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Seu medo o paralisa? 3 etapas para usá-lo de forma positiva

Denis de Freitas / VivaBem
Imagem: Denis de Freitas / VivaBem

Colaboração para o VivaBem

02/12/2019 04h00

Pouco importa se o medo é de barata, de fazer uma apresentação em frente do chefe ou de assalto, a resposta do corpo é nos colocar em estado de alerta: pupilas e brônquios dilatados, respiração e batidas cardíacas aceleradas e maior pressão sanguínea.

O circuito do medo é um dos mais básicos do cérebro e é extremamente útil para que sejamos capazes de ter uma resposta rápida e fugir de ameaças. Ele também nos protege de desilusões, como mostrou uma pesquisa da Universidade de Bonn.

No entanto, quando não conseguimos controlar nosso medo, ele pode nos paralisar ou levar até quadros graves de ansiedade e síndrome de pânico. As pesquisas sobre o funcionamento neurológico do medo ajudam a "hackear" este processo e intervir para evitar as desvantagens daquele temor inconveniente ou de um medo bobo.

Como tudo acontece

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Imagem: Denis de Freitas / VivaBem

A resposta do medo diante de uma ameaça é muito parecida em animais como em seres humanos. Tudo começa na amígdala, uma das estruturas cerebrais mais primitivas do desenvolvimento animal e a principal responsável pelo processamento de ameaças do meio, explica Pedro Mario Pan, psiquiatra da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo) e vice-coordenador do projeto Conexões Mentes do Futuro. "Eu estou em casa e escuto um estouro. Esse barulho vai ser processado pela amígdala e vai disparar estímulos para reagir a esta ameaça", indica Pan.

Na sequência, a amígdala vai acionar o hipocampo, que dará contexto às primeiras informações para indicar se esta é ou não uma situação para assombro. Se os estouros ouvidos, por exemplo, foram feitos na noite de 31 de dezembro, a informação de contexto lhe dirá que não há razão para medo.

Se não estiver em um réveillon, a amígdala vai disparar a reação do corpo com uma injeção de adrenalina e noradrenalina, hormônios responsáveis pela respiração mais rápida, aceleração dos batimentos cardíacos e aumento das pupilas. Com isso, o corpo está pronto para uma cena de luta ou de fuga.

Uma terceira área do cérebro, responsável por julgar e interpretar informações, entra em ação. O córtex pré-frontal vai tentar racionalizar a situação e, se necessário, começar a inibir a atuação da amígdala para que o corpo se acalme.

E o que o cérebro entende como ameaça? Para o neurocientista Dean Mobbs, da Caltech (California Institute of Technology), há dois tipos de medo, o primeiro que será reativo a ameaças iminentes contra a vida, e um outro que será cognitivo, que depende de que o cérebro tenha algum tempo para racionalizar e perceber a ameaça a partir de experiências individuais.

"Quando você passa por uma situação muito negativa, como um acidente de carro que colocou sua vida em risco, certamente nas próximas vezes que entrar em um carro, você vai ter um calafrio, uma sensação de que ali aconteceu algo errado. Isso cria uma memória aversiva", explica Miguel Xavier de Lima, pesquisador do Instituto de Ciências Biológicas da USP (Universidade de São Paulo), que estudou as áreas do cérebro envolvidas no aprendizado do medo.

Entender o processo do circuito do medo ajuda a combater as desvantagens de reações exacerbadas ou em momentos inconvenientes.

  • Denis de Freitas / VivaBem

    Reconheça os sinais do medo

    A primeira coisa para trabalhar com isso é identificar que a reação do seu corpo está ligada ao medo. "Você está fechado na sala com seu chefe, ou diante de uma prova, as mãos estão suando, o coração bate tão forte que você ouve as batidas dele. São reações que não se encaixam naquela situação, mas é a reação do circuito do medo disparado pela amígdala", diz o psiquiatra da Unifesp. Conscientemente forçar a respiração profunda é uma técnica usada em terapias para acalmar o corpo e reduzir os sinais de estresse.

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    Racionalize: há motivo para se sentir ameaçado?

    Se a sensação de medo não é justificada, o jeito é fazer um esforço para apoiar o circuito cerebral. É hora de tentar racionalizar a situação e ajudar o córtex pré-frontal a fazer o melhor julgamento e interpretação daquele cenário. Você viu uma sombra na janela e seu cérebro mandou todos os sinais de alerta para o corpo. O que pode ter sido esta sombra? Você já viu essa sombra antes? Tem árvores perto da casa? O que mais poderia fazer estar sombra? O estímulo a investigação cognitiva pode ajudar o córtex pré-frontal a inibir o trabalho feito pela amígdala.

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    Exponha-se

    O objetivo não é tentar enfrentar de vez o pior dos seus medos --o que pode causar até um trauma mais grave--, mas encontrar maneiras de pouco a pouco dar a seu corpo experiências positivas ligadas àquilo que parecia ameaçador a princípio. Se o medo é de insetos, colocar-se em situações em que os insetos podem (ou não) estar, como um piquenique em um gramado, pode ser uma primeira maneira de enfrentar o temor. Se o problema é falar em público, organizar um momento de discurso diante da família ou de amigos ou em uma reunião em casa pode ser a memória positiva necessária para que seu córtex pré-frontal possa decidir que é possível em uma reunião com seu chefe sem maiores problemas. Controlar a sensação de medo não é necessariamente acabar com ele. Fernanda Montenegro disse recentemente em entrevista que mesmo depois de dezenas de anos de palco ainda sente um frio na barriga antes de começar a peça. Essa sensação descrita pela atriz também é medo, mas um temor que a deixa ainda mais atenta a reação do público e melhora seu desempenho, comenta Pan.

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