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De Alzheimer à depressão: a influência da solidão em nossa saúde

Paul Rogers/The New York Times
Imagem: Paul Rogers/The New York Times

Jane E. Brody

Do The New York Times

14/12/2017 04h00

Os potenciais efeitos danosos da solidão e do isolamento social sobre a saúde e a longevidade, principalmente entre idosos, são bem conhecidos. Por exemplo, em 2013 noticiei uma pesquisa segundo a qual a solidão pode elevar o nível dos hormônios do estresse e inflamações, os quais, por sua vez, podem aumentar o risco de doença cardíaca, artrite, diabetes do tipo dois, demência e até de tentativas de suicídio.

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Entre os idosos que relatavam se sentir excluídos, isolados ou sem companhia, a capacidade de executar atividades diárias como tomar banho, cuidar da aparência e preparar as refeições declinava e as mortes aumentavam, de acordo com estudo realizado durante período de seis anos, relativo a pessoas que não reportavam tais sentimentos. Escrevendo para o "New York Times" em dezembro do ano passado, Dhruv Khullar, médico e pesquisador do Weill Cornell Medicine, em Nova York, citou provas de sono interrompido, reações imunes anormais e declínio cognitivo acelerado entre indivíduos socialmente isolados, situação por ele classificada de "epidemia crescente".

À medida que a pesquisa avança sobre esses temas, cientistas obtêm uma compreensão mais refinada dos efeitos da solidão e do isolamento sobre a saúde. Eles também estão procurando fatores tais como quem seria mais gravemente afetado e que tipos de intervenções podem reduzir os riscos associados.

Solidão - iStock - iStock
Não são apenas os idosos que sofrem com a solidão
Imagem: iStock

Solidão prevalece em adolescentes e jovens adultos, e na terceira idade

Há descobertas surpreendentes. Em primeiro lugar, mas com risco equivalente, solidão e isolamento social não estão necessariamente associados, assinalam Julianne Holt-Lunstad e Timothy B. Smith, psicólogos pesquisadores da Universidade Brigham Young. "O isolamento social denota poucas conexões ou interações sociais, enquanto a solidão envolve a percepção subjetiva do isolamento – a discrepância entre o nível desejado de conexão social e aquele que existe de fato", escreveram eles no periódico "Heart" ano passado.

Trocando em miúdos, as pessoas podem estar socialmente isoladas sem se sentirem solitárias; simplesmente preferindo uma existência mais ao estilo de um eremita. Igualmente, podem sentir solidão mesmo quando cercadas de muita gente, principalmente se os relacionamentos não forem recompensadores em termos emocionais. Na verdade, Carla Perissinotto e colegas da Universidade da Califórnia, campus de San Francisco, informaram, em 2012, que a maioria dos indivíduos solitários são casados, moram com outros e não estão clinicamente deprimidos.

"Ser solteiro é um risco importante, mas nem todo casamento é feliz. Temos de levar em consideração a qualidade dos relacionamentos, não simplesmente sua existência ou quantidade", explica Holt-Lunstad.

Como Nancy J. Donovan, psiquiatra geriátrica e pesquisadora de neurologia do Hospital Brigham and Women's, em Boston, declarou em entrevista: "Existe uma correlação entre solidão e interação social, mas não para todo mundo. Pode ser simplismo sugerir aos solitários que eles deveriam tentar interagir mais com os outros".

Talvez igualmente surpreendente seja a descoberta de que idosos não são necessariamente os mais solitários. Embora muitos estudos sobre solidão tenham se concentrado unicamente neles, Holt-Lunstad, que com colegas analisaram 70 estudos englobando 3,4 milhões de pessoas, diz que a prevalência de solidão acontece em adolescentes e jovens adultos, e, novamente, na terceira idade.

Segundo Louise Hawkley, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa de Opinião, da Universidade de Chicago, "na verdade, a intensidade da solidão decai entre a maturidade jovem até a meia-idade e só volta a se tornar intensa na idade mais avançada". Somente 30% de idosos costumam se sentir sozinhos com frequência, segundo dados do Projeto Nacional sobre Vida Social, Saúde e Envelhecimento.

"Achamos riscos mais fortes para quem tem menos de 65 anos do que para quem tem mais. Os idosos não deveriam ser o foco único dos efeitos da solidão e do isolamento social. Precisamos pensar nisso em todas as faixas etárias", diz Holt-Lunstad.

Além disso, segundo ela, embora não seja certo se solidão ou isolamento social tenham o efeito mais forte sobre a saúde e a longevidade, "se reconhecemos as conexões sociais como uma necessidade humana fundamental, então não podemos descontar os riscos de estar socialmente isolado mesmo que a pessoa não sinta solidão".

Alzheimer - iStock - iStock
Estudo relacionou a solidão à piora da função cognitiva
Imagem: iStock

A relação entre solidão, depressão e Alzheimer

Igualmente intrigante é a descoberta recente sugerindo que a solidão pode ser um sinal pré-clínico do mal de Alzheimer. Utilizando dados do Estudo sobre Envelhecimento do Cérebro de Harvard com 79 adultos normais em termos cognitivos vivendo na comunidade, Donovan e colegas encontraram um elo entre a pontuação dos participantes em uma avaliação de três perguntas sobre solidão e a quantidade de amiloide em seus cérebros. O acúmulo de amiloide é considerado um dos principais sinais patológicos do mal de Alzheimer.

Nesse estudo, a solidão não estava associada com o tamanho da rede social pessoal, atividade social nem com status socioeconômico. Contudo, em outro estudo com pessoas a partir de 50 anos, publicado neste ano no periódico International Journal of Geriatric Psychiatry, Donovan e os coautores informaram que a solidão estava ligada à piora da função cognitiva ao longo de um período de 12 anos, ainda que, inicialmente, uma função cognitiva ruim não levasse ao aumento da solidão.

A depressão, ainda em casos relativamente brandos, tinha um efeito maior do que a solidão no risco de declínio cognitivo, constataram pesquisadores.

"Existem fortes evidências ligando sintomas depressivos intensos ao aumento da progressão de cognição normal a enfraquecimento cognitivo brando e deste para a demência", Donovan e colegas reportaram, citando suas descobertas e as de outros pesquisadores. Eles sugeriram que a solidão bem como a depressão leve e grave podem ter efeitos patológicos similares no cérebro.

Tudo isso levanta a questão de como a solidão e o isolamento social podem ser contidos para ajudar a evitar o declínio cognitivo e outros efeitos adversos à saúde.

As sugestões para adultos solitários ou socialmente isolados costumam incluir fazer um curso, adotar um cachorro, fazer trabalho voluntário e participar de um centro de convivência da terceira idade. Um programa britânico envolve a companhia de um voluntário que se encontra regularmente com a pessoa solitária. Embora tais programas tenham demonstrado uma melhora modesta nos índices de depressão e ansiedade, o significado em longo prazo é desconhecido. Em estudo de 14 testes do programa britânico, nenhum benefício significativo total foi encontrado nos índices de depressão, qualidade de vida, grau de solidão, autoestima e bem-estar.

Outro programa desenvolvido por Laurie Theeke, da Faculdade de Enfermagem da Universidade da Virgínia Ocidental, EUA, é uma forma de terapia cognitiva comportamental para se opor à solidão. Ele engloba cinco sessões de duas horas com pequenos grupos de solitários que exploram o que buscam em relacionamentos, suas necessidades, padrões de pensamento e de comportamento.

É questionável, entretanto, se tal abordagem em larga escala seria prática para atender à necessidade de reestruturação cognitiva de adultos solitários no país inteiro.

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