Tirar amídala eleva risco de doenças respiratórias, alérgicas e infecciosas
Apesar de ser uma cirurgia pediátrica comum, retirar as amídalas ou adenoides para tratar amigdalite crônica ou infecções recorrentes da orelha média pode aumentar riscos de doenças respiratórias, alérgicas e infecciosas. A conclusão foi de um estudo que examinou, pela primeira vez, os efeitos a longo prazo das operações.
As adenoides e amígdalas são posicionados estrategicamente no nariz e na garganta, respectivamente, para atuar como uma primeira linha de defesa, ajudando a reconhecer patógenos transportados pelo ar, como bactérias e vírus, e dando início à resposta imunológica para eliminá-los do corpo.
A pesquisa, liderada por cientistas das universidades de Melbourne, Copenhague e Yale, analisou um conjunto de dados da Dinamarca de 1.189.061 crianças nascidas entre 1979 e 1999. Até os 10 anos de idade, cerca de 60 mil crianças retiraram as amígdalas e as adenoides. Os voluntários foram observados até completarem 30 anos.
A análise mostrou que a retirada das amídalas foi associada a um risco quase triplicado para doenças do trato respiratório superior, incluindo asma, gripe, pneumonia e distúrbio pulmonar obstrutivo crónico ou DPOC, o termo abrangente para doenças como bronquite crónica e enfisema. O risco absoluto (que leva em conta o quão comuns essas doenças são na comunidade) também foi substancialmente aumentado em 18,61%.
A retirada da adenoide está ligada a um risco duas vezes maior de DPOC, doenças do trato respiratório superior e conjuntivite. O risco absoluto também foi quase o dobro para as doenças do trato respiratório superior.
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Especialistas criticam estudo
A pesquisa sugere que os benefícios a curto prazo dessas cirurgias podem não continuar até os 30 anos de idade e que os riscos a longo prazo para a respiração anormal, sinusite e otite média foram significativamente maiores após a cirurgia. No entanto, a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial afirma que não é indicado confiar neste estudo.
“As informações relativas ao aumento de doenças alérgicas e infecciosas após remoção de amígdalas estão incompletas e são parciais, pois se baseiam em um estudo retrospectivo de análise de dados de prontuário geral de um único país (Dinamarca) com condições socioeconômicas privilegiadas, vários vieses e interpretação em populações gerais”, diz Vinicius Ribas Fonseca, presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica.
De acordo com Fonseca, as queixas respiratórias relacionadas à obstrução nasal e apneia obstrutiva do sono são as principais indicações destas cirurgias em crianças, o que interfere diretamente na qualidade de vida, crescimento crânio-facial, pôndero-estatural, produtividade escolar, memória, alterações cardiovasculares e hormonais.
“O estudo em questão não se propõe a fazer coleta de exames laboratoriais que demonstrem a causa destas patologias e sua relação com as cirurgias avaliadas, bem como também não foi feita uma avaliação sobre as complicações da não realização da cirurgia em um grupo controle de crianças com aumento da adenoide e amígdala. Também não foi feita uma análise de qualidade de vida das crianças operadas e não operadas”, diz.
Segundo o médico, a literatura dispõe de outros estudos e referências que abordam esse tema. "Uma revisão sistemática de 2016 apontou melhora na gravidade da asma após a realização da adenoamigdalectomia”, exemplifica ele. “Por fim, há vários estudos realizados no Brasil e no mundo sobre a melhora da qualidade de vida e das consequências das cirurgias de amigdalectomia e adenoidectomia.”
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