Paralisia: pólio chega à fronteira e acha milhares de crianças sem vacina
Após permanecer mais de 30 anos livre da poliomielite, a América registrou um caso em março deste ano, no Peru, em uma criança indígena.
Por se tratar de uma infecção grave e transmissível, a Organização Panamericana de Saúde (Opas) e o Unicef emitiram alertas de risco de reintrodução da doença no continente.
O risco é alto na tríplice fronteira entre Peru, Colômbia e Brasil.
Há pelo menos quatro anos, as taxas de vacinação no Brasil estão significativamente abaixo do recomendado.
A cobertura vacinal contra a doença entre crianças menores de 5 anos foi, segundo dados do Ministério da Saúde, de:
- 84,19% em 2019;
- 76,79% em 2020;
- 71,04% em 2021;
- 77,12% em 2022.
Nos dois estados que fazem fronteira com o Peru, a cobertura em 2002 está abaixo da média nacional:
- no Acre, foi de 71,4%;
- no Amazonas, de 76,9%
A cada dez crianças menores de 5 anos que deveriam ter sido imunizadas, somente cerca de sete foram de fato.
Todos os estados correm risco, menos Amapá e Paraíba, que já voltaram a recuperar altas coberturas vacinais em 2022, segundo dados do DataSUS. Todos os outros estão com coberturas abaixo da recomendação da OMS para o controle da doença (95%)."
Márcio Nehab, pediatra e coordenador da residência médica em imunologia pediátrica do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF)
Entre 2019 e 2021, 1,6 milhão de crianças no Brasil não tomaram nenhuma dose de vacina contra a pólio e 2 milhões ficaram sem as doses recomendadas.
Em 2022, 412.836 crianças não receberam nenhuma dose da vacina no ano passado, segundo dados do Ministério da Saúde.
O Brasil está livre da poliomielite desde 1989, graças a uma campanha robusta de imunização que manteve a cobertura vacinal de todo o país em níveis acima dos 95% para impedir a circulação do vírus.
É preciso buscar ativamente as crianças não vacinadas
Acre é o estado com a menor cobertura vacinal (só 39%). Ele faz fronteira com o Peru. São 20.090 crianças com a vacinação incompleta, e 2.551 sem qualquer vacina contra pólio, de acordo com dados da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre).
Na sequência, estão Rio de Janeiro (50,9%), Roraima (53,4%) e Distrito Federal (54,4%).
Para estarem protegidas, as crianças de até 5 anos devem ter completado o esquema vacinal. São cinco doses: três da Vacina Inativada Poliomielite (VIP), dada aos dois meses, aos 4 meses e aos seis meses; e duas de reforço da Vacina Oral Poliomielite (VOP), dadas aos 15 meses e aos 4 anos.
A vacina oral VOP é a famosa vacina do Zé Gotinha.
Por que devo vacinar?
Qualquer pessoa, independentemente da idade, que não tenha se imunizado contra a pólio deve se vacinar.
Também conhecida como paralisia infantil, por poder paralisar os membros inferiores, a poliomielite é uma doença debilitante e contagiosa, infectando tanto crianças quanto adultos não imunizados.
A infecção pelo poliovovírus se dá por meio do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca das pessoas doentes. A única forma de prevenção é a vacinação.
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