Rói unha ou come sem perceber enquanto trabalha ou estuda? Veja dicas
Colaboração para o UOL VivaBem
25/03/2019 04h00
Você é do tipo que não relaxa enquanto o pacote de bolacha não acaba, ou rói a unha até sentir dor enquanto estuda para a prova ou trabalha? Não consegue se controlar enquanto não se livra de qualquer irregularidade que surge na pele, como um pelo encravado ou uma espinha? Quem sofre de hábitos compulsivos desse tipo sabe que não existe solução fácil: não adianta a mãe ou o namorado darem bronca, nem lembrar que a mania pode ter consequências desagradáveis, como quilos a mais na balança, infecções e cicatrizes duradouras.
Essas manias, que muitas vezes começam cedo na vida, trazem uma sensação de alívio, mas só a curto prazo. Depois que a caixa de bombom acaba ou uma ferida se forma no dedo, é comum vir a sensação de culpa, o que só aumenta a ansiedade e... lá está você, de novo, em busca de alívio. Se a compulsão afeta a saúde ou a qualidade de vida, um psicólogo ou psiquiatra podem ajudar. A ingestão exagerada de comida, por exemplo, pode ser sintoma de algum transtorno alimentar, como bulimia ou comer compulsivo. As manias de arrancar pelos ou cabelos (tricotilomania), de cutucar a própria pele (transtorno de escoriação), roer as unhas (onicofagia) ou morder os lábios são chamadas, nos manuais de diagnóstico, de "comportamentos repetitivos focados no corpo", e são relacionados ao transtorno obsessivo-compulsivo.
É bom ficar claro que nem toda pessoa que rói unha, arranca pelinhas em volta da unha e exagera nos doces tem uma doença e deve fazer terapia ou tomar remédio. Mas é bom saber que muitos desses comportamentos encarados como maus hábitos não têm nada a ver com falta de força de vontade ou de modos. Abaixo, você vê algumas dicas de especialistas para evitar que essas manias virem um problema maior:
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Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Procure os gatilhos
É comum a gente associar esses hábitos compulsivos à ansiedade, já que o comportamento indesejável costuma se intensificar nos períodos de tensão. Mas a verdade é que eles também podem aparecer enquanto a pessoa está relaxada, em frente à TV. Há até quem ataque a geladeira ou lesione a própria pele enquanto dorme, segundo os especialistas consultados pelo UOL VivaBem. "Estudos indicam que o cutucar a pele excessivamente está associado a uma tentativa malsucedida de regular as próprias emoções", explica o psicólogo Daniel Gulassa, que atende pacientes com transtorno de escoriação no Programa Ambulatorial dos Transtornos dos Impulsos (PRO-AMITI), do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). "Nesses casos, a pessoa acaba se cutucando, por exemplo, quando está muito ansiosa, estressada ou entediada", diz. Tomar consciência sobre os momentos de maior vulnerabilidade é um passo importante para intervir sobre o problema.
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Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Ajude quem quer te ajudar
Pais e mães só querem ajudar quando tentam controlar a ingestão de chocolate ou dão bronca toda vez que o garoto leva as unhas à boca. O problema é que, em muitos casos, essa vigilância com espírito punitivo só aumenta a ansiedade, o que estimula o comportamento. "Muitas vezes a criança faz isso para chamar atenção e, quando alguém disser 'para com isso', a pessoa pode, sem querer, reforçar isso, ou então reforçar essa sensação que a criança tem de que não dão bola pra ela", comenta Magda Weber, assessora do departamento de psicodermatologia da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia). Daniel Gulassa conta que, para muitos pacientes com transtorno de escoriação, o comportamento é automático e inconsciente, por isso ter um amigo ou parente que lhe chame a atenção pode ser útil. Porém, "é preciso negociar uma maneira de fazer isso que não cause raiva, culpa ou vergonha", sugere.
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Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Diminua as tentações
Estudos mostram que cerca de 20 ou 30% das crianças têm o hábito de roer as unhas, e Magda Weber acredita que a proporção deve ser parecida entre adultos. O fato de existir tanta gente com o comportamento talvez seja um recado de que precisamos dar mais atenção às emoções. Mas isso não invalida algumas soluções bastante difundidas, como o uso de esmaltes com gosto ruim. São medidas com efeito transitório, segundo a dermatologista, mas que têm seu valor porque estimulam o autocuidado e ajudam a dar consciência para o momento da ação. Manter as unhas bonitas, a pele e a cutícula hidratadas, adotar medidas para evitar pelos encravados, espinhas e outras "bolinhas" são atitudes que devem ser sempre estimuladas, ainda que não operem milagres.
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Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Não seja radical
Um conselho bem popular para quem tem o costume de beliscar comida é deixar a geladeira (ou a gaveta do escritório) guarnecida de vegetais, como frutas frescas ou secas, para a hora em que bate a gula. Mas a nutricionista Sophie Deram, blogueira do UOL VivaBem e autora do livro "O Peso das Dietas", lembra que nem sempre a maçã vai substituir o bolo cheio de açúcar que está na sua cabeça. "Quanto mais você briga com a comida, mas ela ganha importância no seu sistema de recompensa, e, aí, se você está triste ou cansado, vai querer chocolate, salgadinho ou pão com manteiga, e nunca brócolis (por mais que você goste desse vegetal)", ilustra. Para esses momentos de desespero, ela sugere o "mindful eating" (comer com atenção plena): parar tudo e fazer um lanche com calma, desfrutando o prazer de comer aquilo que você deseja. Claro que pular refeições não ajuda quem tem mania de beliscar, mas você já sabe disso, né?
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Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Procure quem te entenda
Não é difícil encontrar alguém que rói unhas ou abusa de doces ou lanchinhos. Já o impulso de arrancar casca de ferida ou arrancar o cabelo é algo menos conhecido, até porque pessoas com esses transtornos fazem o possível para esconder suas marcas. "Alguns pacientes passam anos sem de ir à praia ou à piscina porque têm vergonha das feridas ou das cicatrizes no corpo causadas pela escoriação", diz Daniel Gulassa. Para esses indivíduos, encontrar um grupo de apoio e descobrir que não são os únicos a ter o comportamento já traz bastante alívio. No PRO-AMITI, Gulassa coordena grupos de psicodrama, uma técnica terapêutica que consiste em identificar e encenar situações e conflitos. Às vezes as cenas são congeladas para a pessoa perceber as emoções que estão em jogo. Todos participam e, no processo de tentar ajudar os outros, as pessoas ajudam a si mesmas.
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Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem Não tente controlar tudo
O psicólogo observa que muitas pessoas com transtorno de escoriação têm algumas características em comum, "como uma expectativa de serem produtivas o tempo todo, perfeccionismo, uma dificuldade em planejar e executar tarefas e uma indisponibilidade em se permitir relaxar". Há estudos que também associam essa busca por perfeição ao hábito de roer unhas e a outros transtornos do espectro obsessivo-compulsivo, assim como aos transtornos alimentares, embora não se possa atribuir uma única causa a cada um desses problemas (pode ser que existam fatores genéticos envolvidos também). De qualquer forma, aprender formas mais saudáveis de lidar com as emoções e a ter metas mais realistas no dia a dia costumam ser maneiras mais eficazes de não ser dominado por essas manias, o que pode ser feito com ajuda de um psicólogo ou psiquiatra. Rechear a vida com hábitos saudáveis, como dormir bem, equilibrar períodos de trabalho/estudo com lazer, praticar meditação ou outras formas de relaxamento são outros conselhos adicionais dos especialistas.