Aos 117 anos, mulher mais velha da Europa conta segredo de sua longevidade
Para seu 118º aniversário nesta sexta-feira (11), Lucile Randon, mais conhecida como a irmã André, deseja "morrer logo", mas, enquanto isso não acontece, esta anciã deixa sempre a porta aberta para que possam cumprimentá-la.
Uma cama individual, uma imagem da Virgem Maria e um rádio desligado há meses... Em seu quarto, a idosa, sempre vestida com seu hábito de freira e véu azul, apenas espera, sentada em sua cadeira de rodas, com a cabeça baixa e os olhos, que já não enxergam, fechados.
Seu dia começa cedo. "Às 7h me levantam e me sentam à mesa". Em seguida, é levada à capela, onde a idosa, que se tornou freira depois dos 40 anos, ouve a missa todas as manhãs.
"É horrível não poder fazer nada sozinha", se queixa Lucile, que trabalhou até o final da década de 1970, e que, aos 100 anos, ainda se ocupava de residentes mais jovens do que ela.
"Gosto quando alguém vem me fazer companhia, como o David. David é um amor, você o conhece?", pergunta a irmã André.
David Tavella, animador no lar de idosos de Toulon, no sudeste da França, às margens do Mediterrâneo, é também seu assessor de imprensa, que recebe os pedidos de jornalistas de todo o mundo, além de presentes e cartas.
Lucile Randon nasceu em 11 de fevereiro de 1904 em Alès, no sul da França. É a mulher mais velha do país e da Europa, sendo apenas superada no mundo pela japonesa Kane Tanaka, de 119 anos.
Quando se trata de esperança de vida, o Japão é um dos países mais citados. Contudo, a pessoa que mais tempo viveu na história da humanidade com registro civil verificado foi na Provença francesa. Jeanne Calment morreu em Arles em 1997, aos 122 anos.
André Boite também vive no sul da França. Aos 111 anos, é um dos poucos homens do mundo "supercentenários". Com mais de 110 anos, segue morando em sua própria residência em Nice.
Segundo o escritório de estatísticas Insee, cerca de 30 mil centenários vivem na França e 40 superam os 110 anos. No mundo todo, havia meio milhão de centenários em 2015, segundo a ONU, que projeta 25 milhões até o fim deste século.
Esperando o fim
Quando é lembrada que tem 110 anos, Hermine Saubion responde: "Estou aguentando firme".
Só compreende fragmentos de frases, mas não renuncia à vida em sociedade. "Se passa muito tempo sozinha em um lugar, não hesita em manifestar seu descontentamento", confirma Julien Fregni, um assistente social.
A irmã André tampouco tem problemas de saúde, apenas rigidez muscular e articular ligada à sua imobilidade. Ela toma poucos medicamentos por dia, o que, segundo a médica Geneviève Haggai-Driguez, sem dúvida é "um de seus segredos de longevidade".
A idosa sobreviveu sem problemas à covid-19, que lhe provocou apenas cansaço. "Quando falamos [sobre a covid], ela responde: 'tive a gripe espanhola'", conta Geneviève.
De fato, os especialistas constataram que os nascidos antes da epidemia de gripe espanhola de 1918 resistiram melhor à covid que os idosos nascidos depois.
Apesar da resistência comprovada pelo tempo, essas pessoas viram a partida de muitos a seu redor e já não têm com quem compartilhar sua história de vida.
Assim, falam sobre a morte sem qualquer tabu. "Esperamos o fim, a morte, que um dia chegará", diz Hermine, enquanto a irmã André afirma estar preparada.
"Passar todo o dia sozinha com suas dores não é divertido", mas "Deus não me escuta, deve estar surdo".
Otimismo e estilo de vida
A ciência ainda não descobriu o segredo desta longevidade. "Não temos nenhuma certeza, apenas hipóteses", garante Jean-Marie Robine, demógrafo e gerontólogo.
O especialista cita a riqueza econômica, a democracia "e, inclusive, a social-democracia", além dos fatores nutricionais com "dois grandes regimes alimentares: o japonês [peixes, verduras] e o mediterrâneo".
A isso se somam as características próprias do indivíduo, como a genética ou a ausência de genes vinculados a fatores de risco.
Ademais, Daniela S. Jopp, professora de psicologia do envelhecimento da universidade de Lausanne, na Suíça, cita o "otimismo", que está vinculado a "mecanismos do sistema imunológico".
Em seus estudos com centenários de Alemanha e Estados Unidos, a pesquisadora encontrou traços comuns: são extrovertidos, têm carisma, desfrutam das relações sociais, têm paixões, são capazes de dar sentido à vida e sabem se adaptar.
Pois, como diz a irmã André, a coisa mais importante na vida é "compartilhar um grande amor e não comprometer suas necessidades".
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