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Dicas para usar melhor a sua mente


Turbine seu cérebro

Por que somos tão resistentes a mudar? Veja como sair dessa

Denis Freitas/UOL
Imagem: Denis Freitas/UOL

Colaboração para o VivaBem

27/01/2020 04h00

Você conhece alguém que repete sempre os mesmos padrões de pensamento ou de conduta? Provavelmente sim e, talvez até você mesmo seja uma pessoa assim. Mas, por que isso acontece? Para a neuropsicologia, especialidade que une as áreas da psicologia e da neurologia que estuda cérebro e fatores como comportamento e pensamento, a resistência a mudanças está relacionada a duas habilidades cognitivas: memória implícita e funções executivas.

"Um hábito é um tipo de memória muito consolidada sobre a qual nós temos menos consciência sobre, ou seja, executamos algo a partir de nosso 'piloto automático'", explica Rochele Paz Fonseca, psicóloga, especialista em neuropsicologia, professora titular do curso de Psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), coordenadora do Grupo Neuropsicologia Clínico-Experimental e Escolar (GNCE) da PUCRS e presidente da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia (SBNp). Quando agimos mecanicamente, não ocorrem as funções executivas (memória para duas ou mais tarefas ao mesmo tempo - memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva).

Essas funções complexas são realizadas no cérebro (várias conexões ou estradas mentais entre lobo pré-frontal e outras regiões cerebrais). Fonseca completa que quando precisamos fazer algo menos conhecido, com objetivos relativamente novos e complexos a serem atingidos —ou seja, quando somos convidados a sair de nosso "piloto automático", um hábito antigo (comer chocolate sempre depois do almoço e da janta) ou um pensamento mais automático antigo (não adianta estudar porque sempre vou mal na prova ou na avaliação da empresa) — tende a prevalecer o que está profundamente memorizado.

Crenças limitadas e limitantes

Segundo Wimer Bottura, psiquiatra, presidente da ABMP (Associação Brasileira de Medicina Psicossomática) e membro do grupo de professores da cadeira de Psicologia Médica da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), nossa resistência a mudanças vem de crenças que criamos ainda na infância. Essas crenças têm a função de nos proteger do sofrimento, de alguma dor. Frases do tipo 'daqui pra frente nunca mais vai ser assim', 'eu não quero mais', ou 'vai ser sempre dessa forma', são exemplos de regras que as pessoas criam, internalizam e, com o tempo, tornam-se inconscientes.

Esse tipo de desenvolvimento cerebral vai gerar uma coisa chamada retroalimentação: mesmo que não haja mais motivo para aquele comportamento, ele se repete. Essas crenças vão gerar outras duas coisas: a racionalização, que irá justificar as suas crenças, e o deslocamento, ou seja, ele desloca o problema para outra pessoa. Para o médico, essas racionalizações que as pessoas criam, são autoenganos e qualquer outra pessoa não acreditaria.

O que faz mudar de verdade é o sofrimento, a emoção sobre o sofrimento e a noção da consequência, de que determinado comportamento é destrutivo, por exemplo. Como esse indivíduo encontra mecanismos de autoconvencimento, ele não muda porque não enxerga a necessidade de mudar, não teve a noção da consequência do comportamento, e encontrou um bom mecanismo para convencer a si mesmo.

Mas mudar faz parte da vida. Conforme vamos envelhecendo, adquirindo novas experiências e vivências, nossa mente expande e a mudança é natural. Bottura diz que indivíduos com o emocional e o intelecto desenvolvidos ou com mais maturidade possuem vários olhares e enfoques para uma mesma situação. E como estar receptivo a mudanças? Veja essas quatro dicas e descubra novas formas de lidar com antigos hábitos.

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    Questione suas justificativas

    É comum quando repetimos padrões, encontrar desculpas ou justificativas para continuar esse padrão, por exemplo, culpar os outros pelos próprios erros ou justificar-se baseado em suas crenças que, muitas vezes, não fazem o menor sentido. Quando você não procura uma justificativa ou questiona as que você sempre acredita, permite ver outros lados da situação e mudar o padrão.

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    Encare suas emoções

    Geralmente na infância criamos crenças ou adquirimos as crenças dos adultos para nos defender do sofrimento e, com isso, bloqueamos emoções que nos permitem o aprendizado e desenvolvimento intelectual. Sentir as emoções nos permitem rever ideias, atitudes e facilita a mudança de padrões e a aceitação de ideias dos outros.

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    Mude de perspectiva

    Uma boa dica para não se fechar a ideia do outro --o que não significa que será melhor ou pior que a sua ideia -- é se colocar no lugar do outro e buscar olhar do mesmo ângulo e ponto de vista da pessoa que está transmitindo a ideia. Pode ser que este outro olhar te mostre argumentos que você não tinha pensado antes. Outra forma de fazer isso é quebrando a rotina: quando nos permitimos pequenas mudanças no nosso dia a dia, acabamos mudando um pensamento, de que a rotina tem de ser fixa. Isso acaba interferindo em outros pensamentos e ideias, nos deixando mais flexíveis. Uma dica da neuropsicóloga é que desde criança os pais estabeleçam uma organização com rotina aos filhos, pois é importante para terem modelo e referência de fora para dentro, mas também com flexibilizem, mudando às vezes, um pouco da rotina com novidades, abrindo pequenas exceções a algumas regras.

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    Identifique os gatilhos de suas ações

    Comportamentos e atitudes repetitivas são hábitos que criamos e sempre precedem de um gatilho. É como a pessoa que bebe sempre um café antes de acender um cigarro, sair para a rua depois do almoço para dar uma volta e comprar um doce, ou ainda, tomar uma taça de vinho depois de chegar do trabalho, tirar os sapatos e se sentar no sofá. Identificar os gatilhos de ações ou padrões de pensamentos que agimos é fator imprescindível para mudar algo que não agrada: você pode ir gradativamente mudar ideias, pensamentos ou os hábitos antigos, aos poucos e cada vez mais seguidamente: por exemplo, ir reduzindo uso de celular antes de dormir aos poucos até não usar mais.

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