Descoberta molécula que age na inflamação cardíaca no mal de Chagas
Pesquisadores do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (Crid) e da USP identificaram uma molécula, a fosfatidilinositol 3-quinase (PI3K) gama, que tem papel importante no reconhecimento do Trypanosoma cruzi --protozoário que causa a doença de Chagas-- e também no recrutamento de células de defesa do organismo para combatê-lo. O artigo foi publicado no periódico científico Nature Communications.
A doença de Chagas atinge aproximadamente 7 milhões de pessoas na América Latina. É caracterizada por uma fase aguda, que desaparece dentro de poucas semanas após a infecção, e uma fase crônica, que acompanha o paciente até o fim da vida. Nela, embora a maioria das pessoas permaneça sem sintomas, 30% podem desenvolver miocardite, uma inflamação no coração que leva a quadros de insuficiência cardíaca, arritmia e morte súbita.
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João Santana da Silva, pesquisador principal do Crid e docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, contou ao Jornal da USP que a PI3K gama precede a regulação final de várias citocinas relacionadas a uma maior ou menor resistência à infecção. A descoberta foi feita em um estudo realizado com ratos e em amostras de tecido cardíaco de pessoas com a doença de Chagas.
"A PI3K gama é uma molécula que regula a miocardite. Quando o animal está infectado, ele induz a expressão de PI3K gama e depois de moléculas quinase, que vão conferir maior ou menor quantidade de citocinas, as quais respondem ao parasita. Dependendo do nível de ativação, a pessoa pode ter mais ou menos parasitas no organismo", explica.
O grupo liderado por Silva identificou que pacientes que tinham uma quantidade reduzida de parasitas no coração apresentaram índices maiores de PI3K gama, o que comprova a relação entre ambos. Quanto maior o número de protozoários no órgão, maior o risco de desenvolver miocardite.
"A identificação de aspectos moleculares semelhantes entre a infecção por T. cruzi em animais e a doença humana é crucial, pois mostra características do mecanismo da doença compartilhadas entre o modelo animal e a doença humana", ressaltou Edecio Cunha-Neto, coautor do trabalho e professor da Faculdade de Medicina da USP. "Ainda não existem medicamentos capazes de ativá-la, mas agora que conhecemos o mecanismo. Portanto, os químicos têm como desenhar uma molécula com esse objetivo."
Próximos passos
De acordo com Silva, o estudo terá continuidade para aprofundar o entendimento do mecanismo de regulação do PI3K gama. "Agora, estamos mostrando que existe uma molécula capaz de regular o PI3K gama e é possível modulá-la. Precisamos saber se o PI3K gama é dependente exclusivamente dessa molécula ou se há outras envolvidas. É um estudo complexo, razoavelmente demorado e exige estudantes bem treinados para trabalharmos", ressaltou.
Outro ponto que deve ser esclarecido, disse Silva, é o que permite que os índices de PI3K gama aumentem ou diminuam no organismo. "Quando o indivíduo é infectado, é normal que ela aumente e controle o parasita. Mas por que em alguns indivíduos ela aumenta menos e controla menos [o protozoário]? Talvez, isso dependa de processos anteriores que nós precisamos estudar. Fármacos que aumentem essa molécula podem trazer efeito no controle não só desse parasita como de outros. Esse é um processo muito específico, que é mostrado só no coração, mas podemos expandir para uma série de outras parasitoses”, afirmou. (Com Jornal da USP)
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