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Em excesso, paracetamol pode gerar danos no fígado iguais aos da cirrose

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Imagem: iStock

Marcia Di Domenico

Colaboração para o VivaBem

29/01/2018 04h01

Os analgésicos estão entre os remédios mais consumidos no mundo. No escritório, na academia ou em uma festa, é só você se queixar de dor de cabeça, muscular, cólica menstrual ou aquele incômodo no corpo que anuncia um resfriado para alguém logo oferecer um comprimido, não é?

Nessa categoria, um dos medicamentos preferidos é o paracetamol: barato, eficiente e considerado seguro quando usado do jeito certo. A substância é indicada para aliviar dores leves e diminuir a febre. “O remédio inibe a síntese das prostaglandinas, substâncias envolvidas no impulso da dor, e atua no hipotálamo, região cerebral que regula a temperatura do corpo”, explica a farmacêutica Patricia Moriel, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

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O paracetamol começa a fazer efeito entre 30 minutos e uma hora depois de ingerido. Tecnicamente falando, ele está na categoria dos anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs, que inclui também ibuprofeno, diclofenaco e ácido acetilsalicílico). Apesar do nome, não possui ação significativa contra inflamação. 

Não ultrapasse a dose segura

A venda sem receita médica não significa que o uso por conta própria está liberado. Adultos não devem extrapolar o consumo de 4 g (4000 mg) de paracetamol por dia, em doses a cada quatro ou seis horas --você nunca deve tomar mais de 1 g em uma mesma dose. Crianças até 12 anos não podem receber mais de 75 mg/kg de peso em 24 horas --o que dá 0,75 g (750 mg) para uma criança de 10 kg, por exemplo.

Assim que é engolido, o remédio passa pelo sistema digestivo e é metabolizado pelo fígado. “Quando consumido em dose maior do que a recomendada, intoxica as células e pode provocar danos hepáticos graves”, alerta Paulo Rocha, clínico geral e coordenador do pronto-socorro do Hospital Santa Paula, em São Paulo.

No Brasil, o medicamento referência apresenta várias versões para uso pediátrico e adulto, com concentrações diferentes do princípio ativo por comprimido e por gota. Daí a importância de fazer o cálculo antes de tomar o remédio. Na dúvida entre tantas embalagens, questione sempre o médico ou o farmacêutico para saber qual é a dosagem e a frequência indicada para sua queixa.

Os perigos do exagero

Os especialistas consideram abusivo o uso do medicamento por mais de dez dias seguidos ou acima de 5 g do princípio ativo por dia. O guia do FDA (entidade que regula os medicamentos nos Estados Unidos) para a prescrição de AINEs recomenda o consumo da menor dose possível, pelo menor período necessário e sempre com orientação médica.

A intoxicação por paracetamol é tida como a principal causa de danos ao fígado no Ocidente. Nos Estados Unidos, responde por mais de 50% dos casos de falência hepática por overdose, e motiva 20% dos transplantes de fígado, de acordo com pesquisa recente divulgada no periódico chinês Journal of Clinical and Translational Hepatology.

Outro estudo, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, publicado na revista científica Scientific Reports, sugere que a intoxicação pela substância provoca o mesmo tipo de dano hepático causado por hepatite, cirrose e câncer. Os cientistas ainda precisam investigar o espectro de dosagem e tempo de uso que podem levar à falência do órgão.

Os prejuízos da superdosagem (dose única acima de 12 g) podem aparecer entre poucas horas e até cinco dias depois da ingestão da substância na forma de náusea, vômito, confusão mental e danos ao fígado, que podem chegar à falência e exigir um transplante. Também há registros de hepatite fulminante após um episódio único de overdose.

Remédio não cura, só inibe a dor

O uso errado de remédios para reduzir a dor também pode prejudicar indiretamente a saúde. “Analgésicos são soluções temporárias, que aliviam o desconforto enquanto o médico busca a causa”, diz Paulo Rocha. Se você consome um medicamento por muito tempo, mascara a dor e pode acabar agravando o verdadeiro problema.

Quem tem histórico de alcoolismo ou alguma doença hepática não deve utilizar paracetamol pois pode sobrecarregar ainda mais o fígado. Porém, para quem não sofre dessas doenças, tomar uma dose de bebida alcoólica de vez em quando, enquanto se trata adequadamente com o medicamento, não traz problemas. 

Antidepressivos, anticonvulsivantes e anticoagulantes podem interagir com o paracetamol alterando o efeito e provocando reações adversas perigosas. Entre os fitoterápicos, sabe-se que gingko biloba e erva-de-são-joão não combinam com a substância. “Relatar ao médico ou ao farmacêutico todos os remédios que toma é a melhor maneira de evitar reações adversas e garantir a escolha do analgésico ideal”, destaca Patricia Moriel.