O que é embolia gasosa disseminada, identificada em exames do ator Paulo Gustavo
Boletim médico divulgado nesta segunda-feira (03/05) relata ocorrência de embolia gasosa disseminada e diz que situação clínica de Paulo Gustavo 'é instável e de extrema gravidade'.
O que é embolia gasosa disseminada? Ela é muito diferente da embolia pulmonar? Quão grave é esse tipo de embolia e o que tem a ver com a covid-19?
Dúvidas relacionadas à embolia gasosa disseminada cresceram depois que boletim médico sobre a situação do ator Paulo Gustavo, de 42 anos, mencionou esse termo e apontou que "infelizmente, a situação clínica atual é instável e de extrema gravidade".
A nota divulgada na segunda-feira (03/05) diz que "houve piora acentuada do nível de consciência e dos sinais vitais" de Paulo Gustavo e aponta que "novos exames demonstraram ter havido embolia gasosa disseminada, incluindo o sistema nervoso central, em decorrência de uma fístula bronquíolo-venosa".
A BBC News Brasil ouviu médicos pneumologistas e intensivistas para responder às principais dúvidas sobre a embolia causada por ar.
Embolia gasosa
A embolia gasosa ocorre quando bolhas de ar entram no sistema circulatório (onde, em condições normais, só deve circular sangue), causando obstruções.
"Na embolia gasosa, bolhas de ar vão para dentro do sistema circulatório, obstruem a circulação, e levam a região a uma deficiência de oxigenação, que é fundamental para as células, para elas se manterem vivas", explica o médico intensivista José Albani de Carvalho.
Assim, a embolia gasosa é diferente da embolia causada por trombos, em que a obstrução da artéria ou veia ocorre devido a um coágulo.
O médico pneumologista Arthur Feltrin destaca que a embolia por trombos é mais comum e tem um tratamento mais simples: os anticoagulantes, capazes de dissolver o trombo e retomar a circulação.
Como esse ar entra no sistema circulatório?
A nota médica diz que a embolia gasosa do ator Paulo Gustavo ocorreu "em decorrência de uma fístula bronquíolo-venosa".
O que isso significa?
"A fístula é como se fosse comunicação por ruptura de alguma membrana, de duas estruturas - neste caso, veia e bronquíolo, que são duas estruturas que não se comunicam de forma normal", explica Feltrin. "Com essa ruptura de membrana, conteúdo de gás sai do bronquíolo e vai para dentro da veia, e esse gás infelizmente não ficou só no pulmão, ele foi disseminado."
Os médicos ouvidos pela BBC News Brasil não entraram em detalhes sobre a situação do humorista, visto que eles não participam do atendimento de Paulo Gustavo.
Considerando casos de embolia gasosa de forma geral, segundo os médicos, a correção dessa fístula seria a forma de tratar.
A médica pneumologista Patrícia Canto, da Fiocruz, diz que o principal tratamento para casos de embolia gasosa é "identificar o mais breve possível e corrigir esse ponto em que há escape de ar para o sistema venoso", além de medidas de suporte à vida.
Feltrin lembra que, diferente da embolia por trombo, não há um medicamento capaz de retirar o gás de dentro do sistema circulatório.
"O tratamento seria a correção dessa fístula, mas muitas vezes precisa ser cirúrgica, e muitas vezes os pacientes não têm condições de passar por esse procedimento, porque estão instáveis, com ventilador mecânico, circulação extracorpórea, aí não tem como parar esses dispositivos para fazer correção dessa fístula."
Quão grave é a embolia gasosa disseminada?
A disseminação do ar pelo sistema circulatório e os órgãos que são atingidos são os dois principais fatores para determinar a gravidade da situação, segundo os médicos.
"A embolia gasosa pode ser local, afetando um órgão só. Ou pode ser uma situação mais delicada e com mortalidade maior, que é a embolia gasosa disseminada - ou seja, que começa em órgão específico e o gás é disseminado para outros órgãos", diz Feltrin. "Se tem disseminação para pulmão, coração e, principalmente, cérebro, aumenta muito a mortalidade."
O que tem a ver com a covid?
Médicos apontam que casos de embolia gasosa têm relação não com a covid em si, mas com os tratamentos muitas vezes necessários para lidar com as complicações relacionadas à doença.
Patrícia Canto aponta que, quanto maior o tempo de necessidade de ventilação mecânica de uma paciente, maior é a chance de ocorrer complicações.
E Feltrin diz que "a embolia gasosa muitas vezes acaba sendo consequência de complicação de uma ventilação mecânica, de circulação extracorpórea", necessárias em casos graves de covid.
"Ou seja, a covid não causa (embolia gasosa), mas ela é consequência de dispositivos que precisamos usar em casos graves da doença", diz o médico.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.