"Passei a amar minha mãe depois de descobrir que ela tem Alzheimer"
Estava fazendo cafuné na cabeça de minha mãe. Seu cabelo anda muito fino, e não faço mais questão de marcar um horário no salão para um corte. Seria apenas mais um trauma para ela, como é tomar banho. Quando as ajudantes a levam para o chuveiro, posso ouvi-la berrando lá do fim do corredor, gritando como um gato selvagem.
Estava fazendo cafuné na cabeça de uma mulher que mais de uma vez me disse, quando eu era criança e a deixava brava por qualquer motivo, que iria cortar meu braço e me bater com o membro ensanguentado. Agora, ela se apoia na minha mão como o gato que se tornou, quase ronronando, depois do horror do banho e da indignidade de ser vestida e colocada na cadeira de rodas para passar o dia. Na maioria dos dias, ela apenas toma um banho de esponja, o que incita protestos e mordidas, e todas as vezes minha mãe encontra o ponto mais terno do antebraço de uma cuidadora e o belisca com força.
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Na hora do almoço, em geral separo pequenos pedaços de um sanduíche de manteiga de amendoim, e minha mãe deixa que eu a alimente. Como seus dentes, que eram lindos e brancos, estão terríveis, ela rola o pequeno pedaço de comida em sua boca até ele parecer ter desaparecido. Algumas vezes, quando ofereço outra mordida, ela balança a cabeça. Outras vezes, abre a boca. Então temos bolo. Ela gosta de bolo.
Um tempo depois, acaricio o interior de seu braço, a parte lisa e macia que parece estar diretamente conectada ao cérebro. Ela fecha os olhos, e me sento ao lado da cadeira dela, cujas rodas travo para que não possa se afastar, e acaricio seu braço. Antes, quando as coisas estavam bem, me sentava ao seu lado e estendia meu braço, com a parte de dentro para cima, e ela quase que inconscientemente o acariciava. Ela fez isso quando tive meu primeiro ataque de pânico, aos 15 anos. Agora, quando estou ansiosa em um avião ou não consigo dormir, meu marido faz uma cosquinha gentil ali, e minha respiração se acalma, meu coração se aquieta.
Estava acariciando o braço da mulher que gritou para mim nas ruas de Boston (EUA) que ninguém deveria ter uma filha tão horrível quanto eu. Estou fazendo cafuné na cabeça da mulher que olhou para um de meus textos e disse, com naturalidade: "Você vai precisar admitir que isso é o melhor que você vai conseguir". Eu tinha 22 anos.
A cada quatro meses, viajo 1,6 mil quilômetros de avião para visitar minha mãe. Eu me sento a seu lado por horas todos os dias por quase uma semana, e depois volto para casa. Essas visitas são tortuosas, mas necessárias. Nos últimos doze anos meu amor por ela aumentou a cada visita, à medida que a mulher que ela era foi sumindo. Cada vez que ela se torna menos parecida com o que era, minha família e eu nos preparamos para o fim. Mas seu corpo, apesar de pequeno e frágil, é mais forte do que qualquer um de nós.
Eu deveria ter adivinhado que no final sua força seria tanto uma bênção quanto uma maldição. Essa perda de personalidade, esse desamparo profundo, essa agonia de ver o final sem fim, é o que me ajuda realmente, e de maneira incondicional, a amá-la.
Eu me sento por quatro horas ao lado de minha mãe, em geral em silêncio, em um casulo em meio ao barulho da televisão, das enfermeiras, das ajudantes, do elevador, do agito e do murmúrio. Leva meia hora para fazer com que todos os moradores cheguem ao salão de jantar e uma hora para que eles comam. Isso toma uma parte do horário da visita. E eu acho bom. Digo a ela que a amo várias vezes por dia. Ela não olha muito para mim. Ela não tem ideia de quem eu sou e está assim desde que a doença e o trauma fizeram com que fosse necessária a mudança da unidade de Alzheimer da casa de repouso onde estava para esta, que possui cuidados de enfermaria. Não é apenas uma casa de saúde, é a reta final. É um ciclo interminável de reprodução instantânea.
Sento-me ao lado da mulher que me disse que se eu achasse que ela não era uma boa mãe, ela se mataria. A mulher que ameaçou se matar muitas e muitas vezes, mas que, quando foi diagnosticada com uma morte longa e tortuosa, cedeu à doença sem se importar, como se não tivesse escolha.
Uns doze anos atrás, se tivessem me dito que eu estaria fazendo cafuné, acariciando o braço, sentada ao lado, segurando e amando minha mãe desse jeito, teria dado risada. Evitava o contato com ela tanto quanto podia. Recusava-me a ver sua deterioração, que presumi ser por causa do álcool, da desordem bipolar, do puro egocentrismo que ela jogava sobre os ombros como um xale e que era responsável por suas ligações incoerentes durante a noite, a geladeira sem alimentos, sua recusa em deixar a casa por medo de se perder. Eu não queria saber. Eu não queria imaginar. Mesmo quando sabia, eu não queria saber.
Depois do banho, ela dormiu pelo resto do dia, recusando-se a abrir os olhos mesmo quando colocada na cadeira de rodas, mesmo quando levada para o almoço. Ela bebeu seu Ensure como uma mulher cega. E depois dormiu. A dor e o horror do banho a deixaram cansada. Mas sentia minhas mãos sobre ela.
Sentei-me ao lado da mulher que quase me destruiu. Que contou ao seu terapeuta por 30 anos que seus filhos eram essencialmente malvados e completamente ingratos.
No último dia de minha visita mais recente, avisei: "Eu tenho que ir, mas vou ver você logo". Falei com ela como faço com meu gato, como se ela entendesse. Ela abriu os olhos e vi um súbito olhar de pânico, e então ela disse: "Por favor, não".
Fiquei tão atordoada com suas palavras, por ela falar simplesmente, que disse que ficaria mais um pouco e assim fiz, sentando-me silenciosamente a seu lado. Segurei sua mão. Ela agarrou a minha. Sentei-me por mais meia hora e depois a beijei na testa e disse, como havia feito muitas vezes antes: "Eu te amo, mãe". E desta vez, só desta vez, a mulher que não havia falado uma frase que fizesse sentido em quase dois anos, me olhou diretamente nos olhos e disse: "Eu também te amo".
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