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Saiba como o açúcar do leite materno pode beneficiar o cérebro do bebê

Amanda Caroline da Silva/Getty Images
Imagem: Amanda Caroline da Silva/Getty Images

Julia Vergin

06/08/2023 09h53

Estudo indica que mio-inositol determina número e tamanho das sinapses cerebrais. Dado é de especial importância para os bebês não aleitados, contribuindo para aperfeiçoar as fórmulas de leite artificial.

Amamentar traz numerosas vantagens para a saúde, não só da mãe como do recém-nascido. O leite materno contém anticorpos que protegem o sistema imunológico ainda não inteiramente desenvolvido do bebê. Por sua vez, mães que aleitam têm menor risco de câncer de mama e de ovário, e de distúrbios metabólicos como o diabetes mellitus.

Pesquisadores do Human Nutrition Research Center on Aging (HNRCA) da Universidade Tufts de Massachusetts, EUA, dedicado ao papel da nutrição no envelhecimento humano, constataram uma relação entre o desenvolvimento cerebral dos fetos e o mio-inositol (ou inositol), um açúcar alcoólico contido no leite materno.

O estudo "Componente do leite humano mio-inositol promove conectividade cerebral", publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Science (PNAS), indica que a substância é encontrada em altas doses sobretudo nos primeiros meses da amamentação —coincidindo, portanto, com o período em que as sinapses se desenvolvem com rapidez especial no cérebro dos bebês.

Como o estudo foi feito

No âmbito do estudo Global Exploration of Human Milk (GEHM), os cientistas recolheram amostras de mães saudáveis da Cidade do México, de Cincinnati (EUA) e de Xangai (China).

A concentração do micronutriente mostrou-se estável, independentemente de fatores como origem étnica ou histórico social, que pudessem, por exemplo, influenciar os hábitos alimentares das participantes.

Testes adicionais em roedores e em neurônios humanos confirmaram que o inositol eleva tanto o tamanho quanto o número das conexões neuronais no cérebro em formação.

"Desde o nascimento, a formação e refinamento das interconexões cerebrais é determinada tanto por forças genéticas e ambientais quanto pelas experiências humanas", explica, em comunicado da Universidade Tufts, Thomas Biederer, chefe da equipe do HNRCA e principal autor da pesquisa.

A influência desses fatores é especialmente decisiva em duas fases da vida: na primeira infância e no envelhecimento, quando as ligações sinápticas vão gradualmente se perdendo.

Grãos, farelo e melão para um cérebro melhor?

Alimentação e suprimento de nutrientes são de particular importância para as crianças pequenas, ainda mais em idade de aleitamento, já que nelas a barreira hematoencefálica é mais permeável que nos adultos, e os micronutrientes chegam mais facilmente até o cérebro.

"Para mim, como neurologista, é fascinante quão profundos são os efeitos cerebrais dos micronutrientes", comenta Biederer.

Pesquisas anteriores mostraram que, nas crianças, o nível de inositol no cérebro cai com o avanço da idade. Adultos que sofrem de depressão forte e distúrbios bipolares igualmente apresentam taxas mais baixas da substância do que os indivíduos saudáveis.

No entanto, até o momento, não está claro se a deficiência de inositol é a causa dessas doenças ou um efeito colateral dos medicamentos usados no tratamento.

O mio-inositol apresenta a metade da doçura da sacarose (açúcar de mesa), sendo encontrado em certos tipos de cereal e em feijões, farelo e melões.

Devido à precocidade dos achados científicos e das questões em aberto, contudo, Biederer não aconselha adultos a atentarem especialmente para o consumo da substância.

Para os bebês que não são amamentados, por outro lado, as conclusões do estudo poderão ser decisivas, contribuindo para aperfeiçoar as fórmulas de leite artificial, ressalva o neurologista.