Ansiedade e recompensa alimentar: saiba como sair do círculo vicioso
O Brasil é o país com maior taxa de pessoas com transtorno de ansiedade no mundo. De acordo com pesquisa da OMS (Organização Mundial de Saúde), feita este ano, 9,3% da população vive com algum transtorno de ansiedade por conta de fatores como desemprego, pobreza e estilo de vida em grandes cidades. Além disso, nos últimos dez anos, o índice de obesidade entre os brasileiros aumentou 60%, segundo a pesquisa Vigitel, feita pelo Ministério da Saúde. O problema atinge tanto homens quanto mulheres e é mais frequente a partir dos 25 anos. Dessa forma, não é difícil imaginar que a ansiedade e a obesidade estão interligadas.
Por que optamos pela alimentação "ruim"?
A sensação de prazer que provém de determinados alimentos está relacionada à interação de algumas substâncias em nosso cérebro. O neurotransmissor serotonina, muito relacionada ao humor, depressão e bem-estar, é dependente do aminoácido triptofano, presente em chocolate amargo, peixes, ovos, leguminosas, nozes, linhaça, aveia e arroz integral.
Porém, se existem alimentos saudáveis que auxiliam na construção do serotonina, por que existem pessoas acima do peso?
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“Quando ingerimos alimentos ricos em carboidratos simples - farinhas, açúcares -, além da sensação inicial de prazer (que não tem nada a ver com a serotonina), as taxas de glicose entram rapidamente em nossa corrente sanguínea. Isso proporciona rápida elevação da insulina, que, por sua vez, permite a entrada de aminoácidos em tecidos, deixando o triptofano livre para a entrada nos receptores cerebrais", explica Celso Cukier, nutrólogo do hospital São Luiz Morumbi.
O açúcar de mesa (sacarose) traz não só uma sensação agradável ao paladar, mas também oferece uma possibilidade de reposição de energia rápida. Já a gordura torna o gosto dos alimentos mais saborosos. Ou seja, traz maior conforto alimentar e calmaria para quem a consome. “A escolha de optar por alimentos ricos em gordura insaturada (azeite de oliva, castanhas, abacate), saturada (carne vermelha, manteiga, iogurte) ou hidrogenada (bolachas, salgadinhos de pacote e margarina) tem a ver com a educação mental do indivíduo”, conta Gustavo Gomes de Castro Soares, nutrólogo do hospital Pilar.
Condicionamento alimentar
O condicionamento alimentar determina se a pessoa optará por um estilo de vida saudável ou acima do peso. Segundo o médico, a mudança do conceito família que estamos vivendo diz muito a respeito das escolhas não saudáveis de alimentos. Abrir mão do tradicional lar onde alguém sempre cozinha para sair de casa e dividir apartamento com amigos – especialmente em grandes cidades - ou viver com o pai ou mãe que se separou e trabalha fora a maior parte do tempo pode ter uma grande influência na dieta. Com a facilidade de acesso a alimentos processados não é de se espantar que a escolha por algo menos saudável, porém mais prático, seja priorizado.
Todavia, a dependência alimentar não ocorre da noite para o dia. Ainda de acordo com Soares, ele começa na infância, logo após o período de aleitamento materno. “Normalmente quem é obeso na primeira infância será na vida adulta. Se você condiciona uma criança a comer tudo muito doce, já está preparando o indivíduo a ter células de gordura maiores na vida adulta”.
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Como sair do círculo vicioso
Embora o "vício" causado pelos carboidratos simples não possa ser comparado ao uso de drogas, já que os mecanismos de interação com receptores neurológicos são distintos e não causam dependência química, segundo Cukier, quebrar um padrão de alimentação requer muita força de vontade e resiliência - pelo menos até que se consolide um novo hábito saudável em sua vida. O primeiro passo é tomar consciência de que você está acima do peso. Depois, é necessário entender que o quadro de obesidade não se deve apenas aos hábitos alimentares.
“Uma das coisas que mais interfere no peso é a quantidade de sono. Muitas pessoas dormem pouco pela necessidade de se autoafirmar no ambiente do trabalho. Como resultado, o sono acumulado aumenta o estresse e o nível de cortisol, provocando alterações orgânicas”, explica Soares. Isto significa que os dois a três quilos a mais de retenção de líquido no corpo são frutos do estresse. O simples sono reparador (6 a 8 horas) já seria o suficiente para diminuir a retenção de líquido sem que haja necessidade de uma dieta com restrição calórica.
“O sedentarismo também provoca a obesidade. Por milhões de anos, o ser humano foi caçador e catador de alimentos. Resultado: o nosso organismo foi feito para correr e aprendeu a armazenar gordura para sobreviver. Dito isso, o exercício físico precisa fazer parte da sua rotina como plano de vida”, completa. Em suma, reduzir a ingestão de carboidratos simples e açúcares, aumentar o consumo de frutas e verduras e praticar atividade física rotineira são medidas que deveriam ser adotadas. “Em especial quem está obeso ou com diabetes tipo 2 (quando o corpo tem resistência à insulina), quadro que tem aumentado na população mundial”, reforça Cukier.
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