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Balão, como de Marília, pode causar vômito, mas promete reduzir 20% do peso

Estilo Marília Mendonça - Visual basicão - Reprodução/Instagram/mariliamendoncacantora
Estilo Marília Mendonça - Visual basicão Imagem: Reprodução/Instagram/mariliamendoncacantora

Denise de Almeida

Do UOL

10/03/2017 19h50

Para emagrecer, a cantora sertaneja Marília Mendonça teve um balão intragástrico colocado em seu estômago, mas cerca de uma semana depois ela retirou o dispositivo, alegando que não havia se adaptado. Sérgio Barrichello, gastroenterologista e especialista em emagrecimento, diz que o fato pode acontecer, mas não é a rotina.

"Quando o paciente quer colocar um balão, ele precisa saber que provavelmente vai ter náuseas e vômitos neste início de tratamento, nos três primeiros dias principalmente. Mas se resolve tomando remédio em casa, como se você tivesse uma cólica e vômito por alguma virose. E aí a vida continua de maneira bastante tranquila", explica.

Com o uso desses remédios, a retirada precoce do acessório, como fez Marília, acontece em um número muito pequeno de pacientes, relata Barrichello. "Juntamos os 40 médicos que mais fazem (colocação do) balão no Brasil, totalizando um número de 40 mil procedimentos, e com os dados coletados criamos o Consenso Brasileiro de balão intragástrico. Na análise, nós chegamos a um número próximo de 2,5% de intolerância ao balão. Ou seja, é muito pouco".

O especialista conta que acompanhou o caso de Marília junto com a equipe médica que tratou a cantora em Goiânia.

"Sei do caso dela bem de perto. À distância eu acompanhei o que estava acontecendo. Me parece que de fato ela teve uma intolerância, mas provavelmente se ela persistisse mais um pouco aqueles sintomas iniciais melhorariam progressivamente, até sumir e ela conseguir terminar o tratamento".

Como funciona

O balão intragástrico é uma esfera feita de silicone, colocada no estômago do paciente por uma endoscopia. O volume do balão vai de 400ml a 700ml, mas ele entra vazio e é inflado já dentro do estômago. É a equipe médica que avalia qual será o volume adotado.

O especialista conta que o dispositivo fica de seis meses a um ano dentro do organismo e que, em média, o paciente perde nesse período de 15 a 20% do peso corporal total.

Barrichello explica que o dispositivo é uma ferramenta de emagrecimento, que serve para que o paciente tenha saciedade precoce e coma em menor quantidade. "Se ele comer a mais, às vezes se torna desconfortável, causando até náuseas e vômitos. Não é uma regra que isso aconteça, já que o estômago é um órgão elástico. Se o paciente quiser forçar a barra, ele consegue comer mais".

Um gole a cada 20 minutos

O tratamento com o balão intragástrico exige uma dieta rigorosa no início. Os primeiros dez dias, aproximadamente, permitem apenas a ingestão de líquidos. "Nas minhas orientações, peço para tomar nos primeiros três dias 100ml por hora, mas um gole a cada 20 minutos, mais ou menos", revela Barrichello.

"Imagino que a Marília tenha tido uma grande dificuldade para seguir essas orientações e isso sim pode ter perpetuado o quadro de náuseas e vômitos. É muito difícil a gente avaliar o que aconteceu. há inúmeras situações. Normalmente os colegas que acompanham tentam de diversas formas resolver o problema: mudando a medicação, orientado a dieta, e normalmente se resolve com uma certa tranquilidade”.

Paciente engorda depois de tirar o balão?

Como o balão é apenas uma barreira física no estômago, depois de retirado a luta é para que o paciente não engorde novamente os quilos que já perdeu. O segredo para lutar contra isso é a reeducação alimentar. "A partir do momento que você coloca o balão, a pessoa é instruída a uma melhora de hábitos. Por exemplo, deve comer devagar, nas horas corretas, escolher alimentos que deem saciedade e evitar fast food, macarrão, pizza, coisas que dão uma saciedade fugaz. Quando você tira o balão, deve obrigatoriamente manter os hábitos saudáveis".

Barrichello aponta que entre 40% e 50% das pessoas que usaram balão intragástrico ganhem peso novamente após o fim do tratamento. "Com a cirurgia bariátrica, que você corta o estômago e desvia o intestino, você tem um reganho de 30%. Não é o método que vai resolver a vida do paciente", explica.

"É muito importante enfatizar que a obesidade é uma doença gravíssima, que não tem cura. Todo mundo que emagreceu está fadado ao retorno, se por ventura não mudar o comportamento, não mudar o hábito. A pessoa tem que mudar a vida dela”.

Para quem é indicado?

O balão intragástrico é uma técnica para combater obesidade e sobrepeso. Barrichello explica que ele é indicado para pacientes com IMC (índice de massa corporal) acima de 27, que estejam com sobrepeso. "Há pacientes que vivem no limite do IMC 25, que é um peso normal pela Organização Mundial da Saúde, mas tem 10kg, 12kg a mais, e também podem usar o dispositivo", conta o especialista.

Já para ter indicação de cirurgia bariátrica o IMC do paciente precisa ser de 40 ou de 35, se ele tiver doenças associadas à obesidade, como pressão alta, diabetes ou problemas articulares, por exemplo. "Tem pacientes que, mesmo com a indicação da cirurgia bariátrica, preferem o balão. Apesar da cirurgia ser muito segura, há quem não se sinta à vontade para fazer uma intervenção maior", relata o médico.

Na maioria das vezes, a perda de peso do paciente que realiza cirurgia bariátrica é maior do que a de quem usou o balão, mas Barrichello explica que são métodos completamente diferentes. "Na realidade a indicação precisa ser muito bem feita. É muito importante escolher o procedimento mais adequado e ter um acompanhamento também muito adequado".