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Estamos sonhando menos; veja como isso impacta a saúde do cérebro

Estresse, medicamentos e até dispositivos eletrônicos são responsáveis pela falta dos sonhos - iStock
Estresse, medicamentos e até dispositivos eletrônicos são responsáveis pela falta dos sonhos Imagem: iStock

Chloé Pinheiro

Colaboração para o VivaBem

05/06/2018 04h00

Sonhos são importantes, é como um segundo intestino, diz especialista

Muito se fala sobre a atual epidemia de distúrbios do sono e seus efeitos na saúde. Mas a falta de sonhos também tem ganhado atenção da ciência. É que o sono REM, a etapa onde eles mais ocorrem, é super importante para a saúde do cérebro, e parece estar desaparecendo das noites da população.

“Observamos uma diminuição do sono REM, especialmente entre as pessoas que vivem em áreas urbanas”, explica Rubin Naiman, psicólogo professor da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos que conduziu uma das maiores investigações já feitas sobre o assunto, publicada no ano passado no periódico Annals of the New York Academy of Sciences.

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A principal justificativa para suspeitar que estamos sonhando menos, segundo Naiman, está no crescimento de hábitos que atrapalham o sono REM. Entram nessa lista o uso de uma série de medicamentos, como antidepressivos e hipertensivos, o abuso de álcool, o uso recreativo de maconha e o excesso de luz proveniente das telas dos dispositivos eletrônicos.

“Ou seja, estamos falando de dezenas de milhões de pessoas que se encaixam em alguma dessas descrições”, aponta Naiman. “Fora que o próprio fato de estarmos dormindo menos já significa que o sono REM está mais curto”, concorda Mônica Andersen, bióloga e pesquisadora do Instituto do Sono da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Sonhar é vital para a memória e para as emoções - iStock - iStock
Sonhar é vital para a memória e para as emoções
Imagem: iStock

O que é o sono REM?

REM é um acrônimo para o termo Rapid Eye Movement, ou movimento rápido dos olhos. Nesta fase, que idealmente dura uma hora e meia por noite, eles se mexem sem parar, o coração acelera, há mais aporte de sangue para o cérebro e os homens têm ereções. É o corpo vivendo um novo período, com um truque. “Os músculos, pelo contrário, relaxam para que a pessoa não exerça fisicamente o que está ocorrendo no sonho”, conta Andersen.

O período é a etapa final do descanso, ocorre até o momento de acordar. É por isso, aliás, que os despertadores são considerados pelos estudiosos do assunto inimigos dos sonhos. “Nossos maiores e mais profundos sonhos ocorrem pouco antes de acordar, então é como se, no cinema, alguém desligasse o filme nos últimos cinco minutos”, comenta Naiman.

A importância do sonho

Primeiro, o sonho é vital para a memória. “Na primeira fase do sono, que dura cerca de quatro horas, o cérebro organiza de maneira mais grosseira nossas memórias”, explica Andersen. Mas é durante o sonho que há um refinamento: o que é importante se consolida e o que é descartável é esquecido.

É por isso que as imagens do sonho costumam remeter a situações reais, embora elas não façam muito sentido. “Esse processo não é linear, então o cérebro pode projetar coisas do passado e misturá-las com fatos do presente”, continua. Há ainda uma importância emocional no ato.

Para demonstrar isso, Naiman compara os sonhos com o sistema digestivo.

Se hoje o intestino é considerado um segundo cérebro, podemos considerar o sono REM como um segundo intestino, pois ele digere nossas emoções” Rubin Naiman, psicólogo professor da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos

A lógica é que durante o dia absorvemos milhares de informações, algumas delas mais simples, como a água, e outras mais complexas e difíceis, como uma comida pesada, por exemplo. “Algo nos assusta, ficamos decepcionados, e os sonhos ajudam a processar essas experiências”, exemplifica. 

Tanto que, segundo o psicólogo, a falta do sono REM teria um efeito semelhante ao da diarreia e da constipação. “Ou essa vivência passa direto pelo cérebro e não aprendemos nada, não crescemos, ou acumulamos essas sensações negativas sem lidar adequadamente com elas”, completa.

A influência é tanta que o especialista sugere que a falta de sono REM pode ser uma possível causa subvalorizada para a depressão. “Diversos estudos mostram que uma coisa está ligada à outra”, argumenta.

Ficar um pouco na cama depois de acordar pode ajudar - iStock - iStock
Ficar um pouco na cama depois de acordar pode ajudar
Imagem: iStock

Dicas para sonhar melhor

A primeira é olhar os fatores externos que podem estar atrapalhando o sonho: estresse, consumo de substâncias lícitas e ilícitas, medicamentos, e, a partir daí, pensar em possíveis alternativas a eles, sempre com orientação médica, é claro.

Depois, há maneiras de estimular o fortalecimento do REM. “Ficar um pouco grogue depois de acordar, na cama, sem olhar nada, por exemplo, pode ajudar”, ensina Naiman. Nesse período, tente se lembrar do sonho, das imagens deles e deixar que elas fluam pela cabeça.

Valorizar esse rico e misterioso universo parece ser uma das chaves para que ele siga sendo projetado todas as noites no nosso cérebro. Vale anotar o que viu, conversar com as pessoas sobre o tema, enfim, estabelecer uma importância cultural para o sonho. Mas isso não quer dizer interpretá-los como uma mensagem sobre a vida real, vale dizer.

Sonhos têm significado?

Algumas correntes da psicanálise dizem que sim, mas, segundo Naiman, essa visão merece cautela. “É uma pena reduzir um universo tão expansivo como o dos sonhos a um mundo materialista e efêmero como o nosso”, opina. “Estudo isso há décadas e posso dizer que não entendemos os sonhos em sua complexidade”, explica.

O que se, sabe, com certeza, é que eles têm potencial para melhorar a saúde e o bem-estar. E, só por isso, já vale a pena começar a reparar mais nos seus.

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