Burnout: saiba tudo sobre a síndrome do esgotamento profissional
Você passa o dia se desdobrando em mil para dar conta de tudo: reuniões, cobranças, metas, prazos apertados, sobrecarga de tarefas... Até que um dia, sem aviso, sua mente entra em colapso e você se rende à exaustão. Essa "pane no sistema" tem nome: Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional, um transtorno de difícil diagnóstico que vem atingindo cada vez mais pessoas ao redor do mundo. Por aqui, ela acomete 30% dos cerca de 100 milhões de trabalhadores, de acordo com dados divulgados pela Isma (International Stress Management Association).
A Síndrome de Burnout pode ser identificada como um nível devastador de estresse no ambiente de trabalho, que supera a capacidade da pessoa de lidar com o problema. A sobrecarga é o motivo número um para o desenvolvimento da síndrome, mas a falta de reconhecimento do gestor, baixo nível de autonomia e de participação nas decisões, corte de gastos, reestruturações na empresa, impossibilidade de promoção e conflitos com o chefe ou com colegas também podem desencadear o transtorno.
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"Quem sofre desse mal desenvolve três características: sensação de estar desprovida de recursos físicos e emocionais para enfrentar a situação; frieza e falta de empatia em relação aos colegas; e sentimento de culpa devido à baixa produtividade", explica a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma no Brasil. Segundo ela, a culpa leva muitas pessoas a esconderem a síndrome, principalmente pelo medo de perderem o emprego.
"Essa pessoa vai tentar compensar o baixo rendimento se dedicando mais e fazendo hora extra, mas não vai adiantar. A síndrome é mais forte que ela", ressalta Ana Maria. Por isso, é imprescindível que haja uma conversa honesta com seus superiores assim que a estafar for percebida. "Esconder só irá agravar o problema", diz.
Sintomas do Burnout
Quem tem a Síndrome de Burnout pode sentir:
- Fraqueza;
- Apatia;
- Dores musculares;
- Dor de coluna;
- Dor de cabeça;
- Náuseas;
- Alergias;
- Palpitações;
- Tremores;
- Taquicardia;
- Tonturas;
- Distúrbios do sono;
- Alterações de humor;
- Dificuldade de concentração;
- Falta de apetite e de energia;
- Diminuição do desejo sexual;
- Raciocínio lento e fadiga;
- Irritabilidade e ansiedade.
Diagnóstico e tratamento do Burnout
"A Síndrome de Burnout é insidiosa. Ela vai se manifestando pouco a pouco, sem a pessoa se dar conta. Quando o diagnóstico chega, já estamos no auge da crise", destaca Ana Maria Teresa Benevides-Pereira, psicóloga e autora do livro "Burnout: Quando o Trabalho Ameaça o Bem-estar do Trabalhador". Se não cuidado, o transtorno pode causar úlceras, cardiopatias, diabetes, doenças autoimunes, crises de pânico e depressão ou levar ao alcoolismo, ao uso de drogas e até mesmo suicídio. Portanto, ao primeiro sinal de que algo está errado, procure ajuda psicológica ou psiquiátrica.
"O fundo do poço não se atinge de um dia para o outro. Se perceber que até mesmo as coisas prazerosas do dia a dia perderam o sentido e que ir ao trabalho se tornou um suplício, converse com um profissional", adverte Benevides.
Por meio de uma avaliação, o profissional irá analisar o histórico do paciente, sua relação com o trabalho e os sintomas percebidos. Comprovado o transtorno, é passado o tratamento. "A psicoterapia aliada à reeducação em relação à forma de trabalhar tem se mostrado a melhor forma de tratamento. Os medicamentos podem ser úteis para aliviar os sintomas, caso necessário", orienta a profissional. Ansiolíticos ou antidepressivos só devem ser usados com prescrição médica.
"Tive um branco total, não lembrava de nada"
Foi graças à ajuda de sua supervisora que a psicanalista e coach Denise Carpegiani conseguiu encarar a síndrome de Burnout de frente. A descoberta do transtorno aconteceu em 2016, depois de um dia intenso de trabalho em um de seus clientes, uma grande montadora internacional.
"Era terça-feira. Precisava realizar uma atividade na empresa e fazer um relatório sobre ela. Como tinha muitos compromissos naquela semana, deixei o relatório para sábado. Quando sentei em frente ao computador para escrever, não me lembrava de absolutamente nada, deu branco total. Foi uma sensação paralisante", conta Denise. Depoimentos como esse são comuns entre os portadores de Burnout.
Apoio do gestor é fundamental na recuperação
"Ficava extremamente ansiosa para ir ao trabalho, com a constante sensação de que não podia falhar. Sentia que estava perdendo o controle de tudo, enlouquecendo", lembra Denise. Com o apoio da chefe, a psicanalista conseguiu colocar o pé no freio e diminuir o ritmo sem comprometer o projeto. "Foi um processo difícil e tenho certeza de que jamais daria conta sozinha. As pessoas têm vergonha de procurar ajuda porque isso demonstra fragilidade, mas a verdade é que todo mundo tem problemas", afirma. Aqui, vale uma ressalva: entenda que nem todas as pessoas estão preparadas para ajudá-lo.
