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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Autora de estudo nega ter sugerido uso de vermífugo para qualquer caso

Patrícia Rocco ao lado do ministro Marcos Pontes em evento no Palácio do Planalto - Alan Santos/PR
Patrícia Rocco ao lado do ministro Marcos Pontes em evento no Palácio do Planalto Imagem: Alan Santos/PR

Fabiana Cambricoli

05/11/2020 07h56

Principal autora do estudo sobre o uso do vermífugo nitazoxanida contra a covid-19, a médica Patrícia Rocco afirma que não houve intenção de politizar o tema e ressalta que a divulgação dos resultados, feita em cerimônia no Palácio do Planalto no último dia 19, não quis incentivar o uso indiscriminado do remédio, mas, sim, compartilhar dados úteis para futuras pesquisas. "Jamais sugeri o uso da nitazoxanida em qualquer paciente ou em qualquer fase da covid-19. Entretanto, é importante fomentar a discussão na comunidade científica nacional e internacional", afirmou, em entrevista por e-mail ao Estadão.

O estudo, financiado pelo MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações), foi alvo de críticas de outros cientistas. Nas redes sociais, muitos médicos e cientistas se dividiram quanto à participação de Patrícia no estudo e na cerimônia do governo federal por conta do seu histórico respeitado na comunidade científica.

Pesquisadora renomada na área de doenças respiratórias, ela é professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e chefe do Laboratório de Investigação Pulmonar do IBCCF (Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho) da instituição. É uma das cinco mulheres a ocupar uma das cem cadeiras da ANM (Academia Nacional de Medicina) e membro titular também da ABC (Academia Brasileira de Ciências).

Ao Estadão, Patrícia afirma que o desenho do estudo não sofreu interferência do governo e que os resultados de redução de carga viral e melhora dos sintomas depois de sete dias são importantes.

Em nota, o Ministério da Ciência disse que a nitazoxanida se mostrou "promissora" e que a função da pasta é "produzir conhecimento científico", mas ressaltou que cabe ao Ministério da Saúde e aos médicos definirem se o medicamento deve ser prescrito ou não.

A senhora acha que a nitazoxanida tem um potencial benefício clínico no tratamento da covid?

Há vários artigos que já demonstraram que a redução da carga viral está associada à diminuição da transmissibilidade do vírus assim como o agravamento da doença. O conhecimento científico é uma construção e cada publicação tem a sua contribuição específica. É importante salientar que, se fôssemos testar uma nova molécula (remédio não existente no mercado), exclusiva para tratar a covid-19, levaríamos anos (mínimo de cinco anos) de pesquisa. Devido à pandemia e ao conhecimento de alta tecnologia, pudemos trabalhar de forma estratégica com a análise de reposicionamento de fármacos, reduzindo assim vários anos de pesquisa. No estudo que coordenamos com o antiviral nitazoxanida, observamos que, após cinco dias de tratamento, houve redução da carga viral, sendo que 30% dos pacientes deste grupo apresentaram teste negativo para SARS-CoV-2. Após sete dias do término do tratamento, 78% dos pacientes tornaram-se assintomáticos.

Ademais, o antiviral nitazoxanida mostrou ser seguro e de baixo custo. A nitazoxanida tem potencial benefício clínico no tratamento da covid-19, entretanto, caberá ao médico definir a conduta de cada paciente.

O resultado após sete dias é robusto, mesmo considerando limitações como o número pequeno de sintomas monitorados (febre, tosse seca e fadiga), o fato de apenas pacientes que não tinham sintomas no quinto dia seguirem contatados e a ausência de monitoramento por período prolongado de toda a amostra?

Como relatado no artigo, os dados mostram que houve aumento do número de pacientes assintomáticos quando comparados aos não tratados (placebo) após sete dias do final do tratamento. Isso é uma realidade e precisa ser informada, como relatado no próprio artigo. Todas as limitações foram descritas no artigo.

A nitazoxanida deveria já ser indicada para tratar a covid?

A covid-19 é uma doença com comprometimento orgânico múltiplo e uma patogênese extremamente complexa. O estudo foi realizado na fase precoce da doença, quando os pacientes apresentavam sintomas durante um a três dias. Os dados científicos obtidos com o estudo restringem-se à análise do uso da medicação na fase precoce da covid. Diversos medicamentos vêm sendo utilizados de forma empírica, o que não é salutar.

O artigo já foi submetido para publicação em periódico científico? Há previsão de data?

Sim, o artigo já foi submetido para a publicação em periódico científico internacional. Não temos como precisar a data da publicação. O nome do periódico segue em sigilo.

O ministro Marcos Pontes chegou a afirmar que "podemos dizer que temos um remédio para o tratamento inicial da covid-19" e que isso "ajuda a mudar o cenário da pandemia" no País. A senhora concorda?

Esse foi o primeiro estudo multicêntrico, randomizado, duplo cego, placebo controlado, em 1.575 voluntários, realizado em um tempo recorde. O governo não interferiu no desenho do estudo e não quis politizar esse tema. Jamais sugeri o uso da nitazoxanida em qualquer paciente ou em qualquer fase da covid-19. Entretanto, é importante fomentar a discussão na comunidade científica nacional e internacional. A ciência não pode omitir dados durante uma pandemia e todo conhecimento precisa ser revelado. O que revelamos é que a nitazoxanida mostrou redução da carga viral, aumento do número de pacientes testados negativos, melhora tardia dos sintomas, além de ser segura, de baixo custo e poder ser utilizada no domicílio, não necessitando de admissão hospitalar.

O seu grupo de pesquisa pretende continuar os estudos com a nitazoxanida?

Nosso grupo estuda também os efeitos do antiviral nitazoxanida em 500 pacientes em fase mais avançada da doença (com pneumonia) e admitidos no hospital. O recrutamento dos pacientes voluntários foi finalizado e o banco de dados com os resultados está sendo analisado pelo estatístico.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.