"Tinha 47 kg e me achava gorda. Superei a anorexia quando comecei a correr"
É comum associarmos a corrida a um esporte de quem busca emagrecer. Mas os benefícios para o corpo e para a mente que o esporte traz vão muito além, e podem ajudar as pessoas a superarem diferentes problemas.
A paulistana Rafaela Bueno é um bom exemplo disso. Aos 24 anos, ela está prestes a encarar a Maratona de Boston (EUA), que será realizada no dia 16 de abril. Para participar da prova de 42,195 km a veterinária precisou conquistar um índice que boa parte dos atletas amadores não consegue alcançar. Mas a paixão pela corrida já ajudou Rafaela a vencer desafios bem maiores: a anorexia e a bulimia. Ela conta a seguir como deixou esses problemas para trás.
Veja também
- Ilza teve paralisia infantil e abandou as muletas graças ao pilates
- Pela boca ou pelo nariz? Qual o jeito certo de respirar ao correr?
- Ela perdeu 45 kg incluindo três hábitos no dia a dia
“A corrida começou a fazer parte da minha vida aos 17 anos, mas eu já lidava com os distúrbios alimentares muito antes disso. Com 12 anos eu era meio gordinha e comecei a fazer dieta para emagrecer. Cheguei a um peso saudável, entre 60 kg e 62 kg, mas via meu corpo de uma forma completamente errada.
A anorexia surgiu quando tinha 15 anos. Eu me olhava no espelho e sempre me achava gorda. Fiquei obcecada com o peso e queria ver os números na balança diminuírem cada vez mais. No auge da doença, aos 16 anos, cheguei a pesar 47 kg.
O problema vai além da preocupação com o peso, de querer ser magra. No meu caso, havia também o poder de controle que a anorexia me trazia. Eu não conseguia controlar vários aspectos da minha vida, mas era capaz de ficar até quatro dias sem comer. Perceber que "controlava" a alimentação fazia eu me sentir bem.
Tentei uma nutricionista na época, mas o tratamento não funcionou direito porque segui uma dieta em que o mais importante eram as calorias consumidas, em vez da qualidade dos alimentos. Quando a pessoa não está bem psicologicamente, o especialista precisa ser muito cuidadoso para não piorar as coisas… Eu tentava seguir as orientações, mas, quando comia, me sentia culpada e queria vomitar. Então, a luta se tornou contra a bulimia também.
Meus pais estavam desesperados. Procuramos uma psicóloga e fiz terapia por um tempo. Em uma das sessões, ela me chacoalhou quando disse que eu seria internada se continuasse nesse caminho. A tristeza me dominou. Pensei no quão aflita minha mãe estava e quanto meu transtorno atingia minha família. Transformei esses sentimentos ruins em vontade de lutar, e as coisas só começaram a mudar quando decidi realmente enfrentar meus problemas.
Como nasceu a paixão pela corrida
Durante minha recuperação, percebi que tinha de fazer algum exercício, alguma coisa a mais para ajudar a minha saúde física e mental. Até então, qualquer atividade física era só com a finalidade de queimar calorias. Aos poucos, percebi que ter outros objetivos no esporte poderia ser legal, e assim comecei a correr.
Minha primeira prova foi logo uma meia maratona (21,097 km). O prazer do treino e a sensação de cruzar a linha de chegada são indescritíveis. A paixão pela corrida me fez renascer e enxergar a vida de outra maneira.
Foi uma longa jornada, que levou vários anos, e agora sinto que estou chegando na minha melhor fase. Mesmo assim, ainda tenho problemas de autoestima ao me olhar no espelho. Há dias em que fico mais chateada com isso, mas hoje estou muito melhor. Atualmente, peso de 60 kg a 62 kg. Não consigo explicar o que se passava na minha cabeça e faço acompanhamento nutricional com um cardápio desenvolvido totalmente para as necessidades do meu corpo.
Ainda tenho muitas questões em relação à autoimagem, com certeza, mas sei também que é algo que deve ser melhorado dia após dia, não acontece de repente. Ninguém fica bom de uma hora para outra. Isso demora. A vontade de mudar precisa vir de dentro, não adianta alguém simplesmente falar que você precisa mudar.
Cada um tem o seu tempo de superação, mas acho importante evitar os “gatilhos” que podem fazer você ficar mal, como se comparar demais aos outros, conviver com pessoas que também têm distúrbios alimentares mas não se tratam, usar o Instagram de forma excessiva (todo mundo é feliz e tem o corpo perfeito nas redes sociais…). É preciso ter muito cuidado.
Meu foco hoje é ser mais forte, e penso na saúde como um todo em vez de ficar obcecada com o espelho. Sei que é difícil. O mais importante é ter calma e viver um dia de cada vez, sempre correndo, claro!”
SIGA O VIVABEM NAS REDES SOCIAIS
Facebook: https://www.facebook.com/VivaBemUOL/
Instagram: https://www.instagram.com/vivabemuol/
Inscreva-se no nosso canal no YouTube: http://goo.gl/TXjFAy
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.