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Turbine seu cérebro

Dicas para usar melhor a sua mente


Quer aprender mais rápido e não esquecer mais? Veja algumas dicas

Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem

Colaboração para o UOL VivaBem

25/02/2019 04h00

Todo mundo costuma dizer que as crianças são como "esponjas", pois aprendem com muita facilidade. Já com o passar dos anos, tudo fica mais difícil: o conteúdo que precisa ser assimilado torna-se mais complexo, ao mesmo tempo em que responsabilidades, preocupações e prazeres passam a atrapalhar a concentração. Como se não bastasse, nosso "hardware" sofre modificações conforme envelhecemos.

Mesmo com o ritmo de formação de novos neurônios reduzido na idade adulta, a capacidade que essas células têm de criar novas conexões e redes no cérebro permanece até os últimos anos de vida. Esse fenômeno, conhecido como neuroplasticidade, é observado até depois de traumas ou lesões que levam à morte de neurônios. Pelo mesmo motivo, hoje se sabe que a genética pode ter seu papel na facilidade para aprender isso ou aquilo, mas o ambiente importa muito para o aprendizado, segundo especialistas.

Roberta Bento, fundadora do SOS Educação, é um exemplo vivo dessas descobertas. Como foi diagnosticada com paralisia cerebral ao nascer, os médicos disseram que ela teria dificuldades de aprendizagem. "Mas meus pais decidiram focar no potencial e não na deficiência, e fui sempre a melhor da turma na escola", conta. Roberta se formou e se especializou em educação, foi buscar conhecimentos em neurociência para explicar sua própria história e hoje dá dicas para pais, alunos e professores em parceria com a filha, a pedagoga Taís Bento.

Aprender é algo que fazemos o tempo todo, por toda a vida, mas essa habilidade pode ser aprimorada sempre. A seguir você vai descobrir como e por quê:

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    Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem

    Varie os ambientes e sensações

    Ter um horário específico do dia ou da semana para estudar, bem como escolher um local iluminado e silencioso, são dicas que favorecem a construção de uma rotina de estudo para adultos e crianças. Porém, pesquisas sugerem que variar o ambiente de estudo, de vez em quando, faz bem. "Sem que a gente perceba, nosso cérebro absorve tudo o que está em volta e passa a relacionar algo ao que se quer aprender, como a luz do abajur, por exemplo. Mas, na prova, o objeto não vai estar lá", explica Taís Bento, do SOS Educação. A dica é estudar a mesma matéria em pelo menos três ambientes diferentes: um dia na sala; no outro, no quarto; e no terceiro, fora de casa. Especialistas em neurociência têm reiterado os benefícios das estratégias multissensoriais no aprendizado porque cada novo sentido utilizado demanda novas conexões entre os neurônios. Algumas escolas até tentam trabalhar com esse princípio: primeiro a matéria é ensinada oralmente, depois a mesma informação é abordada na aula de artes e, então, na educação física. Se você precisa fazer sua equipe assimilar melhor os passos de um projeto ou quer gravar bem uma aula na memória, experimente fazer desenhos, associar músicas, cores ou gestos que reforcem os tópicos.

  • Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem
    Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem

    Abuse de algumas técnicas

    Só de anotar o conteúdo de uma aula e organizá-lo em tópicos você já processa melhor a informação, por isso esse conselho nunca sai de moda. Fazer um resumo da leitura também. O neurologista infantil Felipe Kalil, pesquisador do Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (InsCer/PUCRS), dá outra dica valiosa: ensinar o conteúdo para um colega e pedir que ele faça o mesmo para você são outras estratégias que ajudam na consolidação do aprendizado. Afinal, você precisa compreender bem um assunto para conseguir explicá-lo a outra pessoa. E na hora de tentar compreender sozinho, abuse da mnemônica, o conjunto de técnicas para ajudar na memorização usadas desde a Grécia Antiga e que até hoje auxiliam muita gente. Você provavelmente utilizou algo desse tipo para decorar os elementos da tabela periódica, como uma rima ou uma música. Juntar conteúdos isolados no mesmo compartimento promove uma economia de energia na hora de acessar uma memória. Depois, é só imitar o que anunciantes fazem para você nunca esquecer de uma marca: repetir o jingle várias vezes ao dia, em diferentes mídias. Associar o que precisa ser decorado a imagens é outra estratégia mnemônica muito eficiente, pois é mais fácil gravar rostos ou paisagens do que palavras ou números. Você imagina um palácio (na verdade, é melhor que seja sua casa, que é bem conhecida) e visualiza cada item em um lugar diferente.

  • Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem
    Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem

    Não exagere

    Todos nós temos uma capacidade limitada para manter o foco. Depois de algum tempo, a mente voa para alguma lembrança ou objeto na sala. É por isso que as aulas nas escolas não passam de 50 minutos, e você também não deve estudar duas horas sem parar. Não vai render. "Alguns colégios na Dinamarca estabeleceram períodos de 45 minutos de aula seguidos de 15 minutos de descanso, e são escolas que têm as melhores notas nos ranking mundiais", comenta Kalil. Adultos que fazem cursos ou precisam preparar apresentações também devem seguir esse princípio e alternar os períodos de foco com descanso. Falando em descanso, a estratégia de virar a noite estudando também é ruim. O que você assimilou foi para o buraco negro da memória dois ou três dias depois. "A curva de esquecimento é abrupta e mais de 80% da matéria é esquecida", garante o pesquisador. Por isso, se a intenção é consolidar o aprendizado, é melhor seguir à risca o conselho daquele professor que você achava um saco: estudar um pouco todo dia e revisar antes da prova. O mesmo vale para quem vai fazer uma apresentação no trabalho: não deixe para a véspera. Como enfatiza Kalil, o aprendizado depende da sigla REC: repetição, elaboração e consolidação. E não dá para conseguir os três com uma tacada só.

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    Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem

    O que você faz depois importa

    Depois de uma aula, boa parte da informação recebida continua a ser processada sem que você perceba: é que seu cérebro sai do "modo focado" e vai para o "modo difuso", explica Taís Bento. Por isso, se você estiver num lugar tranquilo e relaxado, seu cérebro continuará no processo de aprendizado. Kalil conta que pesquisadores da Universidade de Michigan dividiram adolescentes em dois grupos depois que eles aprenderam um novo conteúdo --o primeiro foi caminhar no centro comercial da cidade, barulhento e caótico, enquanto o segundo foi para um jardim botânico. Depois de 50 minutos, os estudantes foram testados. Os jovens que ficaram em contato com a natureza tinham retido muito melhor as informações da aula, segundo o artigo publicado no periódico Psychological Science.

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    Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem

    Uma coisa de cada vez sempre

    Ninguém duvida que na hora de estudar é preciso desligar a TV, sair das redes sociais e diminuir o som para entrar no "modo focado". O problema é que, se você não treinar essa habilidade em outros momentos, não vai conseguir se concentrar na hora que bem entender. Seu cérebro, acostumado a muitos estímulos, vai entrar em uma espécie de "looping" quando fizer uma coisa só. As especialistas do SOS Educação explicam que muitas crianças têm problemas na escola porque não têm certas habilidades básicas para o aprendizado, como paciência e persistência, que só podem ser adquiridas na rotina de casa, ao levar o prato para a pia, negociar o brinquedo com o irmão, ir ao supermercado com a mãe etc. Crianças e adultos também não sabem mais esperar uma gratificação, porque hoje a tecnologia traz tudo em um clique e isso atrapalha muito na hora de sentar na cadeira e prestar atenção. Para compensar a falta de treino, comece desligando o celular e a TV durante as refeições.

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    Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem

    Não parece, mas suar ajuda

    Se os benefícios do sono são óbvios, nem todo mundo entende a importância da atividade física para o aprendizado. Acredite: jogar bola vai ajudar seu filho a ter boas notas, assim como caminhadas e musculação podem fazer a diferença para quem quer aprender uma nova língua ou dominar uma nova tecnologia. Kalil enfatiza que a atividade física aumenta a velocidade das sinapses, sem contar que diminui o estresse. "Trinta minutos diários já são suficientes; não precisa correr maratona, mas também não vale ir andar no shopping", resume o médico.

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    Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem

    O estado emocional importa

    E falando em estresse, o estado emocional tem impacto na capacidade de se concentrar. Por isso, as especialistas do SOS Educação recomendam que, se você estiver triste ou tenso, faça algo que melhore o seu humor antes de focar no estudo. Vale ouvir uma música que levante o seu astral, ou mesmo ligar para alguém com quem você tem uma relação de carinho, só para falar de amenidades. Técnicas de meditação, como o mindfulness (atenção plena), também são exercícios com benefício comprovado para se livrar daqueles pensamentos desagradáveis que tiram o foco. "Também contribuem para diminuir a ansiedade, que é um dos fatores que dificulta o aprendizado", recomenda a psicanalista e neurocientista Nanci Cavaco.

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