Coronavírus na China: perguntas e respostas sobre a doença
Um vírus desconhecido pela ciência até há pouco vem causando uma doença pulmonar grave em centenas de pessoas na China, e já foi detectado em Estados Unidos, Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul e Macau.
Ao menos 17 pessoas morreram em decorrência do vírus, que surgiu em dezembro passado na cidade chinesa de Wuhan. Ele infectou mais de 400 pessoas, segundo registros oficiais.
E o número deve subir, segundo especialistas, para quem o surgimento de vírus que levam pacientes a terem pneumonia é sempre motivo de preocupação.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) cogita declarar nesta quarta-feira uma situação de emergência de saúde pública de caráter internacional em torno do vírus, assim como fez com a gripe suína e o ebola.
As autoridades chinesas pediram que cidadãos deixem de entrar e sair de Wuhan e que a população local evite aglomerações.
Mas esse é mais um caso de doença "que vem e passa" ou é o primeiro sinal de algo muito mais perigoso?
O que é esse vírus?
Amostras do 2019-nCoV, como é chamado, foram coletadas de pacientes e analisadas em laboratório, e autoridades da China e da OMS concluíram que a infecção é um coronavírus.
Os coronavírus são uma ampla família de vírus, mas sabe-se que apenas seis deles (com o novo descoberto são sete) infectam humanos.
A Síndrome Respiratória Aguda Grave (conhecida pela sigla em inglês Sars), que é causada por um coronavírus, matou 774 das 8.098 infectadas em uma epidemia que começou na China em 2002.
"Há uma memória forte da Sars, e é daí que vem muito medo, mas nós estamos muito mais preparados para lidar com esses tipos de doenças", afirmou Josie Golding, da Wellcome Trust, organização não governamental sediada no Reino Unido.
Quais os sintomas?
O vírus causa febre, tosse, falta de ar e dificuldade em respirar.
Em casos mais graves, pode evoluir para pneumonia e síndrome respiratória aguda grave ou causar insuficiência renal.
A situação é grave?
Coronavírus podem causar desde um resfriado comum até a morte do paciente infectado.
O novo vírus aparentemente está em algum lugar no meio do caminho entre esses dois extremos.
"Quando encontramos um novo coronavírus, buscamos saber quão severos eram os sintomas, e eles são mais parecidos aos de um resfriado, o que gera preocupação, mas não são tão graves quanto os da Sars", afirmou o professor Mark Woolhouse, da Universidade de Edimburgo.
De onde ele surgiu?
Novos vírus são descobertos a todo momento. Grande parte pula de outras espécies, onde passam despercebidos, para os humanos.
"Se tivermos em mente as epidemias passadas, e se este é um novo coronavírus, ele terá vindo de um outro animal", afirmou Jonathan Ball, virologista da Universidade de Nottingham, no Reino Unido.
A Sars passou para os humanos a partir de um animal selvagem conhecido como civeta (ou gato-de-algália, parente do guaxinim) —que era considerado uma iguaria na região de Guangdong, na China.
Já a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers, na sigla em inglês), que matou 858 dos 2.494 pacientes identificados com a infecção desde 2012, geralmente pula de dromedários.
E de que animal ele vem?
Uma vez que é identificado o animal reservatório, como é chamado o ser vivo onde um agente infeccioso vive e se multiplica, é muito mais fácil lidar com isso.
Os casos têm sido associados ao mercado público de frutos do mar em Wuhan.
Ainda que alguns mamíferos aquáticos possam portar o coronavírus, como a baleia-beluga, também são comercializados no mercado outras classes de animais selvagens vivos, o que inclui galinhas, morcegos, coelhos e cobras — e são apontados como fontes mais prováveis.
E por que a China?
Woolhouse, da Universidade de Edimburgo, afirmou que a China tem mais casos desse tipo por causa do tamanho de seu território, de sua densidade populacional e do contato próximo que algumas pessoas têm com animais infectados.
"Ninguém fica surpreso que o próximo surto seja na China ou naquela parte do mundo", disse.
Essa doença se alastra facilmente?
Autoridades chinesas afirmam que há casos de transmissão do vírus de uma pessoa para outra, envolvendo inclusive profissionais de saúde que foram infectados durante o tratamento de pacientes com a mesma doença.
Autoridades de Wuhan afirmaram na segunda-feira (20) que 136 novos casos de 2019-nCoV e uma terceira vítima fatal foram confirmados no fim de semana. Até então, eram 62 casos oficiais. Desde então, os números só aumentaram.
