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Autismo: entenda o que é e como identificar o transtorno

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Aline Tavares

Colaboração para o VivaBem

02/04/2018 04h00

Denominado Transtorno do Espectro Autista (TEA), o autismo é um distúrbio multifatorial, que engloba diferentes graus --leve, moderado e severo. De alta complexidade, a condição ainda gera muitos questionamentos, tanto entre os especialistas quanto em quem convive com autistas.

O neurologista Carlos Gadia, diretor associado do Nicklaus Children’s Hospital Miami, nos Estados Unidos, explica que TEA é um distúrbio do neurodesenvolvimento. Ele ocorre pois algumas áreas do cérebro não se formam corretamente, o que gera dificuldades de comunicação, de interação social e comportamentos repetitivos e estereotipados.

“O primeiro sinal percebido pelos pais de uma pessoa com autismo costuma ser o atraso na fala, por volta dos dois anos, quando a criança não está falando ou não fala tanto quanto o esperado”, destaca o médico.

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Os principais sinais

Os sinais de autismo, em geral, se manifestam nos primeiros meses de vida. No entanto, nesse momento, ainda é difícil percebê-los. Existem alguns sintomas mais sutis de interação social, como o bebê não olhar tanto para os olhos dos pais, ou continuar brincando e não olhar quando é chamado.

Quando a criança cresce mais um pouco, as principais características do TEA são a dificuldade de interagir socialmente; interesses restritos e estereotipados; movimentos repetitivos, conhecidos como estereotipias (balançar as mãos, bater os pés etc.); a tendência a evitar contato visual; a falta ou excesso de sensibilidade a estímulos sensoriais (como sons, luzes e dor) e a resistência a mudanças na rotina, mesmo que mínimas, na rotina.

É importante ressaltar que nem todas as pessoas com autismo vão apresentar as mesmas características, devido à amplitude do espectro e a particularidade de cada caso. Pessoas com um grau mais leve tendem a apresentar dificuldades de linguagem e interação, como compreender piadas ou expressões, mas em geral conseguem ter uma vida independente. Já em graus mais elevados, podem manifestar ausência de comunicação verbal e dependência para realização de atividades do dia a dia. 

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Como identificar e tratar

Por ser definido a partir de manifestações comportamentais, o transtorno não é facilmente diagnosticado. Como não existem exames laboratoriais específicos capazes de identificar o autismo, o laudo é baseado apenas em observações clínicas. 

De acordo com Letícia Amorim, psiquiatra da infância e adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, é necessário que os pais verifiquem como é a interação do filho com eles, com crianças da mesma idade e com outros adultos. “Pode-se observar como é o comportamento em festas infantis, no parquinho, na escola e, em caso de dúvida, procurar um especialista”, esclarece.

Uma vez diagnosticado, indica-se um acompanhamento multidisciplinar, que pode envolver profissionais como neurologistas, psicólogos, psiquiatras e fonoaudiólogos. Para um tratamento mais eficiente, é importante também estar atento às comorbidades, isso é, distúrbios que podem acompanhar o autismo: ansiedade, depressão, déficit de atenção e hiperatividade, entre outros. Segundo Letícia Amorim, quando algum sintoma causa prejuízo no dia a dia, o uso de medicação pode ser necessário

Por que o autismo ocorre

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O Transtorno do Espectro Autista é originado a partir de falhas genéticas, que consistem na presença de erros durante a formação dos genes. Na maioria dos casos, pessoas com autismo possuem vários erros em vários genes diferentes, o que explica a complexidade do distúrbio.

Gadia explica que esses genes estão localizados na fenda sináptica, ou seja, na conexão entre um neurônio e outro, sendo responsáveis por determinar como as células vão se comunicar. Dessa forma, o cérebro autista pode apresentar déficits de hipoconectividade, quando células de diferentes áreas do cérebro se comunicam menos do que em um cérebro neurotípico; ou de hiperconectividade, quando os neurônios se comunicam em excesso.

Para descobrir as causas genéticas, é necessária uma investigação aprofundada, uma vez que existem pelo menos 450 genes de predisposição ao autismo. Os exames mais frequentes são o CGH-Array (que identifica alterações cromossômicas), o Exoma e o Sequenciamento Completo do Genoma.

De acordo com Alysson Muotri, professor da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia (EUA) e pesquisador do Instituto Salk para Estudos Biológicos, o transtorno não possui apenas razões genéticas. “O autismo também pode se manifestar em decorrência de traumas durante o desenvolvimento do feto, que podem ser de origem física, imunológica ou devido a alguma reação a medicamento --por exemplo, antiepilépticos usados pela grávida”, explica.

TEA é mais comum em meninos

Estima-se que 70 milhões de pessoas no mundo tenham autismo, sendo 2 milhões delas no BrasilDe acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, atualmente uma a cada 68 crianças é diagnosticada com TEA. Já dados da Organização Mundial da Saúde indicam que uma a cada 160 crianças no mundo tem o transtorno.

O autismo é mais comum em pessoas do sexo masculino: a cada cinco crianças diagnosticadas, quatro são meninos. O motivo dessa diferença ainda é desconhecido pela ciência, embora existam algumas teorias sobre o assunto. Uma das hipóteses é: “Grande parte dos genes alterados no autismo se encontra no cromossomo X. Mulheres têm dois X, portanto, poderiam compensar mutações que ocorrem nesses genes. Já os homens, por possuírem apenas um cromossomo X, estariam mais vulneráveis”, conclui Muotri. 

:: SERVIÇO
Estas instituições oferecem avaliação diagnóstica e/ou atendimento gratuito para pessoas com autismo:

- Associação de Amigos do Autista (AMA) - Unidade Lavapés 
Rua do Lavapés, 1123 - Cambuci, São Paulo, SP - (11) 3376-4400

- Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) - Unidade Vila Clementino
Rua Loefgren, 2109 - Vila Clementino, São Paulo, SP - (11) 5080-7000

- Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP - Projeto PROTEA 
Rua Dr. Ovídio Pires de Campos, 875 - Cerqueira César, São Paulo, SP - (11) 2661-8045 autismousp@gmail.com

- Laboratório de Transtornos do Espectro do Autismo Mackenzie (TEA-Mack)
Rua Piauí, 181, 6º Andar - Higienópolis, São Paulo, SP - (11) 2114-8152

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