Testosterona aumenta energia e libido, mas tem sido usada sem necessidade
Receber um resultado de alta testosterona dá direito a homens de certa idade se gabarem, o que pode explicar, em parte, o sucesso dos suplementos do hormônio masculino. Porém, quando se está no nível médio de testosterona --elogiada por fornecer energia, libido e confiança--, isso de fato significa alguma coisa a seu respeito? Provavelmente não, afirmam especialistas.
O nível normal de testosterona em homens varia de 300 a 1000 nanogramas (ng) por decilitro (dl) de sangue. Ir de um número dentro do que é considerado normal para outro pode não causar muito impacto. "Não se vê grande melhora quando o homem está dentro da faixa normal", diz Shalender Bhasin, endocrinologista e professor de medicina da Faculdade de Medicina de Harvard. As maiores diferenças em termos de energia e desejo sexual acontecem quando os homens têm níveis abaixo do normal.
Veja também:
- Meu nível de testosterona está baixo. O que faço, Jairo?
- Estudo sugere que "dar um tempo" no Facebook reduz o estresse
- Indústria farmacêutica pretende vender anticoncepcional masculino?
Um estudo de 2015 publicado no periódico JAMA constatou que o impulso sexual melhorou entre homens que passaram de 230 ng, considerado baixo, para 500 ng, metade do nível máximo dentro da faixa considerada normal. Não houve diferença entre homens que se moveram de 300 ng/dl a 500 ng/dl (dois valores dentro do normal).
Nível ideal para uso de hormônio
A testosterona influencia o tamanho dos músculos. Quanto mais testosterona o homem ingere, maior o músculo --independentemente do nível inicial, um motivo para o hormônio ser popular entre fisiculturistas jovens.
Contudo, os suplementos de testosterona não parecem ajudar idosos frágeis a caminhar mais tempo ou a se levantar mais facilmente de cadeiras, objetivos típicos de médicos buscando ajudar pacientes mais velhos.
A partir dos 30 anos de idade, o nível de testosterona cai, em média, cerca de 1% ao ano. Em torno de 5% dos homens com idades entre 50 e 59 anos têm nível baixo de testosterona em conjunto com sintomas como perda de libido e preguiça, segundo pequenos estudos.
A FDA, agência norte-americana reguladora de alimentos e medicamentos, aprova testosterona em gel e injetável somente para homens com nível abaixo de 300 ng/dl, incluindo quem tem doenças que provocam queda do nível hormonal, como tumor na glândula pituitária ou lesão nos testículos. Esses homens realmente têm falta do hormônio, então voltar ao nível normal pode ajudar a restaurar o desejo sexual e a energia.
Em março, o periódico The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism publicou as diretrizes mais recentes da Sociedade de Endocrinologia, que concordam com as da FDA. O grupo afirmou que a terapia de testosterona somente deve ser dada a homens com nível comprovadamente baixo do hormônio e evitados nos que tiveram infarto ou acidente vascular há menos de seis meses, ou apresentam risco elevado de desenvolver câncer de próstata.
Nível flutua ao longo do dia e da idade
Os números da testosterona estão longe de ser uma ciência exata. Keith Hall, operador petroquímico de 48 anos de Baytown, Texas (EUA), procurou ajuda na Faculdade Baylor de Medicina porque estava cansado e perdera a libido. Seu nível inicial de testosterona era de 202 ng/dl, bem abaixo do normal. O urologista que o examinou, Alexander Pastuszak, ofereceu-lhe testosterona injetável, o que elevou seu nível para a faixa normal e o fez se sentir melhor.
Edward Blake, motorista de empilhadeira de 53 anos, de Houston, procurou o mesmo médico por motivos idênticos. Sua testosterona estava na casa dos 450 ng/dl, dentro do nível normal. "Estava me sentindo meio cansado e tal, mas após a terceira injeção, levanto coisas sem problemas", afirma Blake. Além de se sentir mais forte, sua libido melhorou.
Pastuszak diz receitar testosterona principalmente para homens na categoria baixa da FDA, mas que, às vezes, deixa homens com esses sintomas experimentarem. "No caso de homens da faixa intermediária que começam a usar, a maioria decide continuar", explica o médico, acrescentando que, em geral, os pacientes dizem se sentir melhor e com maior apetite sexual. Contudo, isso é o poder da sugestão ou do hormônio?
"Na verdade, nós não sabemos a resposta", declara Pastuszak, observando que existe muita coisa a ser descoberta. "Preciso aceitar quando dizem se sentir melhor, quer seja de verdade ou apenas efeito placebo."
Para complicar, o nível de testosterona flutua, chegando ao pico ao redor das 8h e diminuindo ao longo do dia. O índice costuma ser mais baixo ao redor das 20h, crescendo durante a noite. Os altos e baixos costumam ser maiores para homens na casa dos 40 anos na comparação com homens septuagenários; no caso de alguém com 40 anos, a testosterona pode ser 200 pontos mais elevada pela manhã do que à noite, contra uma diferença de 50 pontos para o segundo grupo etário.
Exercícios, alimentação e sono influenciam
E todo tipo de coisa pode influenciar o nível nas duas direções. Treinamento de resistência (musculação) aumenta o índice, bem como exercícios de alta intensidade. Até mesmo ver o time preferido jogando pode afetar os números, segundo estudo de 1998 que mensurou a testosterona entre torcedores de basquetebol antes e depois de uma partida; o hormônio caiu entre quem torcia para os derrotados. Mesmo assim, o nível geralmente volta ao normal em cerca de meia hora.
E da mesma forma que existem coisas que os homens podem fazer para aumentar o nível, existem atividades que reduzem a testosterona. Exercícios como treinar para uma maratona (42,195 km) ou ciclismo de longa distância podem baixar o índice, bem como o estresse. Segundo Bhasin, o tipo de treinamento enfrentado por unidades especiais das Forças Armadas --exercício pesado, falta de sono e de alimentos-- pode levar a testosterona desses homens a ser similar a de castrados --abaixo dos 50 ng/dl.
A obesidade faz a testosterona desabar --enquanto perder 10% da gordura corporal a aumenta em cem pontos. Cuidar dos filhos durante várias horas pode provocar queda no nível, segundo estudo publicado em Proceedings of the National Academy of Sciences. Gripe e outras viroses também podem provocar quedas, então, deve-se evitar exames até a plena recuperação.
Quanto ao álcool, algumas cervejas não farão diferença em curto prazo. Porém, lesão hepática por abuso crônico de álcool diminui a produção de testosterona.
Para complicar ainda mais, cada laboratório conta o hormônio de forma diferente: um homem pode obter 300 ng/dl na máquina de um fabricante e 400 ng/dl na de outro.
E quanto ao homem que chega ao resultado máximo de mil? O mero fato de descobrir o total pode fazê-lo se sentir muito bem, a ponto de aumentar a confiança e a libido. Entretanto, isso não significa que o efeito seja resultado de mudanças na sua química hormonal.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.