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Tese de 'cura' por cloroquina seduziu 18% dos brasileiros, revela pesquisa

Na média dos países que participaram da pesquisa, apenas 11% dos entrevistados compraram a ideia de que o medicamento traria a cura - CADU ROLIM/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Na média dos países que participaram da pesquisa, apenas 11% dos entrevistados compraram a ideia de que o medicamento traria a cura Imagem: CADU ROLIM/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Daniel Bramatti

São Paulo

29/06/2020 15h21

Em cada cinco brasileiros, um chegou a acreditar que a hidroxicloroquina seria a "cura" para a covid-19, segundo revela pesquisa de opinião sobre os mitos da pandemia, feita pelo instituto Ipsos em 16 países.

Embora nenhum estudo com rigor científico apontasse a eficácia do medicamento, ele foi promovido como solução para a crise pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) — e a tese foi abraçada e amplificada por sua base de apoio nas redes sociais. O resultado é que, na pesquisa, 18% dos entrevistados no Brasil qualificaram como verdadeira a frase "Existe uma cura para covid-19 e ela se chama hidroxicloroquina", enquanto 57% a consideraram falsa. Um quarto da amostra não soube responder.

No ranking da desinformação sobre o tema, os brasileiros só ficaram atrás dos indianos nos 16 países onde o Ipsos fez as mesmas perguntas. Na média desses países, apenas 11% dos entrevistados compraram a ideia de que o medicamento traria a cura.

Na Índia, essa taxa chegou a 37% — o dobro do Brasil. Também lá o governo promoveu a tese de que a hidroxicloroquina ou a cloroquina seriam a solução. Nos Estados Unidos, onde ocorreu o mesmo, 12% acreditaram na eficácia da droga. Já no Reino Unido foram apenas 2%.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a testar a cloroquina em pacientes de covid-19, mas suspendeu as pesquisas no final de maio e em definitivo na metade de junho, após não constatar redução de mortalidade. O medicamento, que nunca foi encarado por médicos e cientistas como cura para covid-19, mas apenas como possível tratamento auxiliar, pode provocar efeitos colaterais graves.

No Brasil, a cloroquina esteve no centro de ondas de desinformação sobre covid-19 nas redes sociais — diversos rumores e teorias conspiratórias foram desmentidos pelo Estadão Verifica, desde o início da pandemia. Uma das checagens, realizada em parceria com outros veículos do Projeto Comprova, envolvia a falsa acusação de que um grupo de pesquisadores brasileiros teria aplicado uma dosagem letal de cloroquina em pacientes com covid-19 para causar descrédito sobre o medicamento no tratamento contra a doença.

Entre outros mitos avaliados pela pesquisa Ipsos está o de que a exposição ao sol ou a altas temperaturas previne covid-19. Nesse caso, 22% dos brasileiros entrevistados apontaram a alegação como correta. O boato de que comer alho é uma defesa contra o coronavírus foi encarado como verdadeiro por 7% no Brasil.

O Ipsos fez a pesquisa no final de maio, e a partir de hoje a distribui entre seus clientes. Foram entrevistadas mil pessoas em cada um dos 16 países participantes. A margem de erro é de 3,5 pontos porcentuais.