Por que é recomendado tomar leite de vaca apenas após os dois anos
Bezerros e bebês humanos têm lá suas semelhanças --são mamíferos, afinal de contas-- mas isso não quer dizer que o leite da vaca seja alimento para ambos os filhotes. Já que, de acordo com as fontes consultadas pela reportagem, a bebida só pode entrar na dieta a partir do primeiro ano de vida e, de preferência, depois do segundo aniversário.
É que, até o segundo ano, segundo a Organização Mundial de Saúde, a amamentação deve ser o principal fornecedor de cálcio e demais nutrientes para o bebê. “E antes dessa idade, a criança está fazendo sua programação metabólica para o futuro, e o leite de vaca possui excesso de alguns nutrientes e falta de outros essenciais, o que atrapalha esse processo”, explica Virgínia Weffort, presidente do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.
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Por exemplo, o leite de vaca tem uma quantidade considerável de proteínas, que podem sobrecarregar os rins e aumentam o risco de obesidade no futuro. Além disso, o teor de sódio que a bebida contém (elevado para bebês) predispõe à hipertensão arterial, enquanto o cálcio e fósforo presentes ali diminuem a absorção de ferro, nutriente indispensável para o desenvolvimento infantil e cuja falta também provoca anemia.
A interação negativa com o ferro, aliás, persiste até depois dessa faixa etária. Um estudo com mais de 1300 crianças publicado em 2013 no Pediatrics, periódico da Associação Americana de Pediatria, apontou que o excesso de leite está ligado à deficiência de ferro entre 2 e 5 anos de idade. Já a baixa ingestão é relacionada à queda nos níveis de vitamina D.
Depois do peito
Quando o bebê desmama, entretanto, é preciso suprir a necessidade do corpo por cálcio, mineral fundamental não só na infância, mas para a vida toda. “E o leite e seus derivados são a principal fonte do nutriente”, aponta Mauro Fisberg, nutrólogo professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Na prática, isso quer dizer que bebês que não mamam devem tomar fórmulas lácteas especiais antes do segundo ano de vida, sempre com a orientação do pediatra. “As bebidas modificadas passam por ajustes no teor de proteína e gordura de acordo com a necessidade da faixa etária”, explica Carlos Nogueira, nutrólogo diretor do Departamento de Nutrologia Pediátrica da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
Mas, após o primeiro aniversário, os especialistas consultados recomendam que os pais já incluam os derivados na dieta, como iogurte ou queijo.
Mas dá para tomar leite antes dos dois?
Nos doze primeiros meses, o organismo é mais sensível a uma bebida tão diferente do leite materno. “A partir dos doze meses, ele pode ter contato com o leite de vaca, mas, enquanto o aleitamento persistir, não há necessidade de usar outros leites”, explica Viviane Laudelino Vieira, nutricionista do Centro de Referência em Alimentação e Nutrição (CRNutri) da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).
E se o leite de vaca for a escolha após o primeiro ano, prefira a versão integral, que oferece mais gorduras. Mas vale ressaltar: respeite a regra de não oferecer nada do tipo até o primeiro aniversário e privilegiar a amamentação, os benefícios são incomparáveis.
Benefícios do leite
Uma coisa é certa: sem cálcio não dá para viver. E, além de o leite ser sua melhor fonte, há outros benefícios. “Muitas pessoas acreditam que basta trocar por outro alimento com cálcio, mas o leite possui muitos outros nutrientes, como vitaminas A e B12, potássio e zinco”, destaca Viviane.
A quantidade diária varia conforme a idade, mas, como régua, os especialistas indicam três porções ao dia, num total de 600 ml. “Vale lembrar que os laticínios contam nessa soma assim como a bebida, e é importante que eles entrem no café da manhã e em outros lanches entre as refeições”, aponta Viviane. É que, no almoço e na janta, eles diminuem a absorção do ferro do feijão e outros alimentos.
“Vale lembrar que os laticínios contam nessa soma assim como a bebida, e é importante que eles entrem no café da manhã e em outros lanches entre as refeições”, aponta Viviane.. É que, no almoço e na janta, eles diminuem a absorção do ferro do feijão e outros alimentos.
Colaborou: Clery Bernardi Gallaci, pediatra e neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo.
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