Doenças do coração, câncer e demência: os perigos da gordura abdominal
Se você não quiser fazer mais nada hoje para proteger sua saúde, considere pelo menos tirar uma medida honesta da sua cintura. Fique de pé, exale (sem encolher a barriga) e com uma fita métrica meça sua circunferência de 2,5 a cinco centímetros acima dos ossos do quadril.
O resultado tem implicações muito maiores do que qualquer preocupação que você possa ter a respeito de sua aparência e do caimento de suas roupas. Em geral, se sua cintura mede mais de 89 centímetros para mulheres e um metro para os homens, existem chances de você estar cultivando uma quantidade potencialmente perigosa de gordura abdominal.
A gordura subcutânea que se esconde sob a pele das coxas, nádegas ou parte superior dos braços pode ser um problema estético, mas é inofensiva. No entanto, a gordura mais profunda da barriga --a gordura visceral que se acumula em volta dos órgãos abdominais-- é ativa metabolicamente e tem sido fortemente ligada a uma série de riscos de problemas graves, incluindo doenças do coração, câncer e demência.
Veja também:
- Nível de gordura corporal elevada aumenta o risco de câncer de mama
- Epidemia de obesidade é resultado de alteração do padrão alimentar
- Estudo brasileiro associa obesidade a 14 tipos diferentes de câncer
A pessoa não precisa estar acima do peso ou obesa para correr esse risco se tiver excesso de gordura no abdômen. Mesmo aqueles com peso normal podem acumular quantidades perigosas de gordura sob a parede abdominal. Além disso, esse não é o tipo de gordura possível de se livrar apenas tonificando os músculos com exercícios abdominais. Perda de peso por meio de uma dieta saudável e exercícios --atividades como caminhar e musculação-- é a única maneira infalível de se livrar dela.
Até a meia-idade, os homens geralmente possuem uma porcentagem maior de gordura visceral do que as mulheres, mas o padrão geralmente se inverte quando elas passam pela menopausa. Poucas parecem escapar do aumento da cintura na meia-idade porque a gordura do corpo se redistribui, e a gordura visceral termina em nossas barrigas. Hoje, em minha oitava década de vida, peso menos do que quando tinha 13 anos, mas minha cintura é muitos centímetros maior.
Gordura e doenças do coração
E as células de gordura visceral são muito importantes para nosso bem-estar. Ao contrário das células de gordura subcutânea, a gordura visceral é essencialmente um órgão endócrino que secreta hormônios e uma série de outras substâncias químicas ligadas a doenças que em geral afligem os adultos mais velhos. Em uma pesquisa de 16 anos feita com enfermeiras, os pesquisadores descobriram que uma dessas substâncias, a chamada proteína transportadora de retinol 4 (RBP4), aumenta o risco de desenvolvimento de doenças coronárias. Esse perigo provavelmente resulta dos efeitos prejudiciais dessa proteína sobre a resistência à insulina, a precursora do diabetes tipo 2, e do desenvolvimento da síndrome metabólica, um complexo de fatores de risco para o coração.
O Estudo de Um Milhão de Mulheres, realizado no Reino Unido, demonstrou uma ligação direta entre o desenvolvimento de doenças do coração e um aumento da circunferência da cintura ao longo de um período de 20 anos. Mesmo quando outros fatores de risco coronários foram levados em conta, as chances de se desenvolver doenças do coração eram o dobro entre as mulheres com as cinturas mais largas. Cada 2,5 centímetros a mais no tamanho da cintura aumentava seu risco em 10%.
A ligação com o câncer
O risco de câncer também aumenta com o acúmulo de gordura na cintura. As chances de ter câncer colorretal quase dobraram entre as mulheres na pós-menopausa que acumularam gordura visceral, segundo uma pesquisa coreana. Os riscos de câncer de mama também cresceram. Em um estudo com mais de três mil mulheres na pré e na pós-menopausa em Mumbai, na Índia, as que tinham a cintura e o quadril mais ou menos do mesmo tamanho possuíam de três a quatro vezes mais riscos de ter um diagnóstico de câncer de mama do que as com peso normal.
Um estudo holandês publicado no ano passado ligou tanto o total de gordura corporal quanto a abdominal a um risco maior de câncer de mama. Quando as mulheres do estudo perderam peso --cerca de 5,5 quilos em média-- as mudanças nos biomarcadores para câncer de mama, como o estrogênio, a leptina e as proteínas inflamatórias, indicaram uma redução desse risco.
O cérebro também é impactado
Talvez o mais importante no que diz respeito ao custo para os indivíduos, as famílias e o sistema de saúde seja a ligação entre a obesidade abdominal e o risco de desenvolver demência décadas depois. Um estudo com 6.583 membros da Kaiser Permanente do norte da Califórnia, acompanhados por uma média de 36 anos, descobriu que aqueles com maior obesidade abdominal na meia-idade eram quase três vezes mais propensos a desenvolver demência três décadas depois do que os com menos gordura na cintura.
Ter um abdômen maior aumentou o risco de demência nas mulheres mesmo que elas sempre tenham tido peso normal e não apresentassem outros riscos para a saúde relacionados com demência, como doenças cardíacas, acidentes vasculares e diabetes.
Entre outros problemas médicos ligados à gordura abdominal estão a resistência à insulina e o risco de diabetes tipo 2, comprometimento da função pulmonar e enxaqueca. Até mesmo o risco de asma aumenta com o excesso de peso e especialmente com a obesidade abdominal, segundo um estudo com 88 mil professores da Califórnia.
No geral, de acordo com as descobertas de um estudo com mais de 350 mil europeus de ambos os sexos publicado no The New England Journal of Medicine, ter uma cintura maior pode quase dobrar o risco de morrer prematuramente mesmo se o peso da pessoa for normal.
Mas como se livrar da gordura abdominal?
Todas essas informações geram uma questão: qual é a melhor maneira de se livrar da gordura abdominal e, mais importante ainda, como evitar seu acumulo na cintura?
É bem provável que você já tenha visto os anúncios na internet para maneiras aparentemente mágicas de reduzir a gordura abdominal. Antes de jogar fora seu dinheiro, sabia que não existe nenhuma pílula ou porção cientificamente conhecida para dissolvê-la. Você precisa trabalhar para obter resultados. E isso significa evitar ou limitar drasticamente certas substâncias em sua dieta, controlar a ingestão calórica geral e fazer exercícios que queimem calorias.
Talvez o pior agressor seja o açúcar --em todas as suas formas, especialmente a frutose, que constitui metade da sacarose e 55% do xarope de milho. Uma das melhores maneiras de diminuir a ingestão de açúcares é parar de tomar refrigerantes e outras bebidas adoçadas, entre elas os sucos de fruta. Limitar a ingestão de álcool, que pode suprimir a queima de gordura e somar calorias nutricionalmente vazias. Evitar os carboidratos refinados como pão e arroz brancos também ajuda.
Certifique-se de que sua dieta contém quantidades adequadas de proteína e fibras incluindo nela vegetais, feijões, ervilhas e grãos integrais.
Durma o suficiente --pelo menos sete horas por noite. Em um estudo de 68 mil mulheres acompanhadas por 16 anos, aquelas que dormiam menos de cinco horas eram um terço mais propensas a ganhar cerca de 15 quilos.
Por fim, mova-se mais. Um grande estudo nacional mostrou que a falta de atividade estava mais ligada ao ganho de peso e à obesidade abdominal do que a ingestão de calorias.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.