Tipos de autismo: André tem a condição e fez pós; já Carol mal sai de casa

Por ser um espectro de grande dimensão e complexidade, é muito comum a disseminação de estereótipos e informações incorretas sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Há quem acredite, por exemplo, que todo autista possui uma inteligência acima da média; ou que todo autista tem um quadro de agressividade e precisa de ajuda para fazer tudo. Não é nada disso.
O comportamento e a independência da pessoa com TEA dependem de inúmeros fatores e mudam conforme o grau do transtorno, que atualmente é divido em leve, moderado e severo --até 2013 a classificação era Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett, Autismo Típico ou Autismo Atípico. A seguir, conheça a história de pessoas com diferentes níveis de autismo, para entender um pouco melhor suas características e como vivem.
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“Eu só funciono de um modo um pouco diferente”
“Comecei a pesquisar sobre a condição alguns anos atrás e percebi muitas características parecidas comigo, como a dificuldade na socialização, interesses restritos, dificuldade para dormir e hipersensibilidade auditiva”, explica Andressa.
Ela conta que na infância era considerada muito “mimada” e “difícil” de lidar, pois geralmente não aceitava quando atividades diferentes eram propostas e tinha dificuldade de se relacionar. Na adolescência, também se sentia diferente das outras meninas. Costumava ser mais retraída e não se importava com “coisas de adolescente”, como sair com os amigos e ir a shows.
O diagnóstico aconteceu no último mês de março, quando fez uma avaliação em um lugar indicado por outra autista, em Curitiba. A descoberta mudou sua vida. “Agora, consigo entender e explicar quais são minhas reais necessidades, dificuldades e potencialidades. Posso mostrar para as pessoas que funciono de modo um pouco diferente, e que essa também é a minha forma de ser, que o autismo faz parte de quem eu sou”.
"Pensava que eu era mau por não conseguir me relacionar”
O principal sinal que o auxiliar administrativo percebeu foi a dificuldade de se relacionar com as pessoas. “Queria falar sobre algo, mas não conseguia ouvir os assuntos dos outros. O autista não tem essa característica automática de sentir o que o outro sente”, explica. Ele destaca que falta muita informação sobre o transtorno e o diagnóstico da condição não é fácil, principalmente porque os autistas não são todos iguais. “Chegaram a considerar que eu estava com depressão”, conta.
Uma vez diagnosticado, André diz que se livrou do peso de uma culpa. “Pensava que era uma pessoa muito má por não conseguir me relacionar. Depois, fui compreendendo que é uma limitação, e posso dizer que desenvolvi muitas coisas. Criei o palhaço Xiririca e fiz apresentações em diversas escolas. Assim, transmitia alegria e, ao mesmo tempo, conseguia vencer a minha limitação”.
Hoje, André recebe acompanhamento de um psicoterapeuta toda semana. A descoberta do transtorno o incentivou a criar um canal no Youtube e a webrádio Xiririca, nos quais fala sobre as diversas temáticas que englobam o autismo.
“Precisamos nos unir para obter grandes conquistas”
Benício frequenta uma escola regular da rede pública e possui uma acompanhante, professora especializada em educação especial --direito do autista concedido por lei.
“Não é uma sentença de luto, é uma sentença de luta”
No período que antecedeu o diagnóstico, Caroline começou a fazer fisioterapia e desenvolveu bem a habilidade de andar, porém ainda apresentava outros sinais. “Ela era uma criança irritadíssima. Ficava muito aborrecida, gritava muito, se mordia, batia a cabeça.”
Caroline chegou a frequentar uma escola especial, onde havia crianças com outras deficiências. “Ela começou a imitar os comportamentos dos outros --por exemplo, andava arrastando a perna. Isso foi piorando sua situação”, revela a mãe.
Com um grau mais severo de autismo, Caroline precisa da ajuda de uma acompanhante para realizar atividades do dia a dia, como ir ao banheiro, tomar banho e trocar de roupa. A garota tem comorbidades como epilepsia, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), e necessita da administração de medicamentos. Também recebe acompanhamento psicológico e psiquiátrico. “A gente procura estimular dentro de casa. Às vezes, até o médico vem aqui, porque é muito complicado andar com ela na rua”, conta a mãe.
Graça administra uma página no Facebook, “O autismo em minha vida”, na qual compartilha suas experiências, para ajudar outras famílias de pessoas com TEA. “Digo para nunca desistir. Existe uma frase que fala que o autismo não é uma sentença de luto, é uma sentença de luta. Você luta dia a dia, minuto a minuto, para conseguir manter seu filho inserido na sociedade, equilibrado e feliz.”
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