"Alguns colegas de profissão, amigos e familiares podem não ter a sensibilidade para entender a situação. Certifique-se de se apoiar em quem irá compreendê-lo", aconselha Benevides. Além do suporte no trabalho, Denise passou a fazer sessões de análise e aulas de pilates e se dedicar a hobbies, como ir à praia, cozinhar, ler e cuidar do jardim.
"Dediquei minha vida e minha carreira a cuidar das pessoas. Precisar ser cuidada assim, de repente, foi uma experiência muito forte e chocante. Ser psicanalista demanda uma doação imensa e acabei me esquecendo de olhar para mim mesma", analisa.
Quais profissões são mais suscetíveis?
A reflexão vai ao encontro de diversas pesquisas referentes ao assunto. De acordo com Natália Reis Morandi, psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo, a síndrome pode atingir qualquer tipo de profissional, porém aqueles que lidam diretamente com a vida alheia, como especialistas na área de saúde, advogados, professores, assistentes sociais, agentes penitenciários, bombeiros e policiais merecem atenção especial. "Profissionais que trabalham com metas de venda e precisam persuadir os clientes, mesmo sabendo que talvez não seja um bom negócio, também sofrem bastante", acrescenta Ana Maria Rossi.
A personalidade também é um ingrediente decisivo nessa receita. Pessoas excessivamente perfeccionistas, críticas, rígidas, impacientes, controladoras, competitivas e exigentes consigo mesmas e com os outros têm uma probabilidade maior de desenvolver o transtorno. "Duas pessoas vivendo em circunstâncias muito parecidas no trabalho podem reagir de forma totalmente diferente às adversidades", observa Ana Maria Rossi. Natália concorda: "A intensidade da doença varia de acordo com a carga que cada pessoa se impõe e tem muito a ver com cobranças individuais internas."
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Importância de ter momentos de prazer e de desconectar
Adotar um estilo de vida saudável, que inclua uma alimentação equilibrada (sem abuso de cafeína ou álcool), boas noites de sono e a prática de hobbies, de exercícios físicos e de atividades de relaxamento, como meditação e yoga, também ajuda, e muito. "Conviva com as pessoas que você ama, tenha um animal de estimação, mantenha o pensamento positivo e faça coisas para se divertir", indica Ana Maria Rossi.
Sempre que possível, desconecte-se das redes sociais e pare de checar a caixa de entrada de e-mails a todo instante. "Essa exigência de estar sempre disponível, 24 horas por dia, só vai nos adoecer cada vez mais. Só consegui vencer o problema quando aprendi a fazer uma coisa de cada vez e a aceitar que tem coisas que não vou ser capaz de resolver imediatamente", conta Denise.
A psicanalista acredita que o transtorno pode ser controlado, mas não curado. "Como se trata de uma doença do nosso tempo, ninguém pode garantir que você está 100% livre dela. De vez em quando, ainda tenho todas aquelas sensações, mas aí paro e me policio para não entrar no ciclo novamente. Não existe cura, existe administração do problema."
O que diz a lei?
De acordo com dados da Isma, 96% dos portadores da síndrome se sentem incapacitados, o que provoca absenteísmo, ou seja, a falta no trabalho, e presenteísmo, quando se está fisicamente no posto, mas com a mente distante. Pela Lei 8213-91, é permitido o requerimento de auxílio-doença previdenciário e estabilidade provisória no emprego, desde que constatado que a doença guarda conexão direta com a profissão.
Porém, Ana Maria Rossi alerta: a prática é bem diferente da teoria. "Infelizmente, é muito difícil comprovar vínculo direto entre o transtorno e o trabalho. A empresa sempre poderá justificar que o problema é externo, relacionado à vida pessoal do funcionário", critica.
A solução, por enquanto, é apresentar um laudo médico que justifique seu afastamento e torcer para que a empresa seja justa em sua decisão. Caso não se sinta amparada, talvez seja a hora de refletir se não vale a pena procurar um novo emprego.
"Seu trabalho é apenas um trabalho, você não pode depositar toda a sua vida nele", frisa Ana Maria Rossi. "Tenha outras fontes de felicidade e você verá que será mais fácil tomar qualquer decisão, mesmo que seja pedir demissão e buscar outra oportunidade."
A origem do termo Burnout
"Burnout" é uma palavra inglesa que se refere a algo que deixou de funcionar por exaustão de energia, tipo um curto-circuito. O termo "síndrome de Burnout" foi criado pelo psicólogo clínico germano-americano Herbert Freudenberger, em 1974, para descrever o adoecimento que observou em si mesmo e nos seus colegas de trabalho. Voluntário em uma clínica de tratamento de alcoólatras, ele começou a se sentir exausto pela cobrança excessiva e passou a fazer relatos escritos de sua experiência pessoal.
"Herbert foi o primeiro a observar a existência do problema, mas a primeira pesquisa desenvolvida sobre a síndrome foi em 1981, por Cristina Maslach", salienta Ana Maria Rossi. Em 1999, o Burnout foi definido pelo Ministério da Saúde como um transtorno mental e de comportamento, obrigatoriamente relacionado ao ambiente de trabalho. Ele está registrado no CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde), um dos manuais de diagnósticos da medicina.
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