Cientistas recriaram música do Pink Floyd a partir de ondas cerebrais
Roberta Jansen;
17/08/2023 09h51
O clássico Another Brick in the Wall, do Pink Floyd, foi recriado por cientistas da Universidade de Berkeley, na Califórnia, nos EUA, com base na gravação de ondas cerebrais de pacientes.
É a primeira vez que uma canção é decodificada a partir do registro da atividade elétrica do cérebro.
O avanço pode ajudar a restaurar a musicalidade natural do discurso de pessoas que sofrem de doenças neurológicas, como a ELA (esclerose lateral amiotrófica), que prejudicam a fala.
Os cientistas analisaram gravações de ondas cerebrais de 29 pacientes submetidos a cirurgias para o tratamento da epilepsia.
Durante a intervenção cirúrgica, eles escutavam um trecho de três minutos da canção mais famosa do álbum The Wall, de 1979.
A atividade cerebral foi captada por meio de eletrodos colocados diretamente no cérebro dos voluntários, enquanto eles eram operados.
Posteriormente, as gravações foram decodificadas por meio de inteligência artificial.
Apesar de o som soar um pouco abafado, é possível reconhecer facilmente o verso "All in all, it's just another brick in the wall", bem como a melodia e o ritmo da música reconstruída. O trabalho foi publicado na última terça-feira, 15, na PLoS Biology.
"Parece um pouco que eles estão cantando debaixo da água", comparou o neurologista Robert Knight, principal autor do estudo.
O pesquisador acredita que, se os eletrodos forem colocados mais próximos uns dos outros, será possível melhorar a qualidade da reconstrução.
"Em média, a distância entre um eletrodo e outro era de cerca de 5 milímetros, mas em dois pacientes, a separação foi de apenas 3 milímetros. Foram justamente as melhores performances em termos de reconstrução", afirmou o neurologista.
Até agora, as tentativas de decodificar um discurso a partir de gravações de ondas cerebrais não tinham conseguido recriar a musicalidade da voz, mantendo sempre um tom robótico —como acontecia, por exemplo, com a fala do cientista britânico Stephen Hawking, que sofria de ELA.
O avanço deixa os pesquisadores mais próximos de conseguir recriar o ritmo e a entonação do discurso a partir de sinais cerebrais. "A música é, por natureza, emocional e prosódica —tem ritmo, ênfase, sotaque e entonação", explicou Knight.
"Contém um espectro muito maior de coisas do que fonemas limitados de qualquer linguagem, o que poderá adicionar outra dimensão a implantes decodificadores de discurso."