a associá-lo a algum evento anterior", esclarece. Gualtieri concorda. "Não é necessariamente lavanda que pode ajudar a combater o estresse. Sua fragrância é geralmente associada ao sabonete, ao banho e, consequentemente, a um contexto relaxante. Ou seja, depende de como o indivíduo lida com o cheiro", assinala.
Cairolli ensina que alguns eixos podem ajudar a entender o impacto dos aromas. "Se o cheiro for estimulante e prazeroso, pode trazer alegria. Quando estimulante e desprazeroso, provoca irritação", orienta. "Já quando a fragrância é relaxante e prazerosa, costuma acalmar. Se relaxante e desprazerosa, pode deprimir", finaliza.
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Cheirinho de café e produtividade
Em uma pesquisa de 2018 da Escola de Negócios do Instituto Stevens de Tecnologia (Estados Unidos), um primeiro grupo foi submetido a uma substância inodora e o segundo a um aroma semelhante a café, mas sem cafeína. A última turma teve um desempenho melhor em uma tarefa de raciocínio lógico. "Talvez não seja exatamente o cheiro do café que faça um trabalhador ficar mais atento, mas o fato da bebida ser associada ao despertar pela maioria das pessoas", contextualiza Mirella Gualtieri.
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O cheiro da cooperação
Biscoitos assados e café torrado. Essas foram as fragrâncias que estimularam os visitantes de um shopping a ajudarem desconhecidos em tarefas simples, como trocar um dólar para um desconhecido ou recolher uma caneta que caiu do chão. "A ajuda foi significativamente maior na presença de fragrâncias agradáveis do que na ausência", conclui os pesquisadores do Instituto Politécnico Rensselae (Estados Unidos).
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Estado de alerta
William Dember and Joel Warm eram pesquisadores da Universidade de Cincinnati (Estados Unidos) que testaram aromas de hortelã e lírio-do-vale em voluntários submetidos a tarefas monótonas no computador. O grupo apresentou 25% de erros comparados a quem não foi submetido a qualquer fragrância. Já em outro estudo da Universidade Northeastern (Estados Unidos), motoristas se mostraram mais atento ao volante após serem expostos aos aromas de hortelã e canela.
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Estresse e ansiedade
Pacientes em tratamento contra o câncer apresentavam certo estresse quando submetidos a exames de ressonância magnética. Pesquisadores do Sloan-Kettering Cancer Center (Estados Unidos) testaram um perfume de baunilha antes de alguns deles entrarem nas máquinas. Segundo os autores, aqueles que classificaram o perfume como "agradável" relataram queda de até 65% nos níveis de ansiedade.
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Solução criativa
Segundo a neurocientista Rachel Sarah Herz, odores influenciam o humor, que impacta na forma de pensar e se comportar. "Quando as pessoas eram expostas a um odor agradável, gostavam mais de resolver problemas criativamente do que quando eram expostas a outro desagradável", descreveu em seu artigo para a Scientific American.
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