Dermatite atópica: coceira "sem fim" ataca pele e emocional das pessoas
Imagine sentir uma coceira intensa --que pode durar mais de dez horas --, ter a pele visivelmente irritada e pouco poder fazer para acabar com esse tormento? Essa é a realidade de pessoas que sofrem de dermatite atópica, doença de pele inflamatória, que acomete bebês, crianças e adultos.
A dermatite atópica é um dos tipos mais comuns de alergia cutânea. O problema é genético, crônico, não contagioso e apresenta pele seca, crostas e erupções que coçam, resultando em ferimentos, alterações na cor, vermelhidão ou inflamação na derme. As lesões podem aparecer em várias partes do corpo, sendo mais frequentes na cabeça, no rosto, no pescoço, nos cotovelos, nas mãos, nos joelhos, nos tornozelos e nos pés.
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Segundo a dermatologista Ana Mósca, responsável pelo Departamento de Dermatologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a principal característica da dermatite atópica é a falta de hidratação cutânea. A doença ainda pode vir acompanhada de asma ou rinite alérgica. Isso não quer dizer que quem a tem apresente esses outros casos e vice-versa. Porém, dentro desse contexto, elementos alérgenos --mofo, ácaros, animais -- são fatores de risco para desencadear a doença.
Além da coceira há o preconceito
Não bastasse o incômodo físico, o lado emocional também é bastante afetado, principalmente quando o preconceito toma conta da situação.
A analista de legislação Camila Batista, 27 anos, tem dermatite atópica desde que nasceu. A doença passou por várias partes de seu corpo, sendo hoje mais comum nas dobras e no buço. Na infância, ela se sentia diferente das outras crianças. “Minha mão sempre foi enrugada e já ouvi muitos comentários a respeito disso que me magoavam. Quando estamos em crise, qualquer gesto mínimo ou pergunta podem ofender. Olhares fixos já constrangem!", conta Camila.
A analista teve depressão por causa da dermatite e chegou a não querer sair de casa. "Meus familiares me diziam para ter paciência, mas paciência é o que a gente menos tem quando surge um problema na pele. Não há como não atingir sua autoestima! Mas hoje entendo que se você se fechar, não vai resolver nada, o ideal é aceitar e aprender a viver com isso."
Nem todo mundo tem vontade de aparecer
Ao contrário de Camila, que expôs seu problema para uma campanha de conscientização sobre a doença, tem muita gente que prefere manter em silêncio a dor desse sofrimento. É o caso de um homem de 41 anos que não fala sobre o assunto, mas permitiu o relato de sua esposa, desde que sua identidade não fosse revelada. Por isso, os chamaremos de José e Maria.
“Faz uns cinco anos que meu marido foi diagnosticado com a dermatite atópica na região dos pés, mãos e às vezes com sintomas no rosto. Seu maior problema está nos pés, que chegam a sangrar com as coceiras e ficar muitas vezes em carne viva, o que para ele é uma tormenta, já que trabalha em escritório e tem de usar sapato fechado em sua rotina profissional", afirma Maria.
"Quando a gente vai ao clube ou praia, ele se chateia um pouco, porque percebe que as pessoas sentem certa agonia ao vê-lo machucado. É visível seu incômodo. Ele não deixa de ter vida social, mas quando precisa ir para algum evento que tem que usar calçado fechado, prefere ficar em casa", diz a esposa.
Quando se estressa, o problema piora
Assim que tomou ciência da doença, José passou a se tratar com medicamentos diversos receitados por dermatologistas, como pomadas, remédios variados e muito corticoide. Inclusive, essa era a única coisa que minimizava as enormes feridas nos pés. Mas logo vieram as consequências desse remédio: ganhou peso e inchaço.
Ele até chegou a aderir a algumas "simpatias de vó", como passar chá e folhas nas feridas, mas tudo em vão! "Aliás, meu esposo é muito cético e nunca acreditou em nada que não fosse a medicina tradicional", conta Maria, que é psicóloga e acredita que o problema do marido tem um fundo emocional.
"O corpo fala quando a gente não consegue verbalizar. Percebi que em situações de estresse e também em época de alta temperatura ele piorava bastante. Suas mãos e pés ficavam bem judiados, mas ele sempre foi muito resistente a outros meios de tratamento. Até fez algumas sessões de terapia, porém desistiu."
Após procurar vários recursos para aliviar a dermatite, José conseguiu amenizar o problema com microfisioterapia. "Ele foi descrente no começo, mas teve uma melhora significativa. No entanto, até hoje acredita que a evolução ocorreu por conta das medicações. Porém, tenho certeza que o resultado foi decorrente dessa prática."
O que é a microfisioterapia
É uma técnica de terapia manual, que tem como finalidade identificar a causa de uma doença ou sintoma e estimular o organismo a se autorregular, eliminando traumas físicos, emocionais ou psicológicos por meio de micropalpitações na camada da pele. Esse trabalho só pode ser realizado por profissional de fisioterapia, segundo alerta a Associação Brasileira de Microfisioterapia.
Outras técnicas também são procuradas
Ainda no campo alternativo, há quem busque outras saídas para tentar controlar a dermatite atópica. A mãe do adolescente Pedro, de 14 anos, que também não quis se identificar, resolveu experimentar a ação terapêutica ortomolecular via derme.
O tratamento busca restabelecer o equilíbrio químico do organismo por meio de substâncias naturais, com uso de minerais e vitaminas. Segundo seu relato, desse procedimento surgiu o efeito esperado.
“Desde bebê, meu filho sempre teve muita alergia. Usava antialérgico e fazia inalação quase todos os dias. Ele tinha feridas que deixavam a pele em carne viva de tanto coçar. O tempo foi passando e nada o fazia melhorar. No ano passado, iniciamos a terapia ortomolecular e houve uma evolução muito positiva, a principal foi que não precisou mais de tanta inalação. Hoje, posso dizer que Pedro já teve uma melhora de uns 80%”, conta a mãe.
Enquanto as terapias alternativas e o tratamento convencional vão sendo o caminho de alívio para quem tem a condição, cientistas buscam novas formas para solucionar o problema, como a criação de remédios biológicos com célula de defesa humana alterada para inibir a ação de substâncias envolvidas no desenvolvimento da dermatite atópica.
“Por ser uma doença com grande impacto na qualidade de vida, é fundamental ter variedade de opções disponíveis, inclusive para atender pacientes cuja doença não é controlada pelas terapias atuais", afirma Suely Goldflus, líder da área terapêutica da Sanofi no Brasil.
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