Covid-19: o que diz a Ciência sobre risco de vacina a idosos de saúde frágil
Eles estão fazendo fila país afora para se proteger do novo coronavírus. Os idosos são um dos principais grupos de risco da covid-19 e estão sendo naturalmente priorizados na vacinação em boa parte do mundo.
Mas as notícias nos últimos meses de que algumas pessoas mais velhas morreram depois de serem imunizadas levantaram dúvidas se um idoso pode ter algum problema por causa da vacina contra covid-19, especialmente se já tiver uma saúde frágil e idade avançada.
Ainda faltam dados cruciais sobre o efeito das vacinas em idosos — não se sabe, por exemplo, a eficácia da maioria delas especificamente para essa faixa etária. Há ainda menos dados sobre os mais velhos.
Mas os idosos não estão sendo imunizados no escuro.
As pesquisas mostraram até agora que as vacinas são seguras e funcionam para eles. Inclusive para os mais vulneráveis.
Os sinais de alerta
O primeiro alerta veio da Noruega. Em meados de janeiro, a Noma, a agência de saúde do país, disse que 23 idosos com a saúde debilitada haviam morrido após receber a vacina da Pfizer — o total subiu depois para 33.
"Não podemos descartar que reações adversas comuns, como febre e náusea, podem contribuir para um curso mais sério e resultado fatal em alguns pacientes frágeis com doenças graves", disse Sigurd Hortemo, o médico-chefe da agência.
Depois, entretanto, o Instituto Norueguês de Saúde Pública divulgou um comunicado dizendo que nenhuma ligação foi estabelecida entre a vacina e quaisquer mortes.
Um comitê da Organização Mundial da Saúde (OMS) também analisou os casos e concluiu que não há sinais de que a vacinação tenha contribuído para as mortes.
Situações semelhantes também já foram descartadas em outros países.
Na Alemanha, o instituto Paul Ehrlich, responsável pela vacinação local, investigou sete mortes de idosos imunizados e afirmou que foram causadas por outras doenças.
No Reino Unido, mais de 400 mortes foram avaliadas até agora, a maioria de pessoas idosas ou que tinham outras doenças. A agência de saúde britânica diz que não encontrou ligações com a vacinação em nenhum caso até agora.
A preocupação na Espanha foi por causa de um surto de covid-19 que matou nove moradores de um asilo depois de que eles tomarem a primeira dose da vacina.
É possível que uma pessoa seja infectada pelo coronavírus se não tomou ainda todas as duas doses que a maioria das vacinas exigem.
Mas as vacinas em si não podem deixar uma pessoa doente — como as pesquisas já mostraram.
Isso é por causa da forma como funcionam. No caso da CoronaVac e da vacina de Oxford, por exemplo, os vírus usados nelas não conseguem se replicar.
"A vacina vai te proteger, os contágios não foram causados pela primeira vacinação", disse o diretor do asilo espanhol, Manuel Dinis, à agência EFE.
O que as pesquisas descobriram
Não se sabe ainda qual é a eficácia da maioria das vacinas especificamente em idosos.
Só duas empresas publicaram dados sobre isso — a Moderna e a Pfizer —, e os resultados apontam que esses imunizantes funcionam para quem é mais velho.
Nem a CoronaVac nem a vacina de Oxford, as duas aplicadas hoje no Brasil, divulgaram dados da eficácia em idosos.
Mas as pesquisas já mostraram que elas e outras não fazem mal e geram uma resposta imunológica em pessoas mais velhas, diz a médica Eliana Bicudo, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia.
"As vacinas são seguras, não matam nem deixam ninguém doente", diz ela.
As pesquisas na verdade mostraram que as vacinas contra a covid-19 têm um efeito menor em idosos.
Isso já era esperado. Vacinas em geral provocam uma resposta mais fraca em quem tem mais idade porque o sistema imunológico envelhece assim como todo o resto do corpo. Quanto mais idoso, pior a resposta.
Mas isso também reduz as chances de a vacina provocar uma reação exagerada do sistema imunológico — algo que pode acontecer com pessoas mais jovens e saudáveis, dizem os autores de um artigo publicado no periódico Age and Ageing, da Universidade de Oxford.
Os cientistas revisaram as pesquisas de vacinas contra a covid-19 em busca de dados sobre idosos, em especial aqueles mais velhos e com saúde frágil.
Eles apontaram que, na maioria dos estudos, os eventos adversos leves e moderados foram menos comuns em pessoas mais velhas.
"Os eventos adversos graves foram muito raros", concluíram os pesquisadores.
'Tem que vacinar, sem dúvida'
"Isso me lembra quando começamos a vacinar os idosos contra gripe há uns 25 anos", diz a infectologista Raquel Stucchi, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Preocupações parecidas com o impacto da saúde dos idosos surgiram lá atrás como está acontecendo agora.
Mas Stucchi explica que as vacinas contra a covid-19 não podem agravar uma doença crônica que a pessoa já tem, nem deixa ninguém doente.
"Não há nenhum efeito adverso que aconteceria com alguém de 90 anos que não aconteceria com quem tem 50 ou 60", afirma a médica.
Ela diz que não há porque desconfiar da segurança das vacinas e lembra que, mesmo que a proteção conferida aos idosos não seja a ideal, elas previnem os casos mais graves.
"Não precisar de internação já é um grande benefício", diz Stucchi.
"Um idoso só poderia deixar de se vacinar se vivesse em uma bolha, isolado do mundo. Como essa situação não existe, tem que se vacinar, sem dúvida."
Mas também é preciso ter um cuidado maior com os idosos que se vacinam, diz Eliana Bicudo, especialmente os mais velhos e debilitados.
Os efeitos colaterais podem cobrar um preço mais alto de quem já tem a saúde frágil.
"Se o idoso tiver febre, é pra ficar preocupado, porque idoso não costuma ter febre", aconselha a médica, que recomenda esperar um dia para ver se passa.
"Se continuar, tem que ir atrás de um médico, porque é outra coisa."
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