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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Mundo tem 800 mil suicídios por ano, e pandemia impõe desafio à prevenção

Especialistas concordam que os efeitos da pandemia podem aumentar os fatores comprovados de risco de automutilação - Getty Images/iStockphoto
Especialistas concordam que os efeitos da pandemia podem aumentar os fatores comprovados de risco de automutilação Imagem: Getty Images/iStockphoto

Rebecca Staudenmaier

10/09/2020 07h47

Todos os anos, cerca de 800 mil pessoas em todo o mundo cometem suicídio. Algumas viviam no aconchegado de grandes famílias, outros eram tão solitários que sentiam que não tinham a quem recorrer. Cada morte afeta em média 135 pessoas adjacentes — o que totaliza 108 milhões de pessoas afetadas anualmente por mortes por suicídio.

A situação pode variar muito de país para país. Embora as taxas tenham caído na Alemanha nas últimas décadas, os suicídios são responsáveis por mais mortes do que a soma dos acidentes rodoviários e o uso de drogas ilegais.

O dia 10 de setembro marca o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (WSPD, na sigla em inglês), um evento global anual organizado pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP, na sigla em inglês) e copatrocinado pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Trata-se de um dia para se recordar daqueles que morreram, mas também serve como convocação global para estarmos atentos e cooperativos com as pessoas que nos rodeiam. E neste ano, em particular, os possíveis efeitos da pandemia do coronavírus sobre as taxas de suicídio são um tema de debate entre os especialistas.

Medição do impacto da covid-19

As atividades comemorativas e educativas deste ano decorrem sob o lema "Trabalhando Juntos para a Prevenção ao Suicídio" — e a adaptação do programa às medidas sanitárias destinadas a frear a propagação do coronavírus tem sido um desafio.

"No momento, não podemos nos tocar fisicamente, portanto é ainda mais importante interpretar o lema simbolicamente — que ainda estamos lá um pelo outro e que cuidamos de outros", disse Barbara Schneider, cochefe do Programa Nacional de Prevenção ao Suicídio e chefe do departamento de Doenças de Dependência, da clínica LVR de Colônia.

Especialistas concordam que os efeitos da pandemia de covid-19 podem aumentar os fatores comprovados de risco de automutilação, entre eles isolamento, ansiedade, perda econômica e aumento do consumo de álcool e drogas.

Ao mesmo tempo, os pesquisadores alertaram para que não fossem tiradas conclusões sobre o real impacto da pandemia nas taxas de suicídio, alegando que os dados ainda não existem.

"Ainda não sabemos muito sobre o impacto da pandemia nos suicídios. Mas evidentemente há um forte impacto na prevenção ao suicídio, especialmente quando se trata de prestação de serviços" Thomas Niederkrotenthaler, pesquisador de suicídio e tesoureiro da IASP

Niederkrotenthaler e dezenas de outros pesquisadores estão ajudando a coordenar e compilar estudos em todo o mundo sobre a prevenção ao suicídio durante a pandemia do novo coronavírus. A expectativa é poder propor políticas que ajudam as pessoas a enfrentar a crise atual e pandemias futuras.

"Acho que é importante observar que não temos necessariamente que reinventar a roda por causa da pandemia, mas realmente precisamos ver como podemos traduzir o que sabemos de antes da pandemia para a situação em que estamos", disse Niederkrotenthaler.

Busca por ajuda online

Embora as restrições sociais existentes devido ao coronavírus tenham fechado portas, a pandemia também abriu janelas digitais. As linhas diretas de atendimento para crises e os grupos locais expandiram seu alcance para oferecer sérvios online, sessões em grupo foram organizadas por meio de videoconferências e os terapeutas seguiram podendo se reunir com seus pacientes — ainda que virtualmente.

"Esta é uma crise única, também uma pandemia bastante singular, porque, pela primeira vez, temos realmente a oportunidade de usar sérvios online", afirmou Niederkrotenthaler, que também chefia a unidade de pesquisa sobre suicídio da Universidade de Medicina de Viena.

Polêmica com vídeo no TikTok

A internet pode ser uma fonte de alívio e conforto para aqueles que lidam com pensamentos suicidas, mas os especialistas também alertaram sobre os danos que alguns conteúdos nas mídias sociais podem causar.

O aplicativo de compartilhamento de vídeos TikTok recebeu duras críticas nos últimos dias depois que um vídeo de um aparente suicídio começou a circular e, em seguida, espalhou-se para outras plataformas de mídias sociais.

O TikTok, que é usado principalmente por usuários mais jovens, comunicou estar trabalhando na remoção do vídeo, que foi inicialmente publicado no Facebook. Pais e escolas foram alertados sobre o conteúdo - houve relatos de jovens internautas que se sentiram traumatizados após terem assistido ao clipe.

Vídeos semelhantes apareceram em outros sites, incluindo Facebook, Instagram e Twitter, o que tem gerado um clamor crescente para que os gigantes das mídias sociais tomem medidas e precauções em relação a conteúdos considerados perturbadores.

"A ajuda é possível"

Não existe uma causa única para o suicídio. Para as pessoas que lutam contra a depressão e pensamentos suicidas, a mensagem dos especialistas é bastante clara: você não está sozinho.

"É importante oferecer contato e um relacionamento com a pessoa afetada e manter esse contato", afirmou Schneider. "Além disso, caso perceber que não é o suficiente, ou caso considere que seja insuficiente, peça ajuda."

Mesmo em tempos de distanciamento físico, segue importante acompanhar as pessoas que podem estar lidando com pensamentos suicidas e perguntar diretamente a respeito. "Em geral, as pessoas devem ter a certeza de que a ajuda é possível", acrescentou Schneider.

Centro de Valorização da Vida

Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda especializada como o CVV (Centro de Valorização da Vida) e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.