Está tendo um dia difícil? Como não deixar as emoções atrapalharem você
Você pode até ter acordado com o pé direito. Mas eis que, de repente, recebe um feedback negativo, lê uma notícia trágica ou se depara com um comentário infeliz na sua rede social e sua concentração e até mesmo o sono podem ir para as cucuias.
Reações emocionais são capazes de drenar nosso foco e energia e isso acontece por uma razão fisiológica. O psicólogo Gustavo Ramos Silva, integrante do grupo de pesquisa sobre cognição, emoção e comportamento da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), explica que quando estamos em situações complicadas, nossas funções executivas entram em ação. Elas ajudam a identificar, por exemplo, que estamos com raiva de nosso colega e a inibir uma agressão dirigida a ele. "É natural que sintamos um desgaste quando usamos demasiadamente essas funções superiores, que exigem mais energia do nosso processamento psicológico do que processos mais automáticos", justifica.
Sempre que nos sentimos ameaçados de alguma forma, ficamos ansiosos e ativamos respostas neurofisiológicas, hormonais e psicológicas --o famigerado estresse. “Apesar de essas respostas serem importantes, sua ativação repetida pode gerar manifestações como o cansaço físico e psicológico, queixas de memória e atenção, além de estar na base para a compreensão da etiologia de inúmeras doenças mentais”, comenta Danielle da Costa, professora da Escola de Medicina da PUCRS e pesquisadora do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (Inscer).
Evitar eventos estressantes é impossível, mas dá para lidar de uma forma mais saudável com esses obstáculos. Veja sugestões:
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Saiba que o negativo prevalece
"As pessoas costumam achar que nosso cérebro é neutro, mas a verdade é que somos nove vezes mais sensíveis a notícias negativas que positivas", revela a neuropsicóloga e coach alemã Friederike Fabritius, autora do site www.fabulous-brain.com. Experimentos realizados pelo pesquisador John Cacioppo, hoje da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, já comprovaram esse "viés negativo": ele analisou a atividade cerebral de indivíduos expostos a imagens de elementos que são fonte de prazer (como um pedaço de pizza), de sensações ruins (rostos mutilados, por exemplo) ou neutras. A resposta foi bem mais forte diante das fotos desagradáveis, confirmaram os resultados publicados no Journal of Personality and Social Psychology. Ter essa consciência é o primeiro passo para encarar o embrulho no estômago que essas informações proporcionam.
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Dê nome aos bois
Tentar varrer as emoções negativas para debaixo do tapete não resolve. "Estudos mostram que o simples fato de nomear já ajuda a regular uma emoção", diz o psicólogo Esequias Caetano, especialista em terapia comportamental que atua em Minas Gerais. Em um experimento com pacientes com fobia de aranha, na Universidade da Califórnia, foi pedido que parte dos participantes expostos ao animal seguissem três instruções diferentes: verbalizar o medo e a ansiedade, tentar pensar no bicho de uma forma menos ameaçadora ou tentar se distrair com outros pensamentos. Na segunda sessão, o primeiro grupo foi o que reagiu de forma mais equilibrada diante das aranhas, segundo relatado no periódico Psychological Science. Vale considerar que certas pessoas têm dificuldade em traduzir emoções em palavras, portanto peça ajuda a alguém, se for o seu caso.
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Escrever para se distanciar
A tendência a ruminar pensamentos é um dos principais vilões da concentração, do sono e da saúde mental. Uma das formas consagradas de lidar com essa armadilha é colocar tudo no papel, a metacognição. O chamado registro de pensamentos disfuncionais (RPD) é um exemplo de estratégia, adotada pelos especialistas em terapia cognitivo-comportamental. A tarefa começa com um simples diário das sensações desagradáveis, que depois evolui para o questionamento das conclusões e atitudes tomadas a partir delas. Esse exercício ajuda a reinterpretar eventos, identificar distorções e padrões emocionais, o que resulta em respostas mais adequadas às situações, de acordo com o psicólogo. O especialista acrescenta que, segundo estudos, técnicas terapêuticas de estímulo à metacognição afetam a ativação das redes neurais envolvidas na regulação emocional. Ou seja: terapia muda o cérebro. Mas você pode escrever sobre suas emoções mesmo sem ter um terapeuta.
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Reescreva a sua história
O psicólogo norte-americano Timothy Wilson, autor de "Redirect: The Surprising New Science of Psychological Change" (sem tradução no Brasil), é o criador de um conceito que vai além da escrita --o chamado "Story Editing" (algo como "editar a própria história"). Ele recomenda que as pessoas escrevam sobre eventos dolorosos, se possível na terceira pessoa, pois o exercício ajuda a dar significado para o que aconteceu. Em certos casos, a pessoa vai precisar de alguma interferência externa que redirecione a descrição para algo mais positivo.
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Tome atitudes para mudar sua autoimagem
Outra abordagem, segundo Wilson, é agir de fora para dentro: tomar alguma atitude que modifique a própria história e a visão de si mesmo. Quem dá um passo para ajudar alguém, por exemplo, passa a se ver como uma pessoa generosa. Isso vai servir de incentivo para fazer algo bacana de novo e, voilà, a história foi redefinida. O preceito do "faça o bem, seja bom" chegou a ser testado em jovens de risco de uma comunidade. O resultado? A taxa de gravidez na adolescência diminuiu entre as garotas que faziam serviço voluntário, bem como as notas delas na escola.
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Todo mundo tem problemas
O exercício mais importante é pensar nas próprias reações como alguém de fora, em perspectiva. Porque muitas vezes o problema não está só na gente --o sujeito que enviou uma mensagem mal-educada para você podia estar num dia ruim. "Se algo me deixa congelado eu posso 'navegar a emoção', ou seja, redirecioná-la", ensina a master coach Fernanda Chaud, "partner" oficial da Sociedade Brasileira de Coaching. "Em vez de falar mal do chefe, é melhor pensar que ele está fazendo o que pode", ilustra.
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Cultive emoções boas
Como muitos coaches e adeptos da "psicologia positiva", cunhada pelo psicólogo americano Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia, nutrir emoções boas, como a gratidão, funciona como escudo contra aquelas que tiram o seu sono. Ele comprovou que pessoas que sempre listam ao menos três coisas boas que aconteceram no dia são mais felizes e saudáveis.
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