Esclerose múltipla: mitos e verdades da doença que atinge mais mulheres
Uma das definições para o termo esclerosado, segundo dicionário Houaiss, é de "amalucado ou com as faculdades mentais em declínio; que perdeu o juízo; maluco". Essa explicação, talvez, ajude a entender a confusão que muita gente ainda faz com a esclerose múltipla, doença que afeta cerca de 35 mil pessoas no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde.
Por causa do adjetivo esclerosado, muita gente ainda acha que a esclerose múltipla afeta pessoas idosas, acelerando o processo de senilidade. Não poderiam estar mais enganados. A doença, hoje, tem o pico de predominância em jovens, entre 20 e 35 anos, principalmente mulheres.
Para este dia 30 de agosto, dia Nacional de Conscientização à Esclerose Múltipla, o UOL conversou com dois neurologistas para explicar o que é a doença e, principalmente, desvendar alguns mitos e confusões que muita gente faz em relação à esclerose múltipla.
Afinal, o que é a doença?
A esclerose múltipla é uma doença autoimune. O sistema imunológico do doente identifica a bainha de mielina, que é o revestimento dos neurônios, como um agente estranho e a ataca. Isso acaba dificultando a transmissão do impulso nervoso. "Como a doença afeta a condução do impulso, todos os sintomas tem relação com esse impedimento da condução nervosa", explicou o médico Rodrigo Thomaz, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein. Por isso, os sintomas da doença são muito variados.
Para alguns, começa na visão. Um dos olhos começa a falhar ou aparece uma mancha escura, seguida de dor. É a chamada neurite óptica. Outro sintoma pode ser o desequilíbrio, por causa de lesões no tronco encefálico. O paciente também pode sentir tontura persistente, dores faciais e perder força nos membros.
A esclerose múltipla atinge mais as pessoas idosas?
Não, a maior parte dos doentes são jovens entre 20 e 35 anos. A incidência também é maior em mulheres, com o dobro de casos do que homens. "O termo esclerose pode remeter a uma pessoa idosa. No entanto, esclerose significa endurecimento de tecido, apenas isso. A esclerose múltipla atinge mais frequentemente adultos jovens. Crianças e pessoas com 45, 50 anos também podem ter a doença, mas é muito mais raro", explica Thomaz.
A doença leva à demência?
Essa é mais uma confusão que muita gente faz com o termo esclerosado. "Antigamente, demência por arterioesclerose era a mais comum. Isso antes do mal de Alzheimer. Por isso, quem sofria de problemas relacionados à demência era chamada de esclerosado", explicou o médico Mauricio Hoshino, neurologista do Hospital Santa Catarina.
No entanto, apesar de os sintomas físicos serem mais frequentes, como fadiga, formigamento, perda de força muscular e dificuldades para andar, muitos pacientes também sofrem com problemas de cognição. Não é raro ver pacientes como dificuldades de memória, de atenção e, principalmente, na velocidade do processamento de informações dentro do cérebro.
Se isso ocorrer no começo da doença, nos primeiros episódios de surto, a chance desses problemas serem revertidos é grande. Conforme o tempo vai passando e o número de lesões aumentar, fica mais difícil se recuperar totalmente.
"Ao contrário do que muitos acham, os casos de forte declínio intelectual são vistos apenas em poucos pacientes e somente depois de muitos anos da doença e uma forte carga de lesão", afirma Hoshino.
Quem tem esclerose múltipla está condenado à cadeira de rodas?
O paciente pode ter uma vida absolutamente ativa e produtiva, mesmo com esclerose múltipla. A doença não é atestado de óbito ou de invalidez.
"Não é uma doença tão rara. O que acontece é que muita gente não diz abertamente que sofre de esclerose múltipla por conta do preconceito. Mas os casos de pacientes com vida ativa é grande", contou Hoshino.
O importante é que a doença seja detectada precocemente e que o tratamento seja iniciado o mais rápido possível. Quanto menos surtos tiver o paciente, melhor para que, no futuro, fique sem sequelas.
Como os remédios fazem muito mal, vale a pena investir em tratamentos alternativos?
Existem vários remédios usados no tratamento de esclerose múltipla, como os imunomoduladores e imunossupressores, por exemplo. Muitos causam efeitos colaterais que, de fato, incomodam os pacientes. Os efeitos colaterais mais comuns vão de enjoo a mal-estar, dependendo do remédio.
Muitas vezes, o doente se sente bem, sem nenhum tipo de sintoma, sem fazer nenhum tipo de tratamento. Isso porque a doença depende muito de paciente para paciente. Animados com essa melhora, muitas vezes inexplicável e temendo efeitos colaterais, alguns doentes decidem interromper o tratamento convencional para adotar exclusivamente um método alternativo --por exemplo, a ingestão de superdoses de vitamina D.
Para o médico Rodrigo Thomaz, essa atitude é arriscada. "Pode haver uma falsa percepção de que o tratamento alternativo está fazendo efeito. O período assintomático pode ser grande. O surto pode parar. Daí se tem a falsa impressão de que a terapia alternativa pode estar dando certo", alertou Thomaz.
"No entanto, o medicamento indicado pelo médico vai modulando a imunidade. O paciente tem de acreditar que o remédio foi desenvolvido para o bem. Com o tratamento convencional, as pessoas têm menos surtos e vão ficar menos debilitadas no futuro", completou.
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