Por que ir imediatamente ao pronto-socorro nem sempre é o melhor à saúde
Não dá para brincar com a saúde e todo desconforto é um alerta para algo que pode estar errado no organismo. No entanto, não é por isso que, ao menor sintoma de dor, o melhor a fazer é correr para o pronto-socorro (PS).
Em primeiro lugar, a quantidade de gente doente compartilhando a recepção do hospital já é um motivo para evitar o local sempre que possível. “Na maioria das vezes, ir à emergência não compensa a exposição ao ambiente contaminado, o tempo de espera e o estresse gerado pelo mau atendimento, que ocorre em muitos casos”, destaca Paulo Olzon Monteiro da Silva, clínico geral da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Se expor a um ambiente assim quando você está com uma doença simples -- resfriado, gripe comum, dor nas costas, de cabeça ou garganta, por exemplo -- tende a fazer mais mal para sua saúde do que bem. Problemas como esses podem ser solucionados em casa, com repouso e medicamentos básicos, como analgésico e antitérmico. Mesmo assim, compõem grande parte das queixas que chegam ao PS. “É preciso ter bom senso e autoconhecimento para perceber os sinais do corpo e não se alarmar por pouco”, indica Olzon.
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Pronto-socorro não é lugar de consulta
Por cultura, falta de informação e falhas no sistema público de saúde, o brasileiro conta com a emergência como primeira opção de atendimento médico, mas nem sempre as queixas apresentadas são de fato urgências. “Cerca de metade dos atendimentos no pronto-socorro são justificáveis", avalia o médico Jorge Luiz Nahás, chefe do serviço de emergência do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, em São Paulo. São pacientes que correm risco de morte ou, no mínimo, apresentam sintomas que suscitam dúvidas e podem ser investigados na emergência ou encaminhados para um especialista.
A outra metade se divide, grosso modo, entre quem deveria, na verdade, marcar uma consulta individual e mais detalhada, se recuperar em casa e pessoas que procuram o serviço apenas para conseguir atestado médico ou renovar receitas de medicamentos. “Ocorrências como essas sobrecarregam o atendimento e acabam representando um gargalo para o acolhimento adequado e no tempo certo do que é emergência mesmo”, resume Nahás.
Ele destaca que, muitas vezes, a longa fila de espera do PS por causa de pessoas que não precisariam estar ali pode colocar em risco a saúde de outros pacientes. “Em casos de infecções graves, por exemplo, cada hora de atraso para ser atendido pode aumentar em 10% o risco de morte”, alerta Nahás. Doenças como acidente vascular cerebral (AVC) e infarto também têm a chamada “hora de ouro”, que é o intervalo de tempo em que a assistência médica correta faz toda a diferença para evitar complicações, sequelas graves e até a morte.
Pacientes com doenças já instaladas ou sintomas persistentes devem procurar um especialista para investigar e tratar as queixas, não recorrer ao pronto-socorro. “O profissional da emergência é treinado para afastar a gravidade dos casos que chegam para atendimento, não para fazer o diagnóstico”, observa Fátima Dumas Cintra, cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Por exemplo, se um paciente dá entrada com dor no peito, a tarefa do médico é se certificar de que não é um ataque cardíaco (já que o sintoma pode indicar apenas uma dor muscular ou até gases), e não diagnosticar uma doença coronariana. Por outro lado, se alguém chega com dor no peito e informa que é portador de doença cardíaca, a equipe da emergência precisa agir rapidamente na prestação de socorro adequado ou encaminhamento para internação.
Você deve ir ao pronto-socorro em caso de:
- Acidente com fratura ou perda de consciência;
- Picada por animais peçonhentos (cobra, aranha, escorpião);
- Queimadura ou corte grave;
- Dores agudas, desconhecidas e insuportáveis;
- Dor torácica aguda;
- Arritmia cardíaca;
- Febre acima de 39 ºC que não cede com antitérmicos em até 48 horas ou se vier acompanhada de outros sintomas, como vômito, tosse, dor de cabeça forte ou sensação de desmaio.
- Perda súbita de sentidos (consciência, visão, audição) ou de força;
- Intoxicação alimentar ou por medicamento;
- Reação alérgica por alimento ou produto;
- Convulsão.
Não precisa ir imediatamente ao pronto-socorro em caso de:
- Dor de garganta, de cabeça, nas costas, de estômago;
- Gripe comum e resfriado;
- Febre que começou a menos de 24 horas;
- Diarreia que se iniciou a menos de 24 horas;
- Doenças respiratórias (rinite, sinusite, asma);
- Queda ou pancada na cabeça, se não houver ferimento nem alteração nos sentidos (observar sintomas nas primeiras 48 horas);
- Dores crônicas (que se repetem dia a pós dia) -- nesse caso, você deve se consultar com um especialista.
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