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Coronavírus: o que se sabe sobre a vacina com resultados 'extremamente promissores' criada em Oxford

Pacientes produziram anticorpos e células T após tomarem a vacina, mas novos testes ainda são necessários para garantir proteção contra infecções - OXFORD UNIVERSITY
Pacientes produziram anticorpos e células T após tomarem a vacina, mas novos testes ainda são necessários para garantir proteção contra infecções Imagem: OXFORD UNIVERSITY

James Gallagher - Correspondente de Saúde e Ciência

20/07/2020 12h20

Uma vacina contra o novo coronavírus desenvolvida pela Universidade de Oxford parece ser segura e ter o poder de desencadear uma resposta imune pelo organismo.

Testes envolvendo 1.077 pessoas mostram que a vacina resultou na produção de anticorpos e células T que podem combater o coronavírus.

As descobertas são extremamente promissoras, mas ainda é cedo para saber se isso é suficiente para oferecer proteção.

Enquanto estudos mais amplos estão em andamento, o Reino Unido já encomendou 100 milhões de doses da vacina.

Entenda a seguir o que se sabe até agora sobre esta possível vacina.

Como a vacina funciona?

A vacina — chamada ChAdOx1 nCoV-19 — está sendo desenvolvida em uma velocidade sem precedentes.

Ela é produzida a partir de um vírus geneticamente modificado que causa o resfriado comum em chimpanzés.

O vírus foi fortemente modificado — primeiro para não causar infecções nas pessoas, mas também para se "parecer" mais com coronavírus.

No desenvolvimento da vacina, os cientistas transferiram informações genéticas para a "proteína de pico viral" do coronavírus — uma ferramenta crucial usada pelo novo coronavírus para invadir nossas células.

Isso significa que a vacina se assemelha ao coronavírus e, por isso, o sistema imunológico pode aprender a atacá-lo.

O que são anticorpos e células T?

Até agora, grande parte dos debates sobre uma resposta ao coronavírus tem sido sobre anticorpos, mas eles são apenas uma parte da nossa defesa imunológica.

Anticorpos são pequenas proteínas produzidas pelo sistema imunológico que se grudam na superfície dos vírus.

Os anticorpos neutralizantes têm o poder desativar o coronavírus.

Já as células T, um tipo de glóbulo branco, ajudam a coordenar o sistema imunológico.

Elas são capazes de identificar quais células do corpo foram infectadas e destruí-las.

Quase todas as vacinas eficazes induzem respostas tanto de um anticorpo quanto célula T.

Os níveis de células T atingiram o pico 14 dias após a vacinação e os níveis de anticorpos atingiram o pico depois de 28 dias.

O estudo ainda não foi realizado por tempo suficiente para que se entenda quanto tempo estas respostas podem durar, mostrou o estudo publicado pela revista The Lancet.

Andrew Pollard, do grupo de pesquisa de Oxford, disse à BBC: "Estamos muito satisfeitos com os resultados publicados hoje, pois estamos vendo anticorpos neutralizantes e células T".

"Eles são extremamente promissores e acreditamos no tipo de resposta que pode estar associado à proteção", afirmou.

"Mas as questões-chave para a qual todo mundo quer uma resposta é se a vacina funciona, qual dose oferece proteção... E nós ainda estamos em um jogo de espera."

O estudo mostrou que 90% das pessoas desenvolveram anticorpos neutralizantes após uma dose. Apenas dez pessoas receberam duas doses e todas produziram anticorpos neutralizantes.

"Não sabemos qual é o nível necessário para a proteção, mas somos capazes de maximizar as respostas com uma segunda dose", disse o professor Pollard à BBC.

É seguro?

Sim, mas existem efeitos colaterais.

Não houve reações perigosas, no entanto, 70% das pessoas no estudo desenvolveram febre ou dor de cabeça.

Os pesquisadores dizem que isso pode ser controlado com paracetamol.

Sarah Gilbert, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, diz: "Ainda há muito trabalho a ser feito antes que possamos confirmar se nossa vacina ajudará a gerenciar a pandemia da covid-19, mas esses primeiros resultados são promissores".

Quais são as próximas etapas do teste?

Os resultados até agora são promissores, mas o principal objetivo dos cientistas é garantir que a vacina seja segura o suficiente para as pessoas.

O estudo não mostra se a vacina pode impedir as pessoas de adoecerem ou até diminuir os sintomas da covid-19.

Mais de 10 mil pessoas participarão da próxima etapa dos testes no Reino Unido.

O estudo também foi expandido para outros países porque, neste momento, os níveis de coronavírus são baixos no Reino Unido, o que dificulta a percepção da eficácia da vacina.

Haverá um grande teste envolvendo 30 mil pessoas nos EUA, 2 mil na África do Sul e 5 mil no Brasil.

Também existem pedidos "testes de desafio", nos quais pessoas vacinadas são deliberadamente infectadas com coronavírus. No entanto, há preocupações éticas devido à falta de tratamentos efetivos para a doença.

Quando a vacina estará disponível?

É possível que uma vacina contra o coronavírus seja confirmada como eficaz antes do final do ano no Reino Unido. Mas ela não estará amplamente disponível.

Profissionais de saúde e assistência serão priorizados no país, assim como pessoas que estejam sob alto risco devido à idade ou condições médicas.

É provável que a vacinação generalizada no Reino Unido comece no início do próximo ano, se tudo der certo.

O primeiro-ministro Boris Johnson disse: "Obviamente, estou esperançoso, estou com os dedos cruzados, mas dizer que estou 100% confiante de que vamos receber uma vacina este ano, ou mesmo no próximo ano, é um exagero".

"Nós não chegamos lá ainda", continuou.

E as outras vacinas?

A vacina de Oxford não é a primeira a chegar a esse estágio. Grupos nos EUA e na China também estão divulgando resultados semelhantes.

A empresa americana Moderna foi a primeira a divulgar que sua vacina pode produzir anticorpos neutralizantes. Eles estão injetando o RNA do coronavírus (seu código genético), cujo papel é produzir proteínas virais para desencadear uma resposta imune.

As empresas BioNtech e Pfizer também tiveram resultados positivos com a vacina de RNA.