"Mesmo sendo mastologista, meu pai teve câncer de mama masculino"
A médica oncologista Sabrina Chagas conta como foi a descoberta e o tratamento de um caso de câncer de mama no próprio pai. Por ironia do destino, Ricardo Chagas é mastologista e especialista em tratar câncer de mama feminino.
"O meu pai é mastologista e até já foi presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Eu sou oncologista e atuei durante oito anos em uma unidade do INCA (Instituto Nacional de Câncer), no Rio, voltada apenas para o tratamento de câncer de mama. E, mesmo com nós dois trabalhando com a doença, o destino nos pregou uma bela peça. Em fevereiro de 2015, quando tinha 69 anos, ele notou que seu mamilo estava invertido --quando há uma retração do órgão para dentro da mama. Fomos atrás e, na Quarta-feira de Cinzas daquele ano, saiu o resultado da biópsia: positivo.
Meu pai estava com esse tumor, mesmo sendo um especialista na doença. Foi inacreditável, um grande baque mesmo.
Fomos até São Paulo (SP) para fazer a cirurgia de retirada desse nódulo. Ele preferiu operar em SP justamente por conta da privacidade, já que é conhecido nos hospitais do Rio. Quando voltamos para casa, ele iniciou com as sessões de quimioterapia. Foi um período bem complicado para nós e trocávamos mensagem no celular o tempo todo. Queria saber como ele estava.
Troca de mensagens virou um livro
No meio do processo de tratamento, comecei a reler essas mensagens --a ideia era comparar os sintomas que meu pai sentia entre uma quimio e outra, na tentativa de perceber se ele estava melhor ou pior. Foi aí que vi que tinha um texto bacana naquilo e transformei tudo em um diário que, no fim do tratamento, virou um livro, chamado justamente "Como estamos?" (mensagem que mandava diariamente para ele).
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Essa obra é voltada para o paciente que tem câncer e seus familiares. Não tem nenhum viés médico. Falo dos sentimentos que tive durante o tratamento, o medo do resultado da biópsia e como era minha rotina durante esse período com ele. Nessa fase, percebi como as pessoas não sabem lidar muito bem com o assunto. Quando me perguntavam do meu pai e eu começava a contar, não queriam mais continuar falando, desviavam do assunto.
Outro momento chave foi a queda de cabelos. Percebi que essa não é uma questão estética apenas, mas um marco. É quando o paciente percebe que está realmente doente.
Meu pai mesmo não gosta muito de falar muito no assunto, mas diz que ficou bastante feliz com a divulgação da nossa história no livro, pois acredita que estamos ajudando as pessoas. A boa notícia é que hoje ele está ótimo, e até já voltou a trabalhar. Só precisa continuar por cinco anos com a hormonioterapia --tratamento para evitar que as células do câncer voltem a aparecer. Essa é uma rotina comum em pacientes que tiveram a doença e ele toma esses remédios diariamente."
É raro, mas homem também tem câncer de mama
O que muitas pessoas não sabem é que, apesar de afetar majoritariamente as mulheres, o câncer de mama também pode atingir pessoas do sexo masculino. Pelo fato de a glândula mamária masculina ser geralmente atrofiada, com baixa produção de hormônios femininos, cerca de 1% dos casos são diagnosticados em homens.
Segundo Marcelo Bello, diretor médico do Inca, o câncer que atinge homens e mulheres é basicamente o mesmo, mas no caso deles há algumas particularidades: devido à demora no diagnóstico: 72% dos casos são identificados já nos estágios 2 e 3.
"Pelo fato de não ser uma doença comum, o homem não tem o hábito de olhar para suas mamas. Normalmente, quando ele descobre, o câncer já está evoluído", afirma. Assim como nas mulheres, os sintomas são o aparecimento de nódulos na região das mamas e abaixo das axilas, além de secreção nos mamilos. Geralmente, o câncer de mama masculino atinge homens mais velhos, a partir dos 60 anos.
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