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Turbine seu cérebro

Dicas para usar melhor a sua mente


Turbine seu cérebro

Não se iluda, você só consegue fazer uma coisa de cada vez

Denis Freitas/VivaBem
Imagem: Denis Freitas/VivaBem

Colaboração para o VivaBem

01/10/2018 04h00

Tempo é um bem escasso e precioso, por isso todo desperdício soa como heresia. Ninguém mais consegue fazer uma refeição sozinho sem aproveitar para ler as notícias ou pegar uma fila sem checar o que os amigos estão fazendo nas redes sociais. Muita gente se gaba pela capacidade de “assobiar e chupar cana ao mesmo tempo”, ou seja, ser multitarefas. Mas, afinal, será que dá, mesmo, para fazer mais de uma coisa simultaneamente?

Segundo especialistas, até dá, mas a esmagadora maioria das pessoas perde com isso. E até arrisca a própria vida. Se você quer fazer melhor, ser mais criativo e sofrer menos estresse, é melhor voltar ao século passado e se concentrar em uma tarefa por vez. Pelo menos em algumas partes do dia. Entenda por quê:

  • Denis Freitas/VivaBem

    "Multitarefas" é só jeito de falar

    Em primeiro lugar, é bom esclarecer que ser multitarefas, expressão gerada a partir do verbo inglês "multitask", é humanamente impossível. O que acontece, na realidade, é que nossa atenção se alterna entre uma coisa e outra, e isso acontece tão rápido que você tem a sensação de estar com um olho no gato e outro na frigideira. É como usar o computador ou o celular: você pode abrir várias abas ou aplicativos, mas só consegue navegar em um de cada vez. Esse malabarismo exige energia extra, e você vai se cansar mais rápido. Além disso, a qualidade da tarefa fica comprometida. "É preciso ter consciência de que fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo envolve um custo", explica o neurocientista Augusto Buchweitz, pesquisador do Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (InsCer/PUCRS).

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    Dividir a atenção é arriscado

    Buschweitz cita um estudo feito por cientistas da Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, que registraram a atividade cerebral de indivíduos num simulador de automóvel, enquanto eles tinham que prestar atenção em uma série de sentenças e dizer se eram verdadeiras ou falsas. Os resultados, publicados no periódico Brain Research, foram categóricos: a ativação associada ao ato de dirigir diminuía 37% enquanto os motoristas ouviam as informações. A conclusão você já sabe: dirigir e falar no celular ao mesmo tempo é perigoso. Outra pesquisa semelhante, de cientistas da Universidade de Utah, sugeriu que uma pequena parcela da população (2,5%, segundo o artigo na revista Psychonomic Bulletin & Review) até consegue fazer as duas coisas sem grandes prejuízos, talvez por um talento natural ou genético. Mas não tente reproduzir o experimento: se um imprevisto acontecer, como o motorista na sua frente se distrair e brecar de repente, é acidente na certa.

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    Você só pensa que sabe mais

    "É como abrir abas demais no computador: ele fica mais lento", define o psicólogo Cristiano Nabuco, que há anos estuda aos efeitos da tecnologia no comportamento das pessoas, e acaba de lançar um livro, nos Estados Unidos, sobre dependência digital em crianças e adolescentes (Internet Addiction in Children and Adolescents, Ed. Springer). Segundo ele, estudos mostram que, apesar de todo conhecimento que a internet tem permitido acessar em pouco tempo, os coeficientes de inteligência não estão mais altos, e o conhecimento obtido é raso, o que o escritor Nicholas Carr chama de "Geração Superficial", num livro lançado em 2010. Saiba que uma terceira pesquisa sobre multitarefas, também dos pesquisadores de Utah, constatou que 70% das pessoas acham que são boas em fazer várias coisas ao mesmo tempo, apesar de o privilégio ser para muito poucos. Para os cientistas, que apresentaram os resultados na revista Plos One, quem mais tenta dirigir enquanto fala no celular é justamente quem tem menos talento para isso: os impulsivos, que buscam emoções o tempo todo e se distraem com facilidade.

  • Denis Freitas/VivaBem

    Uma novidade por vez

    Alguns pesquisadores são menos pessimistas em relação a nossa capacidade de absorver dados, como o neurocientista Ivan Izquierdo, coordenador do Centro de Memória do InsCer/PUCRS e uma referência sobre o tema em toda a América Latina. Para ele, nossa memória de trabalho, responsável por armazenar as informações de curto prazo, não tem um tamanho único ou igual para todos. "Estudos nos EUA sugerem (ou até indicam) que nossa capacidade máxima de multitasking, para uma pessoa de boa inteligência, está longe de ser alcançada", diz. "É possível sempre exercitar nossa memória de trabalho; todos fazemos isso cada vez mais e melhor", acrescenta. Mesmo assim, ele sugere bom senso: "Sempre aprenda uma coisa nova de cada vez. Fique bom em uma atividade, praticando, e só depois inicie outra", recomenda.

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    Até gênios fazem esforço

    Como ensina Izquierdo, toda memória que foi bem treinada requer circuitos mais curtos, ou melhor, menos recursos para ser acessada e, como você já sabe, a performance da "máquina" pode melhorar com isso. Num estudo publicado em 2014 no periódico Frontiers in Human Neuroscience, pesquisadores da Universidade de Osaka, no Japão, mostraram que a atividade cerebral do craque Neymar era 10% menor que a de um jogador amador ao executar os mesmos tipos de dribles. Esse esforço menor, que é como estar no piloto-automático, traz uma vantagem competitiva em campo. Mas se você não obtém os resultados que deseja, envia e-mails com erros de digitação, vive cansado e gostaria de ter mais "tempo de qualidade" com a sua família, é bom se esforçar para manter o foco.

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    Afaste-se do smartphone

    Na hora de fazer algo que exige concentração, a dica é deixar o celular fora de alcance. Uma pesquisa da Universidade do Texas, com 800 pessoas, mostrou que até desligado e virado para baixo o smartphone foi capaz de prejudicar o desempenho dos participantes ao realizar uma série de tarefas no computador. O grupo que deixou o aparelho fora da sala antes de iniciar o teste foi o que se saiu melhor no experimento, descrito no Journal of the Association for Consumer Research. É óbvio que abrir uma aba para checar o que está acontecendo nas rede social também atrapalha. E saiba que deixar essas distrações para a hora das refeições pode não ser uma boa ideia se você precisa controlar o que come para perder peso

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