Há uma grande preocupação em torno de novos vírus que infectam pulmões, já que tosses e espirros são meios altamente eficazes de alastramento de uma doença.
Ainda é muito cedo, no entanto, para estimar quantas pessoas podem ficar doentes.
De acordo com Li Bin, vice-chefe da Comissão Nacional de Saúde, estima-se que quase 2,2 mil pessoas tenham tido contato com pacientes infectados.
E não foi identificado nenhum "super espalhador", ou seja, um paciente que tenha transmitido o vírus para mais de dez pessoas.
E a doença está se espalhando rapidamente?
Estimava-se que o surto fosse limitado, mas novos casos têm sido registrados desde dezembro.
Ainda que as notificações estejam concentradas em Wuhan, há casos registrados na Tailândia, no Japão, na Coreia do Sul e nos Estados Unidos. Todos envolvem pessoas que são de Wuhan ou visitaram a cidade chinesa.
Especialistas afirmam que deve haver mais casos que ainda não foram identificados — estima-se que a cifra esteja em torno de 1,7 mil pessoas infectadas.
Um relatório do Centro do Imperial College de Londres para Análise de Doenças Infecciosas Globais diz: "É provável que o surto em Wuhan de um novo coronavírus tenha causado substancialmente mais casos de infecções respiratórias moderadas e graves do que foi divulgado".
Há uma grande preocupação em torno do Ano Novo chinês, no fim de janeiro, período em que centenas de milhões de pessoas viajam.
Cingapura e Hong Kong tem escaneado passageiros que chegam de avião de Wuhan, medida que autoridades dos Estados Unidos passaram a adotar desde a última sexta-feira em três grandes aeroportos em San Francisco, Los Angeles e Nova York.
No Brasil, o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde informa que não há nenhum caso suspeito, mas a pasta diz que enviou comunicado às representações da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) em portos e aeroportos para que viajantes sejam orientados a tomar medidas de precauções em viagens ao exterior e para a "revisão dos principais aeroportos de conexão provenientes da China para identificação e mensuração dos riscos".
Como as autoridades chinesas têm respondido ao surto?
Pessoas infectadas têm sido submetidas a tratamentos com isolamento a fim de minimizar o risco de alastramento da doença.
Em Wuhan, que é um hub de transportes do país, há quase uma semana as autoridades iniciaram o uso de scanners de temperatura em aeroportos e estações de trem e ônibus. Pessoas com sinais de febre têm sido registradas, recebido máscaras e encaminhadas a hospitais e clínicas.
O mercado de frutos do mar local foi fechado para limpeza e desinfecção, e há operações de esterilização e ventilação de transportes públicos.
Autoridades chinesas também tem recomendado à população que pare de viajar em direção a Wuhan (ou saindo dela) e evite aglomerações na cidade, onde vivem 11 milhões de pessoas — a título de comparação, o município mais populoso do Brasil, São Paulo, tem 12,3 milhões de habitantes.
A orientação em locais de risco é evitar o contato "desprotegido" com animais ou com pessoas com sintomas semelhantes aos de gripe e resfriado. Além disso, recomenda-se que carnes e ovos só sejam ingeridos depois de devidamente cozidos.
Quão preocupados estão os especialistas?
Por enquanto, a Organização Mundial da Saúde não recomenda restrições em viagens ou no comércio internacional em decorrência do vírus, mas ao mesmo tempo tem oferecido orientação a países para se prepararem.
Uma eventual declaração de situação de emergência de saúde pública global pela OMS pode tanto facilitar a coordenação internacional e a arrecadação de verbas para o combate à disseminação de uma doença, por exemplo, quanto dar início a uma série de recomendações que devem ser seguidas pelos países afetados e seus vizinhos.
Golding, da Wellcome Trust, afirmou que, por ora, "até termos mais informações, como a fonte, é muito difícil saber quão preocupados nós devemos ficar".
Para Ball, da Universidade de Nottingham, "nós devemos nos preocupar com qualquer vírus que chegue aos humanos pela primeira vez, porque ele superou uma primeira grande barreira".
"Uma vez dentro de uma célula humana e se replicando, pode começar a gerar mutações que podem permitir que ele se espalhe mais facilmente e se torne mais perigoso." E completa: "Nós não queremos dar ao vírus essa oportunidade".
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