Estudo brasileiro associa obesidade a 14 tipos diferentes de câncer
Um estudo inédito feito no Brasil confirmou um dado alarmante: a obesidade, assim como o excesso de peso, estão associados ao aumento do risco de vários tipos de câncer, como o de mama na pós-menopausa e o de cólon e reto, além de útero, vesícula biliar, rim, fígado, ovário, próstata, mieloma múltiplo (células plasmáticas da medula óssea), esôfago, pâncreas, estômago e tireoide.
A pesquisa foi feita pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em parceria com a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e com a IARC (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), e publicada no periódico Cancer Epidemiology.
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Câncer em alta
De acordo com os achados, a maioria dos casos de câncer relacionados ao excesso de peso e obesidade que atingiram mulheres foram de mama (5 mil), colo do útero (2 mil) e cólon (700). Nos homens, a incidência maior foi o câncer de cólon (1 mil), de próstata (900) e fígado (650).
Os Estados brasileiros com maior número de pessoas com a doença associada ao excesso de peso foram São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Há uma estimativa de que, em 2012, cerca de 10 mil casos de câncer em mulheres e 5 mil em homens foram atribuídos ao excesso de peso e à obesidade.
Segundo projeções feitas pela IARC, devido ao envelhecimento populacional, existe uma previsão de que o número de novos casos de câncer passe de 430 mil (em 2012) para 640 mil em 2025.
Leandro Fórnias Machado de Rezende, um dos pesquisadores envolvidos no trabalho, explicou ao Jornal da USP que, ao fazer uso dessas informações, a estimativa é que "aproximadamente 29 mil novos casos de câncer que ocorrerão em 2025 (5% do total de casos) estarão associados ao excesso de peso e à obesidade."
Segundo Rezende, já se sabia que o excesso de peso e a obesidade vinham aumentando no Brasil. No entanto, a magnitude de casos de câncer relacionados a esse aumento se mostrou alarmante. O estudo aponta que, caso esse problema não seja enfrentado com a seriedade necessária, o excesso de peso será a principal causa de câncer no Brasil.
Como foi feita a pesquisa
Os dados sobre obesidade foram obtidos do censo demográfico feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), nos anos de 2002 e 2013, em todos os Estados brasileiros, e baseados pelo cálculo do IMC (índice de massa corporal). Em 2002, 40% da população se encontrava com excesso de peso ou com obesidade. Em 2013, este número subiu para aproximadamente 60%.
O IMC avalia o peso em relação à altura e é um dos indicadores usados pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para verificação do estado nutricional. O cálculo indica se a pessoa está ou não dentro do peso recomendado para uma vida saudável.
O excesso de peso e a obesidade se diferenciam de acordo com o grau de acumulação de gordura no corpo. A primeira condição acontece quando a pessoa está entre 10% e 20% acima do peso normal, ou seja, na tabela do IMC, ela pontua entre 25 e 30. Já a obesidade acontece quando o peso está superior a 20% do peso ideal, com IMC igual ou superior a 30.
Ações são necessárias
Na visão dos pesquisadores, alimentação saudável e vida ativa são fatores primordiais para combater a obesidade. No entanto, ressaltam a necessidade de haver intervenções e políticas públicas voltadas para a área e citam como exemplo a regulamentação da produção, da venda, do marketing e da rotulagem de alimentos ultraprocessados (macarrão e tempero instantâneos, batata frita pronta, suco de caixinha, refrigerantes, nuggets de aves e peixes, dentre outros).
Em relação à atividade física, Rezende afirma que é necessário investir em ações como construções de ciclovias, calçadas largas e parques de forma a estimular a população a se engajar em atividades físicas, substituindo, por exemplo, o transporte individual motorizado por deslocamentos a pé ou de bicicleta nos percursos de casa para o trabalho ou para a escola.
*Com Jornal da USP.
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