Após um tumor e dois AVC, Flávio foi pódio em corrida de 490 km na Grécia
A maioria das pessoas fica com a língua de fora só de pensar em passar uma hora correndo. Imagine, então, praticar a atividade por quase 86 horas — o que corresponde a três dias e meio. Agora, some a isso enfrentar uma temperatura bem baixa, típica do inverno europeu, e muita, muita subida. Parece quase impossível, não é?
Pois Flavio Fernandes Vieira, de 48 anos, mostrou que não. O militar paulistano foi o único atleta da América do Sul a completar, no fim do ano passado, a Authentic Phidippides Run, corrida grega com 490 km, considerada a ultramaratona mais difícil do mundo. De quebra, ele ainda terminou a competição em terceiro lugar.
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O percurso da prova reproduz os passos do soldado Phidippides. Uma lenda diz que, durante a invasão persa de 490 a.C, ele foi e voltou correndo de Atenas até Esparta para pedir ajudar ao forte exército compatriota, totalizando 490 km. Depois, Phidippides ainda percorreu 40 km de Maratona até Atenas, para avisar que a guerra tinha acabado. Ao cumprir sua missão, o soldado morreu.
Superar situações difíceis, que desafiam a vida, é algo que Flavio está acostumado a fazer. Ele começou a correr aos 21 anos, e a força física e mental que o esporte trouxe ao militar foram importantíssimas. ?Em 2000, descobri um tumor benigno na tíbia, um dos ossos da perna esquerda. O médico achou melhor apenas monitorar o problema para ver se não se agrava. Como meus esforços estavam concentrados na atividade física, não me abati e continuei correndo, sem pensar no que poderia acontecer?, lembra.
Mas os problemas não pararam por aí. Pouco tempo depois, ele sofreu dois AVC: um em 2003, quando estava em uma missão de paz no Timor Leste, e outro em 2005. Por causa dos derrames, ficou com um dos lados do corpo parcialmente paralisados e com dificuldade para falar.
O exercício foi fundamental para ajudá-lo a superar tudo isso. ?Além da corrida, também pratiquei tênis durante a recuperação. Esses esportes exigem coordenação, equilíbrio e treinamento neuromuscular, que são muito importantes na reabilitação de episódios como o meu?, diz Flávio. ?Também tirei proveito da parte lúdica dessas atividades e da capacidade para superar obstáculos, que desenvolvi nas competições, para enfrentar as sequelas dos AVC.?
Rotina de treino intensa e prazerosa
Encarar corridas longas e intensas faz parte da rotina de Flávio. Ele já completou ultramaratonas em diversos países, como Irlanda do Norte, Inglaterra, Itália, Egito, Alemanha, França, Polônia e Brasil, claro, sempre com ótimas colocações.
Os bons resultados são reflexos de muito treino. Durante a semana, o corredor faz de 15 km a 25 km por dia. Já no sábado, percorre de 30 km a 50 km. Também realiza musculação três vezes por semanais e joga tênis nos dias de folga. A rotina é intensa, mas ele não abre mão do exercício nem quando sai exausto do trabalho, já que determinação e perseverança são imprescindíveis no mundo das ultramaratonas.
A cabeça também é exercitada para não sucumbir diante de desafios tão árduos. ?Quando estou correndo, afasto todos os maus pensamentos da mente e fico repetindo para mim mesmo: só mais um quilômetro, você pode, você consegue.? Ele garante que tudo isso o ajuda a encarar melhor as competições e os obstáculos do cotidiano.
Ultramaratona em família
Flávio conta que o trabalho em equipe é algo muito importante para alcançar seus objetivos. Além do apoio de um nutrólogo e um acupunturista, ele conta sempre com a ajuda da mulher e dos dois filhos. Batizados de Família Ultra, eles o acompanham durante as provas, auxiliando na reposição alimentar e dando incentivo psicológico, informações sobre o percurso, a posição de outros competidores e qualquer necessidade do militar.
O incentivo da família também está presente no dia a dia. ?Nos apoiamos e estimulamos mutuamente, o que nos ajuda a ficar mais fortes em todos os aspectos?, diz. Essa cumplicidade ainda é muito importante na hora de compreender que ele precisa investir bastante dinheiro do próprio bolso para participar das competições, já que muitas vezes não conta patrocínio, apesar de representar tão bem o Brasil lá fora.
?Tenho algumas dívidas por causa do esporte, mas desistir não é uma opção. Amo correr e é o que me ajuda a me manter vivo, a encarar o dia a dia com mais otimismo e tranquilidade?, finaliza.
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