"Descobri um câncer no cérebro quando estava grávida da minha filha"
A advogada Gisele Mansour, hoje com 44 anos, teve uma série de convulsões na reta final da gestação, em 2007. A culpa do sintoma, que levou seus médicos a realizarem um parto de emergência, era um câncer no cérebro --que nem sabia que tinha. Neste depoimento, ela conta sua história de superação.
"Estava na reta final de gestação da minha primeira e única filha. Certa noite, enquanto tirava uma soneca em um dos quartos de casa, meu marido escutou um barulho estranho e foi checar o que estava acontecendo. Ele me encontrou tendo uma convulsão, algo que nunca havia acontecido na minha vida. Corremos para o hospital, onde tive mais quatro convulsões e, por fim, foi necessário fazer um parto de emergência.
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Como minha filha nasceu por volta da 32ª semana de gravidez, ela foi levada imediatamente para a UTI Neonatal. Só consegui conhecê-la pelo vidro da incubadora, 48 horas depois, pois também fui encaminhada para a UTI. Ganhei alta após cinco dias, mas voltava diariamente para acompanhar minha bebê, que saiu do hospital somente treze dias após o parto. Ao investigarem o motivo das convulsões, os médicos encontraram um tumor no meu cérebro.
O neurocirurgião que me atendeu logo após tudo acontecer alertou para a necessidade de tirar aquilo, independentemente da gravidade. Era um astrocitoma, graus 2 e 3. Com a biópsia, descobriram que tinha o tamanho de uma ameixa e estava comigo entre seis e oito anos, pelo menos. Pensando hoje, acredito que não tenha sentido nenhum sintoma estranho. No máximo, algumas crises de enxaqueca, o que tenho até hoje, inclusive. Nada a mais.
Meses difíceis
Vinte e dois dias após tudo acontecer, voltei a ser internada para fazer a cirurgia. Era 2 de junho de 2007 e o procedimento de retirada do tumor foi um sucesso. Por conta do grau dele, precisei fazer sessões de quimioterapia e de radioterapia por um tempo, como forma de controle. Foram meses difíceis e meu ex-marido e minha mãe me ajudaram muito. Nunca pegava a minha filha no colo para dar mamadeira quando estávamos sozinhas, por exemplo, pois tinha medo de ter alguma nova convulsão e derrubá-la no chão.
Deixava ela no berço até o último minuto e, quando pegava, já era para sentar na poltrona. Se acontecesse algum problema, a queda seria de, no máximo, um metro. Mas nunca aconteceu nada do tipo. Mesmo cheia de leite, também não pude amamentá-la por conta de toda a medicação fortíssima que tomei até o último ciclo de tratamento, em fevereiro de 2008. Passada essa fase, foi só me recuperar.
Vivo um dia de cada vez
Tudo o que passei mudou a minha vida inteira, literalmente deixando meu mundo de cabeça para baixo. Antes de isso acontecer, eu trabalhava como advogada na Marinha do Brasil. Na época, saí de licença, mas depois acabei reformada pela malignidade desse tipo de câncer, que tem chances de retorno de cerca de 50%. Foi uma aposentadoria compulsória, não tive escolha.
Hoje, faço ressonância magnética religiosamente a cada seis meses, além de tomar anticonvulsivantes, que ajudam a evitar novas convulsões. Será assim para o resto da minha vida Também tive um problema em relação ao crescimento dos meus cabelos, mas acabei fazendo um tratamento que me ajudou bastante a melhorar esse aspecto. Ainda cuido da minha filha, hoje com dez anos, e sou artista plástica. Também criei um blog, chamado "Eu tive um câncer no cérebro" na tentativa de ajudar e esclarecer as pessoas sobre o problema.
O médico sempre ressalta a importância de me cuidar. Isso porque ainda existem chances do tumor voltar, mesmo já tendo passado dez anos. Mas estou tranquila quanto a isso, vivo um dia de cada vez."
O que é um astrocitoma?
De acordo com o oncologista clínico Fernando Maluf, membro associado do American Cancer Society (Sociedade Americana do Câncer), o astrocitoma é um dos tumores mais comuns que nascem no cérebro, sendo perfeitamente possível a pessoa não ter sintomas da existência dele. "Já as convulsões costumam ser por uma possível irritação no cérebro, causada pela massa tumoral e pelo edema", explica.
Ele foi dividido em quatro diferentes graus pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Quanto mais agressivo, maior é o grau. O de grau 1 é considerado o mais próximo de um tumor benigno. Já o de grau 2 é menos benigno e, dependendo do caso, é indicada a radioterapia após a cirurgia. O de grau 3 também é chamado de astrocitoma anaplásico e o de grau 4 é o tipo mais agressivo de tumor cerebral, conhecido também por glioblastoma multiforme.
"Estudos levantam a hipótese de que ele possa ser causado por uso de celular, de tratamentos quimioterápicos durante a infância e ainda por fatores genéticos", explica o especialista. "Os sintomas são variáveis e vão desde uma dor de cabeça, passando por crise convulsiva, falta de sensibilidade olfativa e tátil, além de mudanças de comportamento e raciocínio."
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