Câncer do humorista Paulo Silvino é o 3º de maior incidência entre homens
O humorista Paulo Silvino morreu aos 78 anos nesta quinta-feira. O ator lutava contra um câncer no estômago e chegou a retirar o tumor em julho do ano passado. De acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o tipo de câncer de Paulo é o terceiro de maior incidência entre os homens.
"O câncer de estômago acontece quando alguma célula sofre mutação e começa a se multiplicar de maneira errada, dando origem a um tumor, que nada mais é do que a multiplicação desordenada de células anormais", explica Renata Arakelian, oncologista do CPO (Centro Paulista de Oncologia), em São Paulo.
Segundo a oncologista, grande parte desses tumores não são hereditários e surgem sem uma causa aparente, sendo que a incidência da doença é maior em pessoas acima dos 50 anos.
Sintomas vagos dificultam diagnóstico
Alguns tumores podem ser assintomáticos, ou seja, não apresentam sintomas, só sendo diagnosticados por exames de rotina, como a endoscopia. Enquanto outros podem provocar diversos sintomas, como náuseas, vômito, dor abdominal, uma sensação de dor e queimação na boca do estômago, como uma azia constante, além de dificuldade para engolir, perda de peso, falta de apetite e má digestão.
"O problema é que esses sintomas são muito variados e vagos, são comuns em várias outras doenças e isso atrasa o diagnóstico", explica Renata.
Segundo Auro Del Giglio, oncologista do HCor (Hospital do Coração), quanto antes o tumor for diagnosticado, maior a taxa de cura. No entanto, essa não é a realidade brasileira.
"Cerca de 80% dos casos de câncer de estômago no Brasil são descobertos em um estágio avançado. Infelizmente, não temos uma política pública de prevenção do câncer de estômago. Algo como fazer endoscopia a cada três anos para quem tem fatores de risco", explica Moura.
Tratamento
Após o diagnóstico, Renata explica a necessidade de fazer o estadiamento, processo que irá determinar a extensão do câncer. "Assim, a gente consegue descobrir qual o estágio da doença, se ela só está localizada no estômago ou se alguma dessas células caiu na corrente sanguínea e se alojou em outro órgão", fala.
O objetivo do estadiamento é definir o tratamento mais preciso para o paciente. Caso a doença esteja em um estágio inicial, a abordagem pode ser uma raspagem no estômago ou uma cirurgia para retirada do tumor.
No entanto, se o tumor estiver um pouco mais enraizado, além da cirurgia para retirá-lo, será preciso fazer quimioterapia ou radioterapia. "Chamamos de tumor enraizado quando as células de tumor se alojaram em gânglios próximos ao estômago. Ou seja, não adianta só retirar o tumor, é preciso dos outros tratamentos para acabar com as células", explica Renata.
Tumor de estômago Paulo é o mais comum
Ainda que não exista uma causa para o câncer de estômago, há alguns fatores de risco, como uma alimentação rica em sal, alimentos defumados, consumo excessivo de álcool e tabagismo. “Outro fator de risco é a infecção por H. pylori, bactéria comum no nosso estômago que pode converter substâncias de alguns alimentos em substâncias químicas, provocando mutações e alterações no DNA das células”, explica Renata.
O câncer de estômago se apresenta em três tipos: adenocarcinoma, tipo de tumor de Paulo e que correspondente a 95% dos casos de câncer nesse órgão registrados no Brasil, além de o linfoma e o leiomiossarcoma, que juntos representam 5% dos casos.
"O adermocarcinoma é quando o tumor vem de células de revestimento, de glândulas. No caso do estômago, o órgão é revestido por um tecido glandular, chamado de epitélio. O adermocarcinoma ocorre quando as células desse tecido sofrem mutações", explica Robson Moura, oncologista e presidente da SBC (Sociedade Brasileira de Cancerologia).
Perda de apetite
Ainda que a oncologista do CPO acredite que a quimioterapia atual esteja mais tolerável para os pacientes do que as do passado, ainda assim, o medicamento tem uma série de efeitos colaterais. Um deles foi citado pelo próprio ator Paulo Silvino em entrevista ao UOL, realizada em novembro último.
"O que está sendo terrível para mim é que perdi o paladar, não sinto o gosto de nada, mas tenho que comer para não morrer. Me alimento de massas, purês, carne moída. Por causa disso, perdi 15 quilos. Pesava 75, agora estou com 59, 60 quilos", falou na ocasião.
Segundo os especialistas ouvidos pela reportagem, essa perda de paladar não é por conta da doença, mas sim, do tratamento. “Um dos efeitos colaterais do tratamento é a alterar a sensibilidade das papilas gustativas da língua e isso muda um pouco o paladar. O paciente sente um gosto mais azedos nos alimentos”, fala Renata.
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