Reaprender a respirar: reabilitação após cura da covid-19 é longa
"Tive que aprender a respirar novamente". Paulo Alves sobreviveu à covid-19, após ser internado em terapia intensiva em um hospital parisiense. O tempo que ficou em assistência respiratória deixou sequelas, porém, e é necessária uma longa reabilitação.
Um recorde de 7.000 pessoas foram admitidas em UTIs (unidades de terapia intensiva) desde o início da epidemia na França, um dos países mais atingidos. São casos graves, com uma séria insuficiência respiratória que é desencadeada quando o vírus ataca os pulmões.
Os pacientes precisam de assistência respiratória através da intubação. "São sedados" e costumam ter uma paralisia muscular, explica à AFP o médico anestesista Stéphane Petit Maire.
Os pacientes em estado mais grave são colocados de bruços durante várias horas para facilitar a oxigenação. Também podem sofrer "doenças renais, cardíacas, neurológicas e hepáticas", afirma.
Os períodos de terapia intensiva para pacientes da covid-19 são longos, "entre duas e três semanas, ou ainda mais", diz Helene Prigent, pneumologista no Hospital Raymond-Poincaré de Garches, perto de Paris.
"O risco, que não é específico da covid-19, é perder muita massa muscular, sofrer complicações musculares e neurológicas", afirma Prigent, coordenadora da unidade de reabilitação pós-respiração assistida desse hospital.
Depois de semanas deitado, o corpo do paciente precisa " se acostumar novamente a mudar de posição". O corpo "esqueceu alguns mecanismos que permitem regular a pressão arterial", acrescenta.
Sequelas psicológicas
Além da doença, a solidão em um quarto individual pode ter um impacto psicológico.
"Não podemos multiplicar" o número de pessoas em contato com o paciente, devido ao risco de contágio, diz o médico-chefe da clínica, Emmanuel Chevrillon.
"Vivo enormes momentos de solidão. Meus familiares não podem vir. As enfermeiras não podem ficar no quarto", lamenta Alves.
Mesmo curadas, essas pessoas correm o risco de sofrer "sequelas neurocognitivas, como estresse pós-traumático, ansiedade e depressão", segundo Stéphane Petit Maire.
A fisioterapeuta incentiva os pacientes em casa a permanecerem ativos: "Lavar a louça, fazer a cama, passar o aspirador".
O acompanhamento em domicílio parece indispensável, principalmente para as pessoas sozinhas ou com necessidades específicas.
"Estragaríamos todo o enorme trabalho na terapia intensiva, se não tratássemos o paciente posteriormente", afirma Bertrand Guidet, chefe do Departamento de Medicina Intensiva no Hospital Saint-Antoine de Paris.
Fisioterapia
A primeira vez que Paulo Alves tentou se levantar, depois de ter sido intubado e estar em coma artificial no hospital Bichat de Paris, suas pernas não respondiam. "Senti como se estivesse me soltando", recorda.
Os pacientes que saem da terapia intensiva estão fracos demais para voltar para casa imediatamente. Passam pelas unidades de readaptação pós-respiração assistida ou por centros de reabilitação.
"As sessões são realizadas em casa", explica à AFP a fisioterapeuta Anaïs Legendre, da clínica Bourget, em Seine-Saint-Denis, norte de Paris.
"A maioria dos pacientes, no entanto, ainda está com máscara de oxigênio e, com o vírus, um dia estão bem, no dia seguinte não estão, vai flutuando", completa.
"Muito bem, muito bem!". Uma fisioterapeuta do Instituto Universitário de Reabilitação Clemenceau, em Illkirch-Graffenstaden (leste da França), anima Georges, de 77 anos. Apoiando-se em barras paralelas, ele se balança para frente e para trás sobre uma prancha colocada em cima de dois cilindros.
Os olhos parecem sorrir por trás dos óculos e, ao mesmo tempo, Georges rapidamente fica sem fôlego sob sua máscara cirúrgica.
"Percorri um longo caminho", diz ele, que descreve "visões apocalípticas" durante seu coma artificial. Agora, quer olhar de novo para o futuro.
Ao sair do hospital, "pensei que podia ir embora para casa, mas admito que não poderia ter andando nem dez metros", contou, descrevendo "um cansaço que nunca tinha sentido antes".
No mesmo cômodo, outro paciente, de cadeiras de rodas, pedala em uma bicicleta de reabilitação.
Trabalho duro
No Instituto Clemenceau, que abriu duas unidades de 18 e 20 leitos dedicados à covid-19, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, terapeutas da fala e psicólogos trabalham duro para que os pacientes voltem a ficar de pé.
Desgaste muscular, desnutrição, pacientes que perderam entre 10% e 15% de seu peso, problemas de deglutição relacionados com a entubação, dificuldades respiratórias... No caso dos pacientes que passaram por terapia intensiva e são enviados para este centro, o trabalho de reabilitação deve durar de seis semanas a seis meses.
"Tiveram a covid, danos musculares e neurológicos e ainda têm todos os efeitos ligados ao sedentarismo", explica a médica Marie-Eve Isner. "Em uma semana de imobilização, você perde 10% da sua massa muscular", completa.
Quando chegam a este centro, alguns sequer conseguem se sentar, e todos têm de aprender os gestos da vida diária.
"Passamos pelo treinamento de sentar, ficar em pé, parar, andar e fazer esforço", diz o chefe da equipe de apoio técnico, Julien Przybyla.
As sessões são muito fragmentadas para limitar a fadiga.
Para Marie Velten, coordenadora de cuidados, a reabilitação também implica "repensar um plano de vida".
Além das dificuldades físicas, aponta a enfermeira Vanessa Beague, os pacientes "têm muitos pesadelos, têm uma sensibilidade ao que aconteceu quando estiveram na unidade de terapia intensiva".
Segundo a doutora Isner, "podemos ver sequelas neurológicas e cognitivas".
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