Para melhorar suas prioridades, cérebro precisa ser um pouco "enganado"
O trabalho está ali esperando ser terminado, e você vai tomar mais um café, olhar as redes sociais ou decidir a sua lista de compras no mercado. O relógio, sem piedade, indica que muito tempo passou e você será obrigado a ultrapassar o horário regulamentar para terminar a tarefa do dia.
Por que temos tanta dificuldade em estabelecer prioridades de maneira racional?
Parte da resposta está no nosso sistema de tomada de decisão. Decidir fazer uma tarefa é um ato voluntário, mas sua realização depende de fatores involuntários como transformações neuroquímicas que agem na cognição. A liberação de transmissores como a dopamina é um deles, explica Thiago Paiva Fernandes, doutorando do programa de Neurociência Cognitiva e Comportamento da UFPB (Universidade Federal da Paraíba).
A dopamina é um produto químico produzido pelo cérebro e desempenha um papel motivador. Ela é liberada quando comemos uma boa refeição, quando fazemos exercício, sexo ou quando terminamos uma tarefa. É como o cérebro soltasse uma droga que nos dá prazer para recompensar o esforço e nos motivas a repeti-los.
"Às vezes a motivação para algumas atividades que parecem trazer mais prazer —mas não trazem — faz com que passemos a voluntariamente trocar as prioridades", comenta o pesquisador da UFPB
Ou seja, apesar de racionalmente saber que sua prioridade deveria ser X ou Y, seu cérebro busca prazer momentâneo e decide, por exemplo, assistir mais um episódio da série em vez de dormir mais cedo e ter um sono revigorante.
"Existe uma autossabotagem do indivíduo. A gente é muito ruim em tomar boas decisões para nós mesmos, mesmo sabendo quais são elas", diz Patrícia Bado, pesquisadora do Instituto D'Or e pós-doutoranda da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). "Chamamos isso de dificuldade em atrasar gratificações ou preferência por recompensas imediatas."
Essa preferência por gratificações imediatas pode ser relacionado com as 3 horas e 45 minutos gastas por dia pelo brasileiro em redes sociais, segundo dados da Global Web Index.
A cada curtida nas redes sociais, você recebe uma injeção de dopamina que provoca sensação de bem-estar, e, segundo um dos fundadores do Facebook, Sean Parker, o botão de curtida foi criado exatamente com esta intenção.
Se o Facebook consegue usar seu cérebro, você também pode criar uma situação mais propícia para determinar suas prioridades e segui-las —vale, de vez em quando, dar uma "enganada" no cérebro para melhorar o resultado final.
Táticas para melhorar suas prioridades
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Dedique um tempo para organizar sua lista de tarefas ou de objetivos
Sim, o check-list ajuda. Dedicar um tempo para criar a relação de tarefas do que é preciso ser feito naquele dia ou do que você tem como objetivos e determinar um cronograma para cada meta é uma boa ferramenta. O processo de fazer a relação e encontrar tempo para cada tarefa promove a reflexão sobre sua importância, o tempo necessário para realizar a tarefa e a razão dela. A lista faz parte do processo de decisão para determinar prioridade. Ela também cria motivação para realizar as tarefas e proporciona uma sensação de prazer conforme os itens forem sendo cumpridos.
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Seja realista
Essa lógica, no entanto, só vale se a lista for possível de ser cumprida. Uma longa relação de itens que nunca chega ao fim e em que coisas triviais, como comprar sabonete, estão misturadas com objetivos de longo prazo e pouco específicos-- escrever o relatório-- pode fazer você fugir para as tarefas fáceis e não se dedicar aos desafios. "A liberação de cortisol devido a um dia cansativo ou devido à alta ansiedade em ter que fazer uma tarefa pode ter mais a ver com punição do que com o reforçamento: 'não consegui fazer essa tarefa, vou desistir'. Por isso precisamos estar atentos aos nossos limites", destaca o pesquisador da UFPB.
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Crie prêmios para metas de curto prazo
Também não vale só criar objetivos de longo prazo. A meta de terminar a faculdade pode não ser o bastante para dar motivação para aquelas horas de estudo depois de um dia cansativo de trabalho. Neste caso, vale dividir os grandes objetivos em tarefas menores e mais específicas. Com mais recompensas no caminho e com "metas mais simples e mais objetivas, que possam ser alcançadas" fica mais fácil se motivar e aproveitar nossa preferência pela gratificação imediata, recomenda Bado, da UFRGS. Se isso não bastar, "talvez seja importante criar uma forma de 'enganar' o cérebro para criar esta motivação. Por exemplo: se eu chegar cansado e, ainda assim, conseguir ajeitar a casa, eu posso comer um chocolate a mais", exemplifica Fernandes.
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Defina qual a razão a longo termo de você estar fazendo isso
Ver sentido na tarefa é um fator chave para garantir que sua lista de prioridades seja seguida à risca na hora da execução. "De acordo com estudos recentes, o simples fato de estabelecer metas a longo prazo podem aumentar a liberação dopaminérgica e aumentar nossa motivação e consequente êxito", cita o pesquisador da UFPB. Então, na hora que está difícil ter foco e fazer o que é preciso, vale um café para repensar qual a razão para chegar ao fim daquela tarefa.
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Compartilhe com amigos suas conquistas
Sabe aquela possibilidade que aparece quando você está jogando algo ou no final da leitura de um livro digital: "compartilhe seu resultado com seus amigos"?. O objetivo é que você tenha mais motivação para continuar a jogar ou para ler o próximo livro ao mostrar aos outros seus resultados. Isso vale no mundo virtual exatamente porque funciona no mundo real. "O fator social de ter seu esforço reconhecido por amigos, por exemplo, pode ser um reforçador (positivo ou negativo)", indica Fernandes, da UFPB. Contar aos amigos ou à família como foi seu dia, o que conseguiu fazer, quais eram as dificuldades e por que aquilo é importante para você serve como fator motivador, pode ajudar a encontrar novas opções para se desvencilhar de uma dificuldade, além de fortalecer os laços sociais.
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