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Dói, funciona? Conheça touca que ajudou Sabrina Parlatore a vencer o câncer

Thamires Andrade

Do UOL

10/01/2017 04h00

Manter a autoestima durante o tratamento de câncer não é uma tarefa simples. Quem precisa passar por sessões de quimioterapia, além de sofrer com os efeitos colaterais da medicação, também perde os cabelos. Mas um produto promete conservar de 50 a 80% dos fios: a touca hipotérmica.

Usada pela cantora e apresentadora Sabrina Parlatore, o produto contribuiu muito para seu tratamento. "A quimio provoca muitas alterações no corpo. Fiquei inchada, com a pele muito fina, então, manter o cabelo foi muito importante. Nos momentos mais frágeis, me olhava no espelho e pensava que, pelo menos, estava com cabelo. Não sei como lidaria se os fios tivessem caído", explicou a apresentadora, que foi tratada no CPO (Centro Paulista de Oncologia).

Para Liana Lage, oncologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, o principal benefício da touca é fortalecer o psicológico do paciente. "É muito importante que ele esteja motivado e esperançoso e manter a aparência ajuda muito, pois, assim, ele não fica estigmatizado como um paciente com câncer. Manter os cabelos ajuda a deixá-los motivados para encarar o tratamento que não é fácil e demanda tempo", explica.

Mas, afinal, o que é a touca hipotérmica?

A touca de plástico é recheada com gel térmico que atinge -20ºC e atua com o princípio da vasoconstrição, ou seja, a baixa temperatura estreita os vasos sanguíneos, diminuindo o fluxo de sangue no local. Portanto, segundo Liana, a quantidade de quimioterápicos que chega nas células capilares é menor, diminuindo a queda de cabelos.

Na Beneficência Portuguesa de São Paulo, a oncologista explica que os pacientes devem colocar a touca 30 minutos antes de receber a quimioterapia. "Como a touca só é eficiente quando está bem gelada, o paciente precisa trocar de touca a cada 30 minutos e permanecer com ela de 30 minutos até duas horas após a quimioterapia ter acabado", explica.

Sabrina relembra que precisou usar o produto durante as 16 sessões de quimio a que foi submetida. "Tinha que usá-la 30 minutos antes e ficava com ela até 2h30 depois de receber o medicamento. Cheguei a ficar com a touca por seis horas", conta.

Todo mundo pode usar?

Não. Ainda que a touca não tenha efeitos colaterais, ela não funciona em todos os casos. Sendo assim, Liana explica que, antes de mais nada, é preciso buscar indicação com o oncologista. "Tudo depende do remédio e da dose que será usada no tratamento para avaliar se a touca será eficaz ou não. No entanto, pacientes com câncer no couro cabeludo ou hematológico, como leucemia e linfático, também não são indicados", fala.

Funciona?

Segundo Liana, a touca preserva de 50 a 80% dos fios. A apresentadora relata que perdeu cerca de 30% do cabelo. "Eu notava que estava caindo, mas quem não sabia do tratamento, não fazia ideia. O bom é que o cabelo caiu de forma homogênea, não ficaram falhas e acho que é por isso que ninguém percebe. Claro que o cabelo fica mais fino, sem brilho e mais ralo, mas vale muito a pena não ficar careca", explica.

As sobrancelhas da apresentadora Sabrina Parlatore também caiu durante a quimioterapia - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
As sobrancelhas de Sabrina também caíram durante a quimioterapia
Imagem: Reprodução/Instagram

No entanto, como a touca é específica para o couro cabeludo, as sobrancelhas, cílios e outros pelos do corpo caem durante o tratamento. "O bom foi que só perdi os cílios e as sobrancelhas nos últimos meses, pois me incomodou bastante. Não dava para sair sem maquiagem, sem desenhar a sobrancelha. Como não sei colocar cílios postiços, disfarçava com sombra e usava óculos escuros", conta.

E dói?

Apesar de todas as vantagens, usar a touca causa incômodo nos pacientes, principalmente no início, já que a temperatura é muito fria. "Nós recomendamos que eles venham bem agasalhados, usem dois cobertores e também respeitamos a tolerância. Às vezes, até tiramos a touca um pouquinho, pois algumas pessoas sentem dor de cabeça, mas depois se acostumam", explica a oncologista.

Sabrina também se incomodou bastante ao usar o produto e relatou muitas dores de cabeça, principalmente na hora que a touca era colocada. "Depois eu tomava um remédio para combater esse sintoma e passava. Os primeiros 10 minutos são os piores, pois é uma sensação de resfriamento, parece que alguém está puxando e queimando seu couro cabeludo. Ficava até com um pouco de enjoo por conta disso, mas valeu a pena", conta.

Após usar a touca, ainda é preciso tomar certos cuidados, como não lavar o cabelo por uma semana, evitar manusear os fios ou usar secador, chapinha ou qualquer química. "Essas atitudes prejudicam a eficácia da touca, por isso, não dá para tingir o cabelo ou ficar prendendo e fazendo penteados", diz Liana.

Cada sessão custa, em média, de R$ 200 a R$ 300 e ela está disponível em hospitais particulares e clínicas especializadas. Em nota, o Ministério da Saúde afirma que, por ser um produto, e não um procedimento, a touca não é incorporada ao tratamento quimioterápico ofertado pelo SUS (Sistema Único de Saúde). A Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia) ainda não recebeu pedidos de incorporação desta técnica para a rede pública de saúde. No entanto, o ministério informa que os hospitais têm autonomia para oferecer o produto aos pacientes, mas a pasta não cobre a compra nem utilização.