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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Em quarentena, brasileiro se sente mais estressado, ansioso e entediado - porém, mais saudável

Ilustração mostra várias situações relacionadas à saúde mental - GETTY IMAGES via BBC
Ilustração mostra várias situações relacionadas à saúde mental Imagem: GETTY IMAGES via BBC

Camilla Veras Mota

Da BBC News Brasil em São Paulo

06/04/2020 14h47

Confinamento colocou um freio na rotina muitas vezes massacrante dos moradores de grandes cidades, mas incerteza econômica é fonte de muita angústia e preocupação.

Após as primeiras semanas de quarentena, o brasileiro está mais estressado, mais ansioso, entediado e está comendo mais.

Ainda assim, ele tem a sensação de estar mais saudável.

Essa é a conclusão de uma pesquisa conduzida pela startup de tecnologia Behup, com 1.561 participantes de todas as classes sociais em todas as regiões do país.

De acordo com o levantamento, feito na última semana, 53,8% dos participantes disseram estar um pouco mais ou muito mais estressados, 60,3%, um pouco mais ou muito mais ansiosos e 59,7%, um pouco mais ou muito mais entediados.

Em paralelo, 63,2% sentem que a saúde está melhor ou muito melhor e 39,1% se sentem um pouco mais ou muito mais saudáveis.

O aparente contrassenso, na avaliação do diretor de Public Affairs da empresa, o cientista social Danilo Cersosimo, deve-se ao fato de que, de um lado, a vida no confinamento impôs um freio brusco à rotina muitas vezes massacrante dos moradores das grandes cidades.

Muitos deles não precisam mais perder horas no trânsito ou no transporte público e não têm de acomodar uma série de obrigações durante o dia: correr para levar as crianças à escola e depois ir ao trabalho, aproveitar a hora do almoço para resolver uma pendência no banco - um rol de tarefas que fazem parecer que as 24 horas do dia não são suficientes para dar conta de tudo.

Por outro lado, o brasileiro está preocupado com a própria saúde e com a dos familiares, uma parte está tendo que equilibrar o home office com os cuidados com os filhos e a casa, e a maioria sente uma forte pressão financeira diante da desaceleração da economia e da incerteza no mercado de trabalho.

Tudo isso é fonte de estresse e ansiedade.

Temor pelo futuro

Entre os participantes da pesquisa, 56% disseram que o volume de trabalho remunerado na última semana está menor ou muito menor.

Do total, 35,9% disseram ter condições financeiras para ficar em isolamento por mais 7 dias; 17,2%, por mais 15; e 15,1%, por mais 30 dias.

"E a questão econômica deve apertar nos próximos 15 dias", pondera o cientista social.

O fechamento do comércio e dos serviços considerados não essenciais em muitas cidades, visto como uma medida importante para tentar reduzir a velocidade de contágio do novo coronavírus e um meio de evitar que o sistema de saúde seja sobrecarregado, teve impacto negativo forte sobre empresas de todos os portes.

Diante da queda nas receitas, muitas demitiram funcionários e, mesmo diante da renegociação de prazos com credores, temem ir à falência.

O Brasil tem ainda um nível elevado de informalidade - trabalhadores normalmente não assistidos pelo sistema de proteção social, sem direito a seguro-desemprego, por exemplo.

O pacote de estímulo anunciado pelo governo para tentar fazer frente à recessão que se desenha prevê um auxílio emergencial de R$ 600 para esse grupo. A expectativa é que o governo anuncie o calendário de pagamento nesta segunda (06/04).

Maioria apoia medidas de isolamento

Ainda assim, 72% afirmaram ser favoráveis ou muito favoráveis às medidas de isolamento decretadas por governos em vários Estados, enquanto 12,1% responderam ser desfavoráveis ou nada favoráveis.

"Existe essa noção de que a gente vai ter que tomar um remédio extremamente amargo (para superar a pandemia)", avalia Cersosimo.

Nesse sentido, o risco que o novo coronavírus representa à saúde individual e coletiva também está claro para a maioria.

Do total, 62,1% afirmaram acreditar que o número de casos de covid-19, doença causada pelo vírus, vai aumentar ou aumentar muito no Brasil e 64,1% se dizem preocupados ou muito preocupados com a possibilidade de serem infectados.

Quase metade (45,9%) se declarou preocupada com a saúde dos idosos da família.

Comendo mais e se exercitando menos

Pouco mais de um quarto, 27%, afirmaram estar em quarentena há mais de uma semana e menos de duas, 31,5% estão há mais de duas e a menos de um mês, enquanto 15,8% não estão em isolamento social.

Entre os participantes, 15% disseram não ter saído de casa de jeito nenhum na última semana. A grande maioria, 63,3%, foi apenas à feira ou ao mercado.

Quase metade (49,8%) está comendo mais ou muito mais e 42,5% afirmou estar se exercitando menos ou muito menos. Quase um terço, 29,7%, admitiu que já não praticava exercícios antes da pandemia.

Metodologia

A empresa espera repetir a pesquisa em 15 dias para acompanhar a evolução da saúde física e mental dos brasileiros durante a vigência das medidas de distanciamento social - e avaliar se as pessoas estão seguindo de fato as recomendações.

O levantamento foi feito pela internet, a partir de um painel com 1,5 milhão de usuários que têm o aplicativo da empresa baixado no celular e que se distribuem por cerca de 4 mil municípios. O app também é usado para a realização de monitoramento de preços e de pesquisas de mercado.

A amostra de 1.561 pessoas, segundo Cersosimo, tem representatividade por faixa etária, sexo, escolaridade, renda e macrorregião - ou seja, do ponto de vista estatístico, ela reflete a população do país.