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Constelação familiar: o que é o método que promete curar traumas familiares

Grupo se reúne em clínica de São Paulo para sessão de constelação familiar - Marcelo Justo/ UOL
Grupo se reúne em clínica de São Paulo para sessão de constelação familiar Imagem: Marcelo Justo/ UOL

Maria Júlia Marques

Do VivaBem, em São Paulo

06/12/2017 04h00

A constelação familiar costuma dar um nó na cabeça de quem não conhece o trabalho: "É terapia? Tem algo a ver com as estrelas? É religião?". Não é nada disso. É um método terapêutico que tem crescido e pretende ajudar na compreensão de problemas que acontecem em diferentes áreas da vida --seja na família, relacionamentos amorosos ou até no trabalho. Há, também, quem vá para tratar insônia, controlar a raiva ou simplesmente identificar a origem de uma angústia aparentemente sem motivo. Mas é bom destacar que o método não é reconhecido pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia), nem pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), por falta de estudos científicos que comprovem sua eficácia.

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Qual é a finalidade?

A ideia é identificar a origem de um comportamento ou sentimento que, muitas vezes, pode ter “nascido” em uma geração passada, uma espécie de “herança familiar emocional”. “A constelação familiar não substitui a terapia, ela ajuda a entender que você não herda só seu aspecto físico dos familiares, herda o emocional também”, explica Solange Bertão, psicóloga clínica e consultora em constelação.

Como funciona a sessão?

Grupo se reúne em clinica da dra Solange Bertão para sessão de Constelação Familiar - Marcelo Justo/UOL - Marcelo Justo/UOL
Imagem: Marcelo Justo/UOL

Os atendimentos costumam ser coletivos. Quando feita em grupo, a constelação junta pessoas que não se conhecem e que representam papéis da vida de quem está sendo “constelado”. Para participar, você diz seu problema e escolhe entre quem está na sala para representar todos os inseridos na situação.

Por exemplo, a questão é não conseguir casar. Para tentar entender de onde vem a trava emocional, pessoas são escolhidas para interpretar seus medos, antigos relacionamentos, seus pais, avós, etc. Assim que as pessoas convidadas recebem seus “papéis”, elas se posicionam ao lado de quem se relacionam no contexto, como se estivessem montando uma árvore genealógica da situação --tudo guiado pelo profissional responsável pela vivência. Quem rege a constelação pergunta sempre como cada “ator” se sente e qual sua vontade.

Nessa situação, o constelado vê que seu pai abandonou sua mãe, assim como seu avô abandonou sua avó, por exemplo. Com tantos términos na família, ele nota que se fechou para relacionamentos sérios.

Mas é só uma atuação?

Grupo se reúne em clinica da dra Solange Bertão para sessão de Constelação Familiar - Marcelo Justo - Marcelo Justo
Imagem: Marcelo Justo

O método quer confirmar como os sentimentos de antepassados chegam até você. “Não é que você necessariamente vá cometer os mesmos erros, mas, sim, entender como você vai ser afetado pelo que aconteceu na família”, explica Dagmar Ramos, psicoterapeuta que aplica a constelação pelo Instituto Brasileiro de Soluções Sistêmicas.

E não é apenas encenação. Quando você é escolhido como representante de alguém, se conecta com as energias daquele familiar, de acordo com Solange. A tese dessa troca de energias é de Bert Hellinger, psicoterapeuta alemão, inventor da técnica.

Assim que o problema é identificado durante a representação, há uma espécie de reconciliação entre os “atores” para que a ordem seja restabelecida e o alívio apareça. Mas a compreensão nem sempre é sentida imediatamente, pode demorar meses e muita reflexão.

“É um processo, você mexe em uma ferida”, diz Plínio Souza, que tem certificação internacional em constelação na Ápice Desenvolvimento Humano. Ele também complementa que o interessado pode fazer quantas vezes quiser, mas o recomendado é que dê um espaço de meses entre as sessões.

Não é reconhecido cientificamente

Grupo se reúne em clinica de Solange Bertão para sessão de Constelação Familiar  - Marcelo Justos - Marcelo Justos
Imagem: Marcelo Justos
Quem participa da constelação afirma que é esclarecedor, mas não há estudos científicos que provem sua eficácia.

Os temas que a constelação abrange, como o ‘campo mórfico’, são pouco estudados, é preciso aumentar a pesquisa nessa área para comprovar a eficácia do método.
Tiago Tatton, psicólogo e pós-doutorando em psiquiatria na UFRGS.

Bruno Costa, psicólogo da UNB (Universidade de Brasília), diz que como não existem estudos que atestem a eficiência e a eficácia da constelação, não adota a prática. "Não estou invalidando a vivência e a experiência das pessoas que afirmam sentir a energia dos outras. Mas o que acontece pode ser um fenômeno psicológico vindo de uma experiência catártica, ou de alguma forma estimulada pelos procedimentos usados na sessão de constelação", explica.

Além da falta da base científica, é questionada a falta de acompanhamento psicológico após participar da atividade, já que a pessoa pode descobrir traumas ou lembrar de histórias que está reprimindo. Depois, ela sai da constelação sem ter um terapeuta e terá de lidar com as descobertas sozinha. Tatton ainda acrescenta que é arriscado o fato de que quem está comandando a constelação nem sempre ter formação em psicologia ou análise.

Costa afirma que já teve de acolher pessoas com crises depois de passar uma constelação. "Todo procedimento psicológico que procura investigar e trazer lembranças de períodos conflituosos não superados pode causar uma crise depressiva e até existencial na pessoa”, diz. Para ele, o procedimento ainda demanda muita pesquisa. "E isso não é ruim, é bom para verificar sua validade.”

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