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Solidão é um dos maiores medos e questões da velhice; como lidar, então?

Maria Thereza Leme tem 82 anos e é mais ativa do que muito jovem por aí - Amanda Rigamonti
Maria Thereza Leme tem 82 anos e é mais ativa do que muito jovem por aí Imagem: Amanda Rigamonti

Gabriela Ingrid

Do VivaBem

28/03/2018 04h00

Você fica mais velho, para de trabalhar, algumas quedas o deixam com medo de sair de casa, a família se afasta e você se encontra sozinho e isolado do mundo. Essa é a realidade de muitos idosos no mundo. Recentemente, o Reino Unido criou o Ministério da Solidão, para enfrentar o problema no país. No Japão, idosas estão indo parar na cadeia propositalmente por se sentirem sozinhas ou invisíveis em casa. E os problemas não estão tão longe de nós assim.

A partir da década de 2050, a população brasileira acima dos 60 anos será o dobro do contingente de crianças e adolescentes com menos de 14 anos, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No entanto, apesar de o país estar envelhecendo, os idosos estão cada vez mais solitários. Segundo um levantamento de 2017 da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, a solidão é o maior temor dos brasileiros na terceira idade.

De acordo com Salma Rose Imanari Ribeiz, médica psiquiatra e psicogeriatra, doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da USP, a culpa pode estar nas mudanças na configuração das famílias. “Antigamente, os lares eram habitados por diversas gerações: avós, filhos e netos. E sempre havia companhia para o idoso em casa. Atualmente, nas grandes cidades, é frequente os idosos morarem sozinhos e, mesmo quando moram na mesma residência, seus filhos e netos passam a maior parte do tempo fora de casa, estudando ou trabalhando.”

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A solidão pode causar efeitos graves na saúde

Além de elevar o nível dos hormônios do estresse e inflamações, a exclusão pode aumentar o risco de doenças cardíacas, artrite, diabetes tipo 2, demência e depressão. Por isso, é importante saber contornar o isolamento na terceira idade. “O problema é que as causas deste isolamento são múltiplas e vão desde uma dor para andar até problemas de comunicação, como a surdez. A questão é que as pessoas estão envelhecendo sem qualidade de vida”, diz Paulo Camiz, geriatra do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Envelhecer com qualidade de vida é essencial

Um levantamento realizado pelo instituto Qualibest em 2017 mostrou que, apesar de não praticarem atividades físicas ou manterem uma alimentação saudável, os brasileiros desejam envelhecer com saúde e pretendem viver até os 85 anos. Escolhas bastante contraditórias. Mais uma vez, o medo da solidão foi mencionado por 45% dos participantes. “Apesar do medo, as pessoas não estão se mexendo para envelhecer melhor. É preciso começar desde jovem a se prevenir”, alerta Camiz. Mas como?

Maria Thereza Leme, ou Tiê, como prefere ser chamada, tem 82 anos e é um exemplo de como chegar à terceira idade com a mente ativa. A paulistana aprendeu a mexer na internet e no smartphone com a família e, desde então, usa as redes sociais para se comunicar com os filhos (“que não vejo muito, mas estou sempre em contato”) e até para fazer curso. “Faço curso de filosofia pelo Skype, uso o Instagram com frequência e o Whatsapp, onde me comunico com todo mundo. TV é a última coisa que faço uso”, conta.

Tiê mantém a mente ativa com cursos online e bordados - Amanda Rigamonti - Amanda Rigamonti
Tiê mantém a mente ativa com cursos online e bordados
Imagem: Amanda Rigamonti

Tiê ainda dá aulas de francês em casa e faz bordados com sua cuidadora, que mora junto com ela desde 2014. À tarde, ainda se dedica a todo tipo de receitas: “Os filhos vêm buscar quando eu faço”, conta. A aposentada é uma entre os milhões de idosos que vivem na nova formulação familiar, explicada por Ribeiz, mas Tiê afirma que entende a família ter de trabalhar e cuidar de seus respectivos afazeres: “Eu respeito que cada um tem a sua vida. No domingo, não há uma obrigação de almoçarmos juntos, por exemplo. É tudo bem livre. Então, eu também não posso deixar de fazer as minhas coisas.”

De acordo com os especialistas, a família pode ajudar o idoso a se adaptar às mudanças que a vida traz e a encontrar novos papéis para ele desempenhar. Sentir-se útil e poder ajudar os outros pode ser o antídoto que traz de volta a autoestima e a segurança que a solidão aplacou. No caso de Tiê, ocupar a mente é a chave para manter-se viva.

Minha cabeça é superjovem. Eu nem acredito que tenho 82 anos. O negócio é viver sem ficar contando e prestar atenção no que acontece ao seu redor.

Thereza Leme, 82.

Como evitar a solidão na terceira idade

Alguns hábitos ajudam tanto na prevenção quanto no tratamento do problema. Veja o que sugerem os especialistas consultados pela reportagem:

1) Mantenha-se ativo fisicamente

Fazer exercícios traz inúmeros benefícios à saúde mental e física. Portanto, é importante se dedicar à prática de atividade física (aeróbica, de preferência três vezes por semana ou mais). Existem estudos com população de idosos em que a realização de atividade física reduziu a chance de o idoso desenvolver depressão. E não são necessários exercícios muito elaborados: incluir caminhadas na rotina já pode ser muito bom para a saúde física e mental. Fazer parte de um grupo que pratique exercícios é uma boa alternativa.

2) Mantenha-se ativo intelectualmente

A solidão tem uma relação com o Alzheimer. Um estudo publicado em 2017 no periódico International Journal of Geriatric Psychiatry mostrou que a solidão estava ligada à piora da função cognitiva ao longo de um período de 12 anos. Para manter o cérebro ativo e evitar esse declínio cognitivo, é importante aprender novas atividades. Que tal aprender a tocar um instrumento musical, uma nova língua, a costurar, um tipo de artesanato, fotografia, ou mesmo aprender a navegar na internet?

3) Medite

É importante destacar que não se trata de uma atividade religiosa, mas sim de uma prática com base científica. Muitos estudos mostraram que a prática regular da meditação pode alterar as estruturas cerebrais. É uma valiosa ferramenta que pode ajudar o indivíduo a aprender a lidar com a vida como ela é, trazendo mais qualidade de vida, resiliência e bem-estar.

4) Amplie sua rede social

Ter amigos estimula o idoso a sair de casa e a manter a mente ativa, não contando apenas com a presença da família. Fazer cursos, trabalhos voluntários e até organizar encontros semanais ou quinzenais com amigos e frequentar grupos de terceira idade ajudam.

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