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Cansei de quebrar telefones, diz paciente que sofre de Transtorno Explosivo

Felipe Perrone, 34, depois de tratamento, hoje consegue controlar a doença - iStock
Felipe Perrone, 34, depois de tratamento, hoje consegue controlar a doença Imagem: iStock

Bárbara Therrie

Colaboração para o UOL

11/10/2017 04h15

“Tinha ataques de explosão, é como se uma chave virasse dentro de mim e eu perdesse o totalmente controle. Eu ligava e a pessoa não atendia, insistia mais uma vez e, em frações de segundos, ficava completamente cego, só sentia alívio quando arremessava o celular no chão e pisava em cima”, relata Felipe Perrone, de 34 anos, portador do Transtorno Explosivo Intermitente (TEI).

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O transtorno psiquiátrico pelo qual Felipe sofre é caracterizado por comportamentos agressivos impulsivos que não são premeditados e sempre são muito desproporcionais ao evento de estresse, explica Vânia Calazans, autora do livro "Mente Impulsiva, Comportamento Explosivo; Transtorno Explosivo Intermitente" (Editora Sinopsys).

Segundo Vânia, o que diferencia o Transtorno Explosivo Intermitente de um ataque de raiva comum é a frequência e a intensidade do comportamento explosivo.

Todos nós podemos ter um momento de fúria, mas o que caracteriza o TEI é que essas ações são recorrentes e sua intensidade é exagerada diante do que a despertou. Muitos pacientes relatam se sentirem possuídos, com sangue nos olhos e se comparam ao personagem 'O Incrível Hulk'.

"Cansei de quebrar meus telefones"
Produto quebrado, produto com defeito, celular quebrado, direitos do consumidor - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

As explosões de raiva do TEI são classificadas em dois tipos: leves ou severas. O primeiro consiste em ameaças, ofensas, ataque de objetos e agressões físicas sem lesão corporal. As crises ocorrem, em média, duas vezes na semana por um período mínimo de três meses. O segundo tipo envolve destruição de propriedades, patrimônios e ataques físicos com lesão corporal, ocorrendo ao menos três episódios em um ano.

O portador de TEI não avalia as consequências dos seus atos, apenas reage ao impulso de atacar e agredir. Após a crise, a pessoa sente alívio e, depois de um tempo vem a culpa, o remorso, o arrependimento e o pedido de desculpas, comenta Vânia, que também é psicóloga clínica e hipnoterapeuta cognitiva.

“Me sentia como uma panela de pressão quando a pessoa não me atendia, cansei de quebrar telefones. Até o meu corpo mudava: a orelha esquentava, eu ficava ofegante e a pressão subia. Minha única reação era xingar, gritar e chutar tudo o que via pela frente, depois eu caía na real e vinha aquela ressaca moral”, conta Felipe Perrone, gerente de contas de uma empresa de engenharia.

Felipe Perrone, 34, e sua mulher, Renata Perrone, 37 - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Felipe Perrone, 34, e sua mulher, Renata Perrone, 37
Imagem: Arquivo Pessoal

Diagnóstico e causas

Não existe um exame específico para identificar o TEI. O diagnóstico é feito por exclusão de doenças, metodologia utilizada quando os sintomas são comuns a outras enfermidades. O transtorno pode ser detectado a partir dos 6 anos de idade e os sintomas se acentuam na adolescência e na vida adulta, de acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Pesquisas indicam que para cada três homens uma mulher é acometida pelo TEI; no Brasil, 3,1% da população sofre da doença.

O uso de medicamentos somado à psicoterapia é o tratamento mais indicado para o TEI, de acordo com Rafael Natel Freire, psiquiatra do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da USP (PRO-AMITI). Segundo o médico, o uso de antidepressivos ajuda a amenizar a raiva, a irritabilidade e a agressividade.

No geral, o resultado do tratamento do TEI depende do envolvimento do paciente, mas em dois meses já é possível ver melhora. “Dois anos e meio após o tratamento, eu ainda tenho aquelas sensações e fico nervoso quando alguém não me atende ou algo não dá certo, mas hoje eu consigo identificar isso. E há tempos não tenho mais os ataques de explosão”, finaliza Felipe.

7 dicas para aprender a lidar com a raiva:

  1. O primeiro passo para lidar com a raiva é reconhecer que você está com esse sentimento.
  2. Em seguida, a pessoa deve identificar as situações que provocam a raiva, que podem ser reais ou imaginárias.
  3. É importante tentar ver a situação de uma maneira positiva e procurar não levar tudo para o lado pessoal.
  4. Outra dica é buscar o relaxamento através da respiração calma e profunda até que as respostas fisiológicas estejam controladas (taquicardia, aumento da pressão arterial, tensão muscular). O indivíduo deve respirar pelo nariz e soltar o ar pela boca, dizendo a si mesmo: "Há outro modo de ver as coisas", "Posso controlar a raiva", "Posso assumir o controle das minhas emoções".
  5. Os profissionais também indicam adotar uma postura assertiva; isto é, não é recomendado guardar para si o que está sentindo, é importante se impor, mas de um jeito equilibrado.
  6. Praticar atividades físicas ajuda a manter o corpo ativo e a sensação de bem-estar provoca um estado de relaxamento na pessoa.
  7. Por último, você só deve resolver a situação que o fez ficar aborrecido quando já estiver com a raiva controlada.

Fontes: Rafael Natel Freire e Denise Goulart Penteado.