Células nervosas controlam a propagação de crises epiléticas pelo cérebro
A ativação experimental de um pequeno conjunto de células nervosas no cérebro previne convulsões em um modelo de camundongo com epilepsia do lobo temporal, a forma mais comum da doença em humanos, de acordo com um estudo realizado na Universidade de Stanford, nos EUA, e publicado na revista Science.
Em contraste, a inativação dessas células, conhecidas como células “mugosas”, facilita a disseminação por todo o cérebro da hiperatividade elétrica. Além disso, os cientistas descobriram que esta inativação das células nervosas induz as mesmas perdas cognitivas que caracterizam a epilepsia do lobo temporal crônico que é resistente aos medicamentos em seres humanos.
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Os pesquisadores já sabiam que as células mugosas são facilmente danificadas com traumatismo craniano e ou com a diminuição do suprimento de sangue. Também era de conhecimento geral que tais lesões cerebrais aumentam os riscos de epilepsia do lobo temporal.
O que ainda era preciso desvendar era a relação destas tais células mugosas com a epilepsia.
Uma tempestade elétrica no cérebro
As convulsões epiléticas são simpaticamente descritas como tempestades elétricas no cérebro. Essas tempestades começam em um único ponto do cérebro, chamado foco, onde as células nervosas relampejam repetidamente em sincronia. Muitas vezes, a chuva se espalha por outras áreas do cérebro e leva a um processo de generalização nas células. É essa hiperatividade cerebral que causa os sintomas clássicos de crises epiléticas, como perda de consciência, convulsões e pensamentos desordenados.
A localização exata do foco epilético no cérebro varia de pessoa para pessoa, mas na grande maioria de pacientes com epilepsia do lobo temporal o foco fica no hipocampo, responsável por codificar novas experiências na memória.
Neste lugarzinho, o hipocampo, são encontradas células mugosas, que apesar de estarem em pouco número, se conectam com dezenas de milhares outras células nervosas. Através dessas conexões, as células mugosas estimulam uma infinidade de células nervosas excitatórias do hipocampo. Porém, as ligações podem agir de forma oposta e inibir as células excitatórias.
Logo, a pergunta dos pesquisadores foi: o efeito da atividade das células mugosas é promover ou contrabalancear a produção geral de células nervosas excitatórias?
Resultados dos experimentos
A pesquisa provou com testes em camundongos que a inibição das células mugosas levou a um aumento substancial no número de convulsões que se espalharam do foco para áreas maiores do cérebro. Por outro lado, a excitação destas células nos camundongos diminuiu o número de convulsões generalizadas e resultou em efeitos menores na frequência de convulsões focais.
Em um teste de memória, os animais epiléticos ficaram bem apesar de terem perdido mais da metade de suas células mugosas. Mas falharam em uma prova que testava a capacidade de memória espacial por não notarem quando objetos eram movidos de lugar.
Quando camundongos saudáveis fizeram os testes, eles tiveram sucesso, até que os pesquisadores inibiram suas células mugosas, e aí a capacidade de memória espacial dos animais também diminuiu.
“Mostramos que o papel das células mugosas é protetor na prevenção da disseminação de convulsões para outras regiões cerebrais. As drogas que visam células mugosas em pacientes com casos crônicos e resistentes a medicamentos podem algum dia ser capazes de reduzir a incidência de convulsões o suficiente para devolver aos pacientes uma parte de seus estilos de vida que foi perdida com a doença," concluiu Ivan Soltesz, autor principal da pesquisa.